São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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Clientes do Banco Safra são vítimas de Madoff, diz "FT"

Segundo o jornal, instituição comercializou fundo que investiu com americano

Porta-voz diz que Banco Safra, no Brasil, não tinha envolvimento com Madoff e que investimento no exterior foi feito a pedido de clientes


JONATHAN WHEATLEY
DO "FINANCIAL TIMES"

Clientes do Grupo Safra, que inclui um dos maiores bancos brasileiros e operações substanciais de gestão de patrimônio nos Estados Unidos e na Europa, surgiram entre as vítimas do suposto esquema fraudulento montado pelo norte-americano Bernard Madoff.
O "Financial Times" apurou que o Banco Safra, de São Paulo, comercializou por muitos anos um fundo chamado Zeus Partners Limited, um dos muitos fundos "de alimentação" que canalizavam dinheiro de investidores de todo o mundo para a Bernard Madoff Securities, a corretora que ele dirigia em Nova York.
Mais de duas dúzias de fundos "de alimentação" tinham mais de US$ 20 bilhões investidos com Madoff, o que maculou a reputação de alguns dos maiores bancos privados, como o espanhol Santander, e fundos de hedge do mundo.
Os operadores dos fundos "de alimentação" incluem alguns dos grandes nomes no mercado de administradoras desse segmento, como a Union Bancaire Privée, banco suíço de capital fechado; a Tremont, controlada pela administradora de ativos americana OppenheimerFunds; e a Pioneer Alternative Investments, parte do banco italiano Unicredit.
O Grupo Safra nega qualquer envolvimento com a Bernard Madoff Securities. Um porta-voz do grupo em Nova York afirmou que o Banco Safra, no Brasil, não tinha envolvimento com os fundos de Madoff e que nenhum dos bancos do grupo promovia fundos do investidor norte-americano, ainda que instituições controladas pela família Safra fora do Brasil tenham investido, a pedido de clientes, em alguns dos fundos do ex-presidente da Nasdaq.
Mas documentos obtidos pelo "Financial Times" com investidores no Brasil incluem uma descrição em folha encabeçada pelos nomes "Safra Group" e "Zeus Partners Limited" e portando o logotipo do Grupo Safra. O jornal também obteve um "sumário executivo" do fundo que lista o Banque Jacob Safra (Gibraltar) Limited, parte do Grupo Safra, como custodiante do fundo.
[O porta-voz do grupo em Nova York, Robert Sigfried, disse à Folha que a única ligação do Safra com o Zeus ocorreu via Banque Jacob Safra Limited (leia texto ao lado). "Essa instituição, parte do grupo Safra, fez apenas a operação de custódia do fundo, uma operação comum no mercado."]
A descrição do fundo recorre a diversas das expressões características dos fundos de Madoff e anuncia cinco anos consecutivos de ganhos mensais ininterruptos, desde o início de 2002.
Um investidor em São Paulo que pediu para não ser identificado disse que, em geral, relutava em investir em fundos, mas que seu representante do Safra "forçou muito a venda". De acordo com esse investidor, "eles disseram que era um fundo muito bom, com um ótimo histórico e que [Joseph] Safra em pessoa [o presidente do Grupo Safra] investia seu dinheiro pessoal lá".
O Banco Safra, no Brasil, não respondeu a pedidos de comentários sobre o fundo Zeus e seu envolvimento com o investidor americano. Pessoas informadas sobre o assunto dizem que o fundo investiu pelo menos US$ 300 milhões a pedido de clientes do Safra.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) está investigando se instituições brasileiras venderam cotas em fundos "de alimentação" de Madoff a seus investidores e se tinham autorização para fazê-lo.
Daniel Chiplock, do escritório de advocacia Lieff Cabraser Heimann & Bernstein, de Nova York, disse que foi contatado por investidores no Brasil e na Argentina, "que informaram de que esse fundo específico foi divulgado a eles por representantes do Safra e descrito como veículo de investimento altamente seguro".
David Rosemberg, advogado do escritório Broad and Cassell, em Miami, afirmou ter sido procurado por investidores do Brasil e do México que haviam aplicado no fundo Zeus. "Alguns deles sabiam com antecedência, mas outros só descobriram depois do colapso que era um fundo "de alimentação" da corretora de Madoff".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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