São Paulo, Quarta-feira, 17 de Novembro de 1999
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Brasil deve exportar mais para chineses

do Conselho Editorial

A perspectiva de entrada da China na OMC (Organização Mundial do Comércio) foi festejada no Itamaraty como uma boa oportunidade para aumentar as exportações para o que é, teoricamente, o maior mercado do mundo (1,25 bilhão de habitantes).
Fácil de explicar: de um lado, as negociações com os chineses se tornarão bem mais previsíveis, porque o país passará a obedecer às normas internacionais válidas para os 134 membros da OMC. De outro, os chineses abriram para os Estados Unidos tarifas "até mais baixas do que o Brasil estava solicitando", adianta Paulo Mesquita, do Departamento Comercial do Itamaraty.
O Brasil propusera à China um pacote de vendas que incluía, principalmente, produtos primários (farelo e óleo de soja, suco de laranja, açúcar e café solúvel), mas previa também produtos industrializados (partes de caminhões e de máquinas).
Pelas regras da OMC, nenhum país-membro pode dar vantagem a outro que não seja automaticamente estendida a todos os demais (é a chamada cláusula de "nação mais favorecida").
Logo, o Brasil terá direito a vender aos chineses produtos com as tarifas de importação que forem concedidas aos EUA, tão logo se complete o longo processo de adesão da China à OMC.
O Itamaraty está olhando o mercado chinês apenas pelo lado do que pode importar do Brasil, não por um eventual aumento das exportações chinesas.
Até setembro, o Brasil vendeu cerca de US$ 500 milhões aos chineses, o que faz prever que o total do ano de 1999 ficará abaixo dos US$ 900 milhões do ano anterior, já inferior aos quase US$ 2 bilhões a que chegaram as vendas brasileiras em outros momentos.
As exportações estão concentradas em produtos primários (ferro, complexo soja, madeira e papel), ao passo que as importações são muito diversificadas, a ponto de 50% da pauta estar distribuída por 80 produtos.
Mas o Itamaraty também faz avaliações políticas sobre o ingresso da China na OMC. O cálculo preliminar é o de que muda a correlação de forças no organismo internacional. Até agora, a OMC tem sido um clube em que predominam as posições de Estados Unidos e União Européia.
Com a entrada da China, um novo jogador poderoso e politicamente diferenciado entra em ação. O Itamaraty ainda não tem claro se os chineses entrarão jogando pesado, em favor de teses mais protecionistas, que têm sido características do país, ou se aderirão à hegemonia liberalizante.
Há, por fim, um fator de eventual turbulência a médio ou longo prazo, que é a perspectiva de desvalorização do iuan, a moeda chinesa, apontada pelo Grupo G-7, consultoria norte-americana comandada por ex-altos funcionários da Casa Branca em sucessivas administrações.
No relatório de ontem, o Grupo G-7 diz que, "se mercados abertos resultarem em significativo desemprego, deixar o iuan flutuar pode parecer bom para Pequim. Forneceria um instrumento para aumentar a competitividade das empresas estatais que ficarão, pela primeira vez, expostas a pressões econômicas reais".
A especulação sobre a desvalorização do iuan corre solta há dois anos, desde que um punhado de moedas asiáticas desabou no meio da turbulência de 1997.
Não aconteceu até agora nem parece ser iminente. O risco é o de que uma desvalorização chinesa seja seguida por outros países asiáticos, para não perderem competitividade, o que reiniciaria ao menos parte do ciclo da crise de 1997. (CR)


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