São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2000

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Salários sofrem mais em setores voltados à exportação

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O colunista Clóvis Rossi lamentou, na Folha da última sexta, as dificuldades do Mercosul. E citou estudos feitos nos EUA, segundo os quais os empregos em empresas voltadas para a exportação são os de melhor qualidade e, portanto, os de melhor remuneração.
No Brasil, a situação é outra. Há uma literatura crescente sobre os efeitos da liberalização comercial no mercado. Os resultados não são animadores.
Um estudo nessa linha foi apresentado na semana passada no encontro anual da Anpec (Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia), em Campinas, pelos economistas Jorge Saba Arbache e Carlos Henrique Corseuil. O texto pode ser lido no site: www.anpec.org.br.
Eles analisaram dados da indústria brasileira entre 87 e 98, atentos a dois aspectos: penetração de importação e intensidade de exportação. O ponto de partida é um modelo teórico (conhecido como o "teorema de Stolper e Samuelson") que é usado na refutação do protecionismo.
Segundo esse teorema, quando um país pobre ou em desenvolvimento adota uma política protecionista, a distribuição de renda favorece o capital, em detrimento do trabalho. Corolário: a liberalização comercial melhora a distribuição de renda.
No Brasil, entre 87 e 98 a indústria perdeu 573 mil postos de trabalho (mais de 7% do total do emprego no setor). Nesse período, as tarifas tiveram queda, as importações cresceram e as exportações ficaram estáveis.
O estudo mostra que a penetração das importações tem um efeito mais significativo sobre o emprego, enquanto a intensidade das exportações está associado a variações nos salários.
Um aumento de 1% no coeficiente de penetração de importações reduz em 0,08% a participação do emprego na indústria. Um aumento de 1% no coeficiente de intensidade de exportações tende a diminuir em quase 0,6% o prêmio salarial.
O emprego cai com a alta das importações: o consumidor transfere renda e cria vagas no exterior. No caso dos exportadores, o esforço para ganhar mercados está associado a ganhos de competitividade que ocorrem, ao menos parcialmente, por meio de cortes salariais.
Os exportadores respondem à demanda externa aumentando a competitividade, não o emprego. Os pesquisadores citam resultados análogos obtidos para os países da OCDE.
O estudo investiga ainda os efeitos da liberalização em termos de qualificação da mão-de-obra. Constatam que o aumento das importações afetou mais o emprego das indústrias que empregam trabalhadores menos qualificados. E que a liberalização reduziu os salários nas indústrias mais voltadas às exportações.
Para os autores, esses resultados sugerem que "as indústrias que agora enfrentam maior competição no mercado doméstico eram pouco eficientes, talvez devido à proteção, e agora procuram modernizar-se rapidamente, tendo inclusive que repartir a alta de produtividade com seus trabalhadores".
Já no caso das indústrias voltadas à exportação, os salários foram afetados pela maior competição no mercado globalizado.
Arbache e Corseuil concluem que "o mercado de trabalho brasileiro é flexível e foi sensível às mudanças induzidas pela liberalização". São conclusões que estimulam uma avaliação cuidadosa dos efeitos da liberalização, principalmente em vista de alguns economistas que consideram o sindicalismo e a legislação trabalhista como os principais obstáculos ao aumento da competitividade brasileira.



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