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Por ora, liberais ficam frustrados
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A vitória dos pragmáticos frustrou momentaneamente as pretensões dos liberais. Há cerca de
dois meses, o presidente do BC,
Armínio Fraga, pregou uma
aproximação das tarifas de importação do Mercosul (de 14%,
em média) às vigentes no Chile
(média de 9%).
O raciocínio de Fraga é que o
país sempre se beneficia com a
maior exposição de sua economia. A maior vantagem, argumenta, é obrigar os produtores
nacionais a serem mais eficientes
e a reduzirem custos de produção.
Os liberais do governo não se
rendem nem mesmo ao fato de a
balança comercial ser deficitária,
ou seja, o país importar mais produtos do que consegue vender no
exterior. Para eles, parte da solução do déficit é exatamente abrir
mais a economia.
Sustentam que menores impostos de importação barateiam os
insumos usados em produtos voltados para a exportação. Também
acham que a indústria nacional se
tornaria mais competitiva para
enfrentar o mercado exterior.
Fraga também gosta de repetir
que, em economias grandes e
abertas, a balança comercial costuma responder com maior vigor
a ajustes da taxa de câmbio. Ou
seja: com uma economia mais
aberta, basta conceder um dólar
mais alto para as exportações
conseguirem reagir.
Protecionistas
O principal defensor de uma
abertura gradual, o ministro Tápias, só admite falar em redução
da proteção da economia a partir
de 2002. Esse seria o prazo mínimo para a implementação das reformas que considera necessárias
para garantir a sobrevivência das
empresas nacionais num ambiente de maior concorrência.
A prioridade de Tápias é a reforma tributária. Sem ela, o ministro
e sua equipe afirmam que a indústria brasileira enfrentaria os
estrangeiros em situação de desigualdade. Ele insiste numa diminuição da carga tributária para o
setor produtivo.
Além da desoneração das cadeias produtivas, o ministro coloca como precondição de uma
maior abertura a queda dos custos de financiamento e a melhoria
dos sistemas de transporte e telecomunicações.
Tápias costuma perguntar aos
seus interlocutores como o país
vai conseguir pagar as importações, que crescerão com mais
abertura, se não obtiver mais dólares com exportações.
Imposto maior
Sua equipe defende um amplo
rearranjo dos impostos de importação no próximo semestre. Quer
aumentar a proteção para alguns
setores que consideram estratégicos, como o de fabricantes de
componentes para a indústria eletroeletrônica.
É uma diferença substancial de
ritmo em comparação ao proposto pela equipe econômica. Para
Amadeo, não se pode manter
uma distorção no sistema de tarifas de importação só porque não
existe a reforma tributária.
O secretário de Política Econômica faz questão de lembrar que a
alta carga tributária é compensada com isenções aos exportadores, como o ressarcimento do PIS,
da Cofins e o não-pagamento do
IPI e do ICMS.
"É como se houvesse uma pedra
que ainda não é lapidada, mas a
pedra existe", disse Amadeo, sobre os remendos feitos no sistema
tributário para tentar ajudar os
exportadores.
Cenário eleitoral
A sucessão presidencial em
2002 fragiliza o discurso de maior
abertura, na opinião de técnicos
do governo com posições tanto liberais como protecionistas.
Eis o diagnóstico compartilhado por integrantes da equipe econômica: um discurso de redução
do Imposto de Importação terá
dificuldades de se sustentar na
campanha para a sucessão do
presidente Fernando Henrique
Cardoso.
Interlocutores do ministro Tápias avaliam que o candidato de
FHC teria dificuldades de ganhar
a eleição se prevalecesse o tese puramente liberal. Afinal, quem financia boa parte das campanhas
são os empresários que podem
sofrer perda de mercado, caso aumentem as importações.
FHC, em suas recentes declarações, tem dito que a tendência de
abertura é inquestionável, mas só
vai ocorrer com a contrapartida
de Estados Unidos e Europa.
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