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OPINIÃO ECONÔMICA
Envelheçam!
BENJAMIN STEINBRUCH
O escritor e dramaturgo
Nelson Rodrigues costumava implicar muito com os jovens.
Isso era uma espécie de cacoete
teatral dele. Um belo dia, dava
uma entrevista na televisão a Otto Lara Resende. Para terminar a
conversa, só para provocá-lo, Otto Lara fez a seguinte pergunta:
"Do alto de sua experiência, que
conselho daria aos jovens?".
Nelson Rodrigues fez longo silêncio, uma de suas características, e, com aquela voz rouca, que
parecia vir do além, respondeu:
"Envelheeeeçam!".
A morte desse genial e polêmico
brasileiro foi em dezembro de
1980. Não viveu, portanto, para
ver a ascensão do Partido dos
Trabalhadores nas duas décadas
seguintes. Mas sua frase concisa é
útil para entender o que vem
ocorrendo com o PT nos últimos
anos e nestes primeiros meses de
governo: envelhecimento.
Envelhecer tem vantagens e
desvantagens. No sentido rodriguiano, significa adquirir maturidade para ver o mundo sem radicalismos juvenis. É uma qualidade. Mas, num sentido mais amplo, pode representar fraqueza, à
medida que isso elimina o ímpeto
realizador dos jovens.
Nesses quase 80 dias de governo, Lula e o PT mostraram-se
mais envelhecidos e muito mais
moderados do que se poderia esperar. Os lances iniciais foram
surpreendentemente conservadores: dois aumentos seguidos da taxa de juros, corte orçamentário e
aumento de superávit primário.
A maior surpresa positiva do
governo Lula é o próprio Lula,
que tem demonstrado enorme
habilidade para o diálogo. Recebe
a todos, fala com todos, do diretor
do Fundo Monetário Internacional ao favelado do Nordeste. Os
prefeitos de todo o país fizeram
na semana passada a sua Marcha
em Defesa dos Municípios. Era a
sexta edição desse evento, que
sempre teve uma certa conotação
de protesto contra o governo central. Por isso, nunca antes um presidente da República havia se dado ao luxo de ouvir os manifestantes. Mas Lula estava lá para
responder às dúvidas dos prefeitos e, além disso, anunciar uma
aplicação de US$ 1,4 bilhão em
obras de saneamento e infra-estrutura.
O diretor-gerente do FMI, Horst
Köhler, disse na semana passada
que Lula é um "líder genuíno",
que estabeleceu uma agenda correta de crescimento e estabilidade
macroeconômica com justiça social. Talvez seja desconcertante
para Lula receber elogios tão rasgados de uma entidade execrada
no passado pelo PT. Mais desconcertante ainda devem ser as críticas vindas do outro lado, daqueles que até agora se decepcionaram com as medidas sociais do
governo, como o programa Fome
Zero, que praticamente não andou.
As pesquisas mostram que, por
conta das críticas, a popularidade
de Lula já baixou. Mas é absurdo
tentar julgar um governo que
apenas começou. O envelhecimento e a maturidade do PT foram bons para o país. Acalmaram os mercados, estabilizaram
as expectativas, seguraram o dólar. Agora, porém, o novo governo
precisa começar a retomar sua rebeldia juvenil, para tocar rapidamente as reformas necessárias e,
na sequência, as medidas para estimular o crescimento econômico.
A inflação, afinal, já deu sinais
claros de que está em queda. O
dólar baixou, na semana passada, ao menor nível desde janeiro.
Mesmo com a expectativa do início da guerra no Iraque, que certamente afetará de forma negativa a economia, cabe a Lula tocar
a parte impetuosa do seu programa. Não custa lembrar que esse
governo foi eleito porque assumiu
compromissos diretos e desafiadores, como criar 1 milhão ou 2
milhões de novos empregos no
primeiro ano de mandato, construir 1 milhão de habitações, produzir 120 milhões de toneladas de
grãos em dois anos e dobrar o salário mínimo em quatro anos.
Compromissos como esses não
são dogmas. Podem e devem, por
questão de bom senso, ser maleáveis em razão da conjuntura. O
que não pode mudar é o princípio
estabelecido, de que se deve jogar,
sempre que possível, no ataque
em matéria de política econômica. Por falta de apetite para o
crescimento, o governo anterior
jogou na retranca e perdeu algumas oportunidades de baixar juros e estimular a expansão da
economia. Seria bom que isso não
se repetisse.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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