São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EMERGENTES

Brasil se junta a Rússia, Índia e China em grupo de grandes economias promissoras, mas ainda perde no ritmo de expansão

País cresce abaixo da média de outras "baleias"

CÍNTIA CARDOSO
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Brasil, Rússia, Índia e China formam um grupo que compartilha apelidos, como "baleias" e "Brics" (sigla formada pela inicial dos nomes), e diagnósticos analíticos de que ultrapassarão muitas economias desenvolvidas no futuro. Mas, por enquanto, o Brasil parece estar sendo deixado para trás por seus pares. A economia do país deve crescer 3,5% neste ano, metade da média da expansão projetada para o resto do grupo.
Esse descompasso tem motivado um debate intenso entre economistas. A grande discussão, que ainda está longe de um consenso, é se o Brasil deveria seguir o rumo de outros países que -como Índia e China- perseguiram uma estratégia específica de desenvolvimento.
Para alguns analisas, inclusive, o país caminha, quase que acidentalmente, na direção das demais "baleias". China, Índia e Rússia devem crescer, respectivamente, 8,5%, 6,8% e 6% neste ano, segundo projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional). Boa parte dessas altas expansões pode ser explicada, segundo analistas, pelo forte desempenho das exportações nesses países.
"A lição que o Brasil poderia aprender com esses países é que há um mundo lá fora que pode beneficiá-lo. O Brasil ainda aproveita muito timidamente o aumento da demanda mundial", diz Antonio Manfredini, professor da Fundação Getúlio Vargas (SP).
Para Carlos Geraldo Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Estudos Mundiais da FGV-RJ, a China usou a abertura da economia como estratégia clara de crescimento. O Brasil, segundo ele, até caminha nessa direção agora, mas chegou a perder muito tempo. "O Brasil começou, como esses outros países, um processo de desregulamentação, mas fez isso sem disciplina fiscal e desprezou o setor exportador", avalia Langoni.
"Na década de 90, o Brasil perdeu o bonde e fez uma integração às avessas. O investimento direto estrangeiro que entrou aqui foi mais por conta da privatização das empresas", argumenta o professor Luiz Gonzaga Belluzzo.
Para ele, China e Índia "não têm restrições consideráveis do lado fiscal e monetário", o que significa taxas de juros baixas e oferta de crédito maior para investimentos.
Em termos de reservas internacionais, o Brasil também ainda perde muito para as demais "baleias". A expressão foi cunhada em oposição a "tigres asiáticos". Os "tigres" representam países pequenos com dinâmica de crescimento baseada em exportações. Já as "baleias" têm grandes extensões territoriais, amplos mercados internos e que tendem a se mover de modo mais lento.

Ritmo
Segundo Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), países como Rússia, Índia e China optaram por uma estratégia agressiva de acumulação de reservas internacionais a fim de manter suas moedas desvalorizadas e reduzir a vulnerabilidade externa de suas economias.
O Banco Central brasileiro chegou a ensaiar um movimento forte de compras de dólares em 2003, mas perdeu o ritmo quando as condições externas se tornaram menos favoráveis neste ano.
De toda forma, as reservas brasileiras ainda estão muito aquém das registradas pelos outros três "Brics". Segundo a revista "The Economist", as reservas de Rússia, Índia e China são de, respectivamente, US$ 81,5 bilhões, US$ 114,1 bilhões e US$ 444,4 bilhões. Já as brasileiras -descontados os recursos emprestados pelo FMI- somam US$ 25 bilhões.

Do contra
Há, porém, quem desdenhe das taxas de crescimento dos outros "Brics". "O Brasil não tem nada a aprender com esses países, que são muito pobres. Não se pode comparar países que estão saindo do século 17 e caminhando para século 18, como Índia e China, com um país moderno como o Brasil", disse à Folha Kenneth Rogoff, conceituado professor de Harvard e ex-diretor do Departamento de Pesquisas do FMI.
Outra razão para o ritmo acelerado de crescimento das "baleias" é estrutural. "Em economias com população de renda muito baixa, há mais potencial para aumentar a renda per capita mais rapidamente", diz Manfredini.


Texto Anterior: Tributação: Governo vai compensar carga maior, diz Palocci
Próximo Texto: Baleia High-tech: Índia exporta tecnologia e vira pólo de terceirização de serviços
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.