São Paulo, Quinta-feira, 18 de Fevereiro de 1999
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Leia a 1ª nota de ontem do economista do MIT

Leia abaixo a primeira nota do economista Paul Krugman -"More on the Fraga Affair" (Mais sobre o caso Fraga)-, do MIT, colocada ontem em sua home page (http://web.mit.edu/krugman/www/) sobre o caso Armínio Fraga.
"Não faz muito tempo, um fundo de hedge propôs me pagar honorários em troca de "briefings" ocasionais e cópias adiantadas de meus artigos. Minha primeira reação foi pensar que isso seria perfeitamente legal, em nada comparável aos casos que eu conhecia nos quais representantes de países em desenvolvimento haviam sido pagos para fornecer informações privilegiadas. Afinal, sou apenas um cidadão privado e tenho a liberdade de revelar minhas opiniões a quem eu bem entender. Minha segunda reação foi pensar que eu deveria rechaçar a proposta totalmente. Mesmo que eu fosse totalmente inocente, mesmo que não houvesse uma diferença real entre fornecer rascunhos adiantados de artigos a alguém e fazer um trabalho normal de consultoria empresarial, eu não deveria me colocar numa situação em que meu papel pudesse se tornar alvo de suspeitas desse tipo.
Tudo isso explica por que as informações que recebi segundo as quais o Fundo Quantum havia especulado pesadamente com (títulos da) dívida brasileira logo antes da indicação de Armínio Fraga para a presidência do Banco Central eram tanto dignas de crédito quanto preocupantes. Eu não tinha razão para acreditar que Fraga tivesse transmitido à Quantum informações sobre os assuntos internos do Brasil -mas isso não teria sido necessário. O simples fato de saber que o nome de Fraga estava sendo cogitado já teria sido um indício certeiro deque as políticas irresponsáveis sobre as quais circulavam rumores não estavam, na realidade, sendo previstas.
Acabo de conversar com Fraga e ele reafirma que as coisas realmente aconteceram segundo o melhor roteiro possível -ou seja, que seu antigo empregador não teve conhecimento de seu novo emprego até depois do fato ocorrido. Isto é, ele afirma que o governo brasileiro lhe fez a proposta sem que tivesse qualquer aviso prévio da intenção e que não houve tempo hábil no qual pudesse haver ocorrido especulação baseada em informações privilegiadas.
Como eu já disse em minha nota anterior, hoje, fico muito feliz em saber disso. Mas não acredito que Fraga ou a Quantum tenham sido tratados injustamente nesse episódio. Especialmente em épocas instáveis como a atual, a ameaça da especulação com moedas e dívidas nacionais, baseada em informações privilegiadas, é extremamente real -na verdade, isso acontece o tempo todo-, e os governos precisam fazer o possível e o impossível para evitar até mesmo a aparência de qualquer conflito de interesses. Cuidados enormes deveriam haver sido tomados na indicação de um administrador de um grande fundo de hedge para um cargo tão sensível -e isso não aconteceu.
Talvez este episódio faça com que, futuramente, os governos relutem em contratar altos funcionários diretamente de organizações que especulam com os próprios títulos mais afetados pelas políticas subordinadas a esses funcionários. Sem prejuízo a Fraga, quero deixar claro que, na minha opinião, isso não deixaria de ser uma boa coisa."


Tradução de Clara Allain


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