São Paulo, Quarta-feira, 17 de Novembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMÉRCIO MUNDIAL
Conferência começa dia 30; agricultura, têxteis, concorrência e trabalhismo geram polêmica
Rodada do Milênio não desata 4 nós

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

A exatas duas semanas do início da 3ª Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), tudo o que os delegados dos 134 países-membros conseguiram foram avanços metodológicos, incapazes, no entanto, de desfazer os nós que persistem sobre o comércio mundial.
A Conferência Ministerial é o organismo supremo da OMC, a entidade que regula o comércio internacional, e a reunião que começa dia 30 deste mês, em Seattle (Estados Unidos), destina-se, em tese, a convocar a chamada Rodada do Milênio, um novo e abrangente ciclo de negociações comerciais.
O texto mais recente posto em circulação em Genebra, sede da OMC, é mais conciso do que o anterior e mais organizado. Define objetivos gerais da conferência de Seattle (e, por extensão, da Rodada do Milênio), bem como o escopo das negociações.
Mesmo assim, está carregado de parêntesis, o método que os diplomatas utilizam para demonstrar desacordo em relação a algum tema.
Nem o fato de o texto ser preliminar e muito aberto impede que possa vir a ser descartado, em busca de outro mais do agrado dos participantes.

Agricultura
No caso da agricultura, que continua sendo o grande nó, o texto fala em redução "substancial" dos subsídios concedidos aos agricultores, em especial pelos países da UE (União Européia).
Mas os europeus já introduziram um parêntese, indicando que, em vez de "substancial", querem redução "gradual" dos incentivos.
O Brasil tem como prioridade absoluta nas próximas negociações comerciais derrubar o formidável muro de proteção que os países desenvolvidos ergueram em torno de sua agricultura.
O mais recente cálculo indica que os 29 países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, em tese os mais ricos do planeta) irrigam sua agricultura com portentosos US$ 585 bilhões (o que dá quase o valor de tudo o que o Brasil produziu neste ano em bens e serviços, o seu PIB, Produto Interno Bruto).
Esses incentivos impedem que o Brasil exporte determinados produtos para países da UE. Resultado: isso contribui para aumentar o saldo negativo da balança comercial brasileira.

Outros problemas
Mas a agricultura não é o único nó. Há outras três dificuldades de grande peso, a saber:
1 - Implementação. Os países em desenvolvimento queixam-se fortemente de que os países ricos não implementaram acordos de rodadas anteriores em áreas que são vitais para os mais pobres. É o caso, por exemplo, da indústria têxtil.
2 - Temas novos. É a discussão sobre vinculação entre comércio e investimentos e comércio e políticas de concorrência (para evitar monopólios e/ou oligopólios).
Os europeus insistem na introdução de ambos os temas na agenda, ao passo que os Estados Unidos são contra. Não estariam maduros para discussão agora, dizem os os representantes dos Estados Unidos.
3 - Padrões trabalhistas - É a violentíssima pressão norte-americana para vincular comércio e o respeito a padrões trabalhistas básicos.
O argumento é o de que países que não respeitam regras trabalhistas fundamentais têm vantagem competitiva na hora de exportar porque seus produtos ficam mais baratos.

Trabalhismo
A proposta norte-americana é a criação, durante a conferência de Seattle, de um grupo de trabalho sobre comércio e regras trabalhistas.
Os países em desenvolvimento, Brasil inclusive, são contra. Alegam que a proposta não passa de "protecionismo disfarçado", como diz, frequentemente, o chanceler brasileiro, Luiz Felipe Lampreia.
Com tantos nós a desatar, é natural que o embaixador brasileiro em Genebra, Celso Amorim, diga: "Estou inquieto. Eu e toda a torcida do Flamengo, menos os que não querem a nova rodada".


Texto Anterior: Mercado financeiro: Decisão do Fed "paralisa" Bolsa e câmbio
Próximo Texto: Brasil deve exportar mais para chineses
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.