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Brasil deve exportar mais para chineses
do Conselho Editorial
A perspectiva de entrada da
China na OMC (Organização
Mundial do Comércio) foi festejada no Itamaraty como uma boa
oportunidade para aumentar as
exportações para o que é, teoricamente, o maior mercado do mundo (1,25 bilhão de habitantes).
Fácil de explicar: de um lado, as
negociações com os chineses se
tornarão bem mais previsíveis,
porque o país passará a obedecer
às normas internacionais válidas
para os 134 membros da OMC. De
outro, os chineses abriram para
os Estados Unidos tarifas "até
mais baixas do que o Brasil estava
solicitando", adianta Paulo Mesquita, do Departamento Comercial do Itamaraty.
O Brasil propusera à China um
pacote de vendas que incluía,
principalmente, produtos primários (farelo e óleo de soja, suco de
laranja, açúcar e café solúvel),
mas previa também produtos industrializados (partes de caminhões e de máquinas).
Pelas regras da OMC, nenhum
país-membro pode dar vantagem
a outro que não seja automaticamente estendida a todos os demais (é a chamada cláusula de
"nação mais favorecida").
Logo, o Brasil terá direito a vender aos chineses produtos com as
tarifas de importação que forem
concedidas aos EUA, tão logo se
complete o longo processo de
adesão da China à OMC.
O Itamaraty está olhando o
mercado chinês apenas pelo lado
do que pode importar do Brasil,
não por um eventual aumento
das exportações chinesas.
Até setembro, o Brasil vendeu
cerca de US$ 500 milhões aos chineses, o que faz prever que o total
do ano de 1999 ficará abaixo dos
US$ 900 milhões do ano anterior,
já inferior aos quase US$ 2 bilhões
a que chegaram as vendas brasileiras em outros momentos.
As exportações estão concentradas em produtos primários
(ferro, complexo soja, madeira e
papel), ao passo que as importações são muito diversificadas, a
ponto de 50% da pauta estar distribuída por 80 produtos.
Mas o Itamaraty também faz
avaliações políticas sobre o ingresso da China na OMC. O cálculo preliminar é o de que muda a
correlação de forças no organismo internacional. Até agora, a
OMC tem sido um clube em que
predominam as posições de Estados Unidos e União Européia.
Com a entrada da China, um
novo jogador poderoso e politicamente diferenciado entra em
ação. O Itamaraty ainda não tem
claro se os chineses entrarão jogando pesado, em favor de teses
mais protecionistas, que têm sido
características do país, ou se aderirão à hegemonia liberalizante.
Há, por fim, um fator de eventual turbulência a médio ou longo
prazo, que é a perspectiva de desvalorização do iuan, a moeda chinesa, apontada pelo Grupo G-7,
consultoria norte-americana comandada por ex-altos funcionários da Casa Branca em sucessivas
administrações.
No relatório de ontem, o Grupo
G-7 diz que, "se mercados abertos
resultarem em significativo desemprego, deixar o iuan flutuar
pode parecer bom para Pequim.
Forneceria um instrumento para
aumentar a competitividade das
empresas estatais que ficarão, pela primeira vez, expostas a pressões econômicas reais".
A especulação sobre a desvalorização do iuan corre solta há dois
anos, desde que um punhado de
moedas asiáticas desabou no
meio da turbulência de 1997.
Não aconteceu até agora nem
parece ser iminente. O risco é o de
que uma desvalorização chinesa
seja seguida por outros países
asiáticos, para não perderem
competitividade, o que reiniciaria
ao menos parte do ciclo da crise
de 1997.
(CR)
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