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ANÁLISE
Decisão do BC é política
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A suspeita mais óbvia em relação à redução dos juros do Banco Central é que se tratou de uma tentativa de favorecer o presidenciável governista, José
Serra. Certeza, há uma: a decisão foi, assumidamente, política.
Na nota lacônica que sempre acompanha a divulgação dos juros, o BC explicita que agiu "confiando na manutenção, no futuro, de um arcabouço macroeconômico responsável".
Traduzindo, "futuro" significa o próximo governo, ou pelo menos
sua etapa inicial; "arcabouço macroeconômico responsável", na
visão do BC e do mercado financeiro, são as atuais políticas de juros, câmbio, controle de gastos e
da inflação.
A tradução fica ainda mais clara
diante do papel adotado recentemente pelo presidente do BC, Armínio Fraga, que está promovendo encontros com representantes
dos principais candidatos ao Planalto para discutir o futuro da política econômica.
Nas últimas semanas de turbulência financeira, Luiz Inácio Lula
da Silva, do PT, e Ciro Gomes, do
PPS, têm se esforçado em mostrar
moderação e descartar mudanças
bruscas e radicais.
Enquanto Lula, Ciro e Serra se
preocupam com uma posse mais
tranquila, Fraga usa sua credibilidade no mercado para tentar atenuar ao menos o componente
eleitoral da presente crise -não
há muito mais a fazer em relação
ao ambiente externo desfavorável
e às próprias fragilidades da economia brasileira.
Com a queda dos juros, o BC fez
a sua aposta pública numa transição bem-sucedida -aparentemente, esperando que os investidores sigam o exemplo.
É claro que há também razões
técnicas para a queda dos juros.
Uma delas foi citada na nota do
BC: o teto para a inflação de 2003
foi elevado de 5,25% para 6,5%.
Outro fator, não mencionado
no documento, é o atual desaquecimento dos investimentos e do
consumo. A inflação deste ano,
apesar de estar acima das metas
do BC, é puxada quase exclusivamente por preços administrados,
como o da gasolina.
Pode-se lembrar, ainda, que juros de 18% ao ano permanecem
elevadíssimos em qualquer comparação internacional.
Não seria difícil, porém, encontrar argumentos para justificar
uma eventual manutenção da taxa -ou uma redução menor, de
0,25 ponto percentual, como as de
fevereiro e março passados. Bastaria dizer, por exemplo, que o cenário externo e o risco de alta do dólar ainda preocupam.
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