São Paulo, segunda, 18 de janeiro de 1999

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MERCOSUL
Empresários e economista de oposição pedem ao governo do país medidas compensatórias à desvalorização do real
Indústria argentina teme recessão

das agências internacionais

Setores industriais argentinos e políticos de oposição pressionam o governo do país para que sejam adotadas medidas compensatórias à desvalorização do real.
A União dos Industriais Argentinos (UIA) se reunirá hoje pela manhã com o ministro argentino da Economia, Roque Fernández, para exigir que o governo estabeleça medidas fiscais e alfandegárias que amenizem os efeitos negativos da desvalorização da moeda ocorrida no Brasil.
No encontro, os industriais pedirão uma redução de impostos incidentes sobre as empresas da ordem de 10%, além de uma alta das tarifas de importação para os produtos brasileiros, segundo informações publicadas ontem nos veículos de comunicação locais.
Os empresários da UIA acreditam que a situação econômica do Brasil, o principal parceiro comercial da Argentina, podem gerar uma recessão local, já que grande parte das exportações argentinas tem como destinado o parceiro do Mercosul.
Há também o temor de uma invasão de produtos brasileiros, que teoricamente ficaram mais baratos com a desvalorização.
O ex-ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, afirmou ontem que é "justificável" o temor dos industriais do seu país.
"A Argentina deve tomar todas as medidas para diminuir o custo de produção e melhorar a rentabilidade das empresas que produzem bens de exportação ou competem com importações", afirmou durante uma entrevista.
Cavallo argumentou que "todos os impostos que encarecem os custos de produção das empresas têm que ser eliminados". Entre eles, acrescentou, estão os encargos trabalhistas e os tributos sobre o endividamento das empresas.
O atual ministro da Economia da Argentina, Roque Fernández, havia afirmado na semana passada que não será tomada nenhuma medida excepcional em relação à crise brasileira, salvo a suspensão momentânea de emissão de títulos públicos.
O ex-ministro Cavallo, que é hoje deputado, foi o o ideólogo do plano de estabilização econômica executado na Argentina desde 1989, que tem entre os seus pilares a paridade entre o peso e o dólar norte-americano.
Cavallo afirmou que a política de flutuação cambial planejada pelo Brasil é "muito complicada" de ser mantida diante da sensibilidade dos investidores.
"Vai estabelecer uma relação perversa entre o câmbio e a taxa de juros porque, ao relaxar a política monetarista e desvalorizar a moeda, sobem as taxas e isso agravará o problema fiscal", disse.
O principal economista da Frepaso, partido de oposição ao governo argentino, Arnaldo Bocco, disse ontem que as autoridades argentinas estão muito passivas em relação à desvalorização do real e que o impacto sobre a economia do país será muito forte. "Haverá uma alta do desemprego e uma elevação das taxas de juros", disse.
A taxa de desemprego caiu em novembro passado, de 13,2% da população economicamente ativa para 12,4%, após ter atingido o auge de 18,4%, em 95.
Bocco argumenta que o atual ministro da Economia, Roque Fernández, assumiu uma atitude de paralisia frente à crise brasileira.
Segundo Bocco, o governo deve aplicar rapidamente políticas compensatórias para que a Argentina não tenha uma concorrência desleal no comércio exterior.



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