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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Salários sofrem mais em setores voltados à exportação
GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O colunista Clóvis Rossi lamentou, na Folha da
última sexta, as dificuldades do
Mercosul. E citou estudos feitos
nos EUA, segundo os quais os
empregos em empresas voltadas para a exportação são os de
melhor qualidade e, portanto, os
de melhor remuneração.
No Brasil, a situação é outra.
Há uma literatura crescente sobre os efeitos da liberalização
comercial no mercado. Os resultados não são animadores.
Um estudo nessa linha foi
apresentado na semana passada
no encontro anual da Anpec
(Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia), em Campinas, pelos
economistas Jorge Saba Arbache e Carlos Henrique Corseuil.
O texto pode ser lido no site:
www.anpec.org.br.
Eles analisaram dados da indústria brasileira entre 87 e 98,
atentos a dois aspectos: penetração de importação e intensidade
de exportação. O ponto de partida é um modelo teórico (conhecido como o "teorema de Stolper e Samuelson") que é usado
na refutação do protecionismo.
Segundo esse teorema, quando um país pobre ou em desenvolvimento adota uma política
protecionista, a distribuição de
renda favorece o capital, em detrimento do trabalho. Corolário:
a liberalização comercial melhora a distribuição de renda.
No Brasil, entre 87 e 98 a indústria perdeu 573 mil postos de
trabalho (mais de 7% do total do
emprego no setor). Nesse período, as tarifas tiveram queda, as
importações cresceram e as exportações ficaram estáveis.
O estudo mostra que a penetração das importações tem um
efeito mais significativo sobre o
emprego, enquanto a intensidade das exportações está associado a variações nos salários.
Um aumento de 1% no coeficiente de penetração de importações reduz em 0,08% a participação do emprego na indústria.
Um aumento de 1% no coeficiente de intensidade de exportações tende a diminuir em quase 0,6% o prêmio salarial.
O emprego cai com a alta das
importações: o consumidor
transfere renda e cria vagas no
exterior. No caso dos exportadores, o esforço para ganhar
mercados está associado a ganhos de competitividade que
ocorrem, ao menos parcialmente, por meio de cortes salariais.
Os exportadores respondem à
demanda externa aumentando
a competitividade, não o emprego. Os pesquisadores citam resultados análogos obtidos para
os países da OCDE.
O estudo investiga ainda os
efeitos da liberalização em termos de qualificação da mão-de-obra. Constatam que o aumento
das importações afetou mais o
emprego das indústrias que empregam trabalhadores menos
qualificados. E que a liberalização reduziu os salários nas indústrias mais voltadas às exportações.
Para os autores, esses resultados sugerem que "as indústrias
que agora enfrentam maior
competição no mercado doméstico eram pouco eficientes, talvez devido à proteção, e agora
procuram modernizar-se rapidamente, tendo inclusive que
repartir a alta de produtividade
com seus trabalhadores".
Já no caso das indústrias voltadas à exportação, os salários foram afetados pela maior competição no mercado globalizado.
Arbache e Corseuil concluem
que "o mercado de trabalho brasileiro é flexível e foi sensível às
mudanças induzidas pela liberalização". São conclusões que estimulam uma avaliação cuidadosa dos efeitos da liberalização,
principalmente em vista de alguns economistas que consideram o sindicalismo e a legislação
trabalhista como os principais
obstáculos ao aumento da competitividade brasileira.
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