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Clientes do Banco Safra são vítimas de Madoff, diz "FT"
Segundo o jornal, instituição comercializou fundo que investiu com americano
Porta-voz diz que Banco Safra, no Brasil, não tinha envolvimento com Madoff e que investimento no exterior foi feito a pedido de clientes
JONATHAN WHEATLEY
DO "FINANCIAL TIMES"
Clientes do Grupo Safra, que
inclui um dos maiores bancos
brasileiros e operações substanciais de gestão de patrimônio nos Estados Unidos e na
Europa, surgiram entre as vítimas do suposto esquema fraudulento montado pelo norte-americano Bernard Madoff.
O "Financial Times" apurou
que o Banco Safra, de São Paulo, comercializou por muitos
anos um fundo chamado Zeus
Partners Limited, um dos muitos fundos "de alimentação"
que canalizavam dinheiro de
investidores de todo o mundo
para a Bernard Madoff Securities, a corretora que ele dirigia
em Nova York.
Mais de duas dúzias de fundos "de alimentação" tinham
mais de US$ 20 bilhões investidos com Madoff, o que maculou
a reputação de alguns dos
maiores bancos privados, como
o espanhol Santander, e fundos
de hedge do mundo.
Os operadores dos fundos
"de alimentação" incluem alguns dos grandes nomes no
mercado de administradoras
desse segmento, como a Union
Bancaire Privée, banco suíço de
capital fechado; a Tremont,
controlada pela administradora de ativos americana OppenheimerFunds; e a Pioneer Alternative Investments, parte
do banco italiano Unicredit.
O Grupo Safra nega qualquer
envolvimento com a Bernard
Madoff Securities. Um porta-voz do grupo em Nova York
afirmou que o Banco Safra, no
Brasil, não tinha envolvimento
com os fundos de Madoff e que
nenhum dos bancos do grupo
promovia fundos do investidor
norte-americano, ainda que
instituições controladas pela
família Safra fora do Brasil tenham investido, a pedido de
clientes, em alguns dos fundos
do ex-presidente da Nasdaq.
Mas documentos obtidos pelo "Financial Times" com investidores no Brasil incluem
uma descrição em folha encabeçada pelos nomes "Safra
Group" e "Zeus Partners Limited" e portando o logotipo do
Grupo Safra. O jornal também
obteve um "sumário executivo"
do fundo que lista o Banque Jacob Safra (Gibraltar) Limited,
parte do Grupo Safra, como
custodiante do fundo.
[O porta-voz do grupo em
Nova York, Robert Sigfried,
disse à Folha que a única ligação do Safra com o Zeus ocorreu via Banque Jacob Safra Limited (leia texto ao lado). "Essa
instituição, parte do grupo Safra, fez apenas a operação de
custódia do fundo, uma operação comum no mercado."]
A descrição do fundo recorre
a diversas das expressões características dos fundos de Madoff e anuncia cinco anos consecutivos de ganhos mensais
ininterruptos, desde o início de
2002.
Um investidor em São Paulo
que pediu para não ser identificado disse que, em geral, relutava em investir em fundos,
mas que seu representante do
Safra "forçou muito a venda".
De acordo com esse investidor,
"eles disseram que era um fundo muito bom, com um ótimo
histórico e que [Joseph] Safra
em pessoa [o presidente do
Grupo Safra] investia seu dinheiro pessoal lá".
O Banco Safra, no Brasil, não
respondeu a pedidos de comentários sobre o fundo Zeus e
seu envolvimento com o investidor americano. Pessoas informadas sobre o assunto dizem
que o fundo investiu pelo menos US$ 300 milhões a pedido
de clientes do Safra.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) está investigando se instituições brasileiras venderam cotas em fundos
"de alimentação" de Madoff a
seus investidores e se tinham
autorização para fazê-lo.
Daniel Chiplock, do escritório de advocacia Lieff Cabraser
Heimann & Bernstein, de Nova
York, disse que foi contatado
por investidores no Brasil e na
Argentina, "que informaram de
que esse fundo específico foi
divulgado a eles por representantes do Safra e descrito como
veículo de investimento altamente seguro".
David Rosemberg, advogado
do escritório Broad and Cassell, em Miami, afirmou ter sido procurado por investidores
do Brasil e do México que haviam aplicado no fundo Zeus.
"Alguns deles sabiam com antecedência, mas outros só descobriram depois do colapso
que era um fundo "de alimentação" da corretora de Madoff".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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