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LUÍS NASSIF
Os presídios terceirizados
Recebo de Paulo Sérgio Domingues, presidente da Associação dos Juízes Federais, e-mail com argumentos contrários à idéia de terceirização dos presídios, importantes para analisar ressalvas e alternativas mais
viáveis.
As ressalvas começam pela
constatação de que é dever do
Estado executar a pena do condenado. Terceirizar, segundo
ele, significaria o Estado abrir
mão desse dever.
A segunda ressalva é que não
se pode comparar o presídio de
Guarapuava (terceirizado) com
um presídio convencional, porque lá se pode recusar a aceitar
lotação acima da definida em
contrato, diferentemente de um
presídio comum. "Lá se mantêm
condições de higiene e outras,
destacadas em sua coluna -e
que de fato correspondem à realidade", admite Domingues. No
entanto, diz ele, "seria preciso
tentar fazer ao menos UM presídio público com essas mesmas
condições, e aí comparar".
A terceira ressalva é quanto ao
custo de presídio terceirizado.
Segundo ele, em Guarapuava seria o dobro do sistema público.
A quarta ressalva é que, ao
"transformar presídios em negócio", o interesse maior passaria a
ser o de ter o maior número possível de presos na cadeia, "perdendo-se o foco de que a prisão
deve ser a última saída do Estado para quem comete um delito".
Vamos por partes. O primeiro
ponto a considerar é que, no modelo terceirizado, o Estado não
abre mão do poder de prender e
soltar. O terceirizado é um prestador de serviços, trabalhando
sob contrato, cumprindo indicadores de desempenho e sendo
não apenas fiscalizado por um
comitê, composto por membros
do Estado (e deveria haver representantes do Judiciário, Ministério Público, OAB), como dirigido por representantes públicos -no caso de Guarapuava, o
diretor, o vice-diretor e o chefe
de segurança são do governo.
A segunda ressalva -a de que
a comparação de Guarapuava
precisa ser com um presídio público bem administrado- deve
ser vista sob outro ângulo: qual o
ambiente mais adequado para
ter uma gestão profissionalizada, o presídio com administração direta ou o terceirizado?
Tome-se o episódio Bangu 1.
Era presídio de alta segurança,
com número restrito de presos,
alta automação etc. Eclodiu a
rebelião, provavelmente com a
anuência de agentes penitenciários, e se descobre que há 14 anos
não são feitos investimentos por
lá.
Não houve continuidade de
gestão. Se fosse terceirizado, mudariam os governadores, mas o
trabalho continuaria o mesmo,
já que a empresa terceirizada teria que cumprir indicadores definidos em contrato e se submeter à fiscalização das autoridades e da opinião pública.
Depois, a gestão pública impede a responsabilização dos culpados. Quem é o culpado do que
ocorreu em Bangu 1? Alguns
agentes individualmente? O diretor do presídio? Leonel Brizola, Cesar Maia, Garotinho, que
não fizeram os investimentos?
Seus respectivos secretários da
Segurança?
No caso de terceirização, não
haveria nem o que discutir. Assinado o contrato, a empresa passaria a ter responsabilidades cíveis e criminais sobre qualquer
episódio grave ocorrido. Quanto
à terceira ressalva, o secretário
da Segurança do Paraná sustenta que o custo operacional de
Guarapuava é o mesmo do presídio de Maringá, construído
dois anos antes. Com a diferença
de que em Guarapuava não se
criam passivos futuros, com aposentadoria de funcionários e outras benesses.
Outro grande problema do regime público é o contato continuado dos funcionários com os
criminosos, tornando-os cúmplices ou reféns de suas ameaças.
Dentro de um regime privado,
há muito mais flexibilidade para políticas de recursos humanos.
Finalmente, não procede o argumento de que a transformação do presídio em negócio estimularia o aumento da população carcerária. Se o modelo limitar-se a um pagamento per capita, não haveria nenhum risco de
virar "negócio".
Mesmo porque o poder de prender e soltar continuaria sendo do Estado.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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