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LUÍS NASSIF
Como salvar a Varig
É importante que a possibilidade de acordo entre Varig e TAM não seja utilizada para aumentar o passivo da primeira. O governo está analisando a situação apenas do prisma
do uso da capacidade instalada.
O problema é mais amplo.
Tem três problemas simultâneos sufocando a empresa. O primeiro, de caráter regulatório. O
governo conseguiu criar o pior
dos mundos, com uma supertributação sobre o setor e uma
companhia -a Vasp- que não
paga tributos há anos, à custa de
uma capacidade inédita de obter
liminares.
O segundo problema -também de ordem regulatória- é a
falta de escala das empresas brasileiras. E aí a fusão entre as duas
companhias é fundamental.
A questão é que o terceiro problema precede o segundo: a governança na Varig. Seu controle
está nas mãos da Fundação Rubem Berta, que indica os membros do conselho que a elege. Essa entropia levou a uma estratificação de interesses que inviabilizou qualquer ajuste na companhia.
É significativo o recente episódio da demissão de toda a diretoria da Varig, assim que apresentou seu plano de reestruturação.
A diretoria foi afastada porque a
salvação da empresa dependia
de aporte de capital que diluiria
o controle da FRB. Preservaram
os interesses da FRB à custa de
colocar o pescoço da companhia
na guilhotina.
Quem garante que a proposta
de fusão com a TAM, uma mera
carta de intenção, será cumprida? Na hora de proceder à fusão,
vai-se confrontar uma empresa
com patrimônio líquido de R$
160 milhões com outra com patrimônio negativo de várias centenas de milhões.
Com o anúncio -que pode
não passar de outro factóide-, a
Varig conseguiu reabrir o crédito
com a BR Distribuidora. Vai-se
correr o risco de chegar daqui a
seis meses e ter que recomeçar do
zero as negociações, com uma
empresa que, a rigor, não tem
muitos meses de vida.
Talvez seja hora de prestar
atenção na proposta da Apivar
(Associação dos Pilotos da Varig). A proposta parte do princípio de que os principais credores
da Varig são os funcionários, na
forma de um gigantesco passivo
da empresa com o fundo Aerus,
de seguridade, estimado em R$ 2
bilhões.
Por outro lado, a Varig deve ao
governo federal, mas tem créditos a receber, na forma de ações
de ressarcimento de tributos pagos, além da ação referente ao
achatamento tarifário do Plano
Cruzado.
O que a Apivar propõe é a criação de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), onde seriam depositadas as ações da
empresa em pagamento à dívida
que possui com o fundo Aerus.
Depois se procederia a um encontro de contas entre o que a
Varig deve e tem a receber do governo.
Ao mesmo tempo, seria feita a
reestruturação, com condições
de reduzir substancialmente os
custos da companhia, assim que
se abrirem as "caixas-pretas"
acumuladas ao longo dos anos.
A proposta da Apivar pára por
aí. Mas, com a empresa reestruturada, e sob nova direção, o
passo seguinte seria a fusão com
a TAM, tendo a garantia de que
a empresa será efetivamente salva.
Lobão e cordeiros
O senador Edison Lobão, indicado para presidir a poderosa
Comissão de Constituição e Justiça do Senado, foi personagem
central na famosa operação de
tentativa de reconhecimento dos
títulos da dívida do começo do
século 20.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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