São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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ANÁLISE

Decisão do BC é política

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A suspeita mais óbvia em relação à redução dos juros do Banco Central é que se tratou de uma tentativa de favorecer o presidenciável governista, José Serra. Certeza, há uma: a decisão foi, assumidamente, política.
Na nota lacônica que sempre acompanha a divulgação dos juros, o BC explicita que agiu "confiando na manutenção, no futuro, de um arcabouço macroeconômico responsável".
Traduzindo, "futuro" significa o próximo governo, ou pelo menos sua etapa inicial; "arcabouço macroeconômico responsável", na visão do BC e do mercado financeiro, são as atuais políticas de juros, câmbio, controle de gastos e da inflação.
A tradução fica ainda mais clara diante do papel adotado recentemente pelo presidente do BC, Armínio Fraga, que está promovendo encontros com representantes dos principais candidatos ao Planalto para discutir o futuro da política econômica.
Nas últimas semanas de turbulência financeira, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e Ciro Gomes, do PPS, têm se esforçado em mostrar moderação e descartar mudanças bruscas e radicais.
Enquanto Lula, Ciro e Serra se preocupam com uma posse mais tranquila, Fraga usa sua credibilidade no mercado para tentar atenuar ao menos o componente eleitoral da presente crise -não há muito mais a fazer em relação ao ambiente externo desfavorável e às próprias fragilidades da economia brasileira.
Com a queda dos juros, o BC fez a sua aposta pública numa transição bem-sucedida -aparentemente, esperando que os investidores sigam o exemplo.
É claro que há também razões técnicas para a queda dos juros. Uma delas foi citada na nota do BC: o teto para a inflação de 2003 foi elevado de 5,25% para 6,5%.
Outro fator, não mencionado no documento, é o atual desaquecimento dos investimentos e do consumo. A inflação deste ano, apesar de estar acima das metas do BC, é puxada quase exclusivamente por preços administrados, como o da gasolina.
Pode-se lembrar, ainda, que juros de 18% ao ano permanecem elevadíssimos em qualquer comparação internacional.
Não seria difícil, porém, encontrar argumentos para justificar uma eventual manutenção da taxa -ou uma redução menor, de 0,25 ponto percentual, como as de fevereiro e março passados. Bastaria dizer, por exemplo, que o cenário externo e o risco de alta do dólar ainda preocupam.



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