São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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FLUXO DE CAPITAIS

Argentina recebe 71,5% a menos de recursos e puxa queda de 11% na AL; no mundo, volume cai pela metade

Investimento no Brasil recua 31% em 2001

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Brasil e Argentina foram os grandes responsáveis pela segunda queda anual consecutiva do volume de investimentos diretos estrangeiros (IDE) para a América Latina e o Caribe. Segundo relatório divulgado ontem pela Unctad (braço da ONU para o comércio e desenvolvimento), a região recebeu, em 2001, 11% a menos em investimentos diretos que no ano anterior. Foram US$ 85,4 bilhões, ante os US$ 95,4 bilhões de 2000.
O resultado, entretanto, não pode ser considerado um desastre: o relatório revela que o fluxo de investimento estrangeiro direto em todo o planeta caiu pela metade. Se em 2000 as transações envolveram US$ 1,491 trilhão, no ano passado não superaram os US$ 735,1 bilhões (-51%). Os investimentos diretos em países desenvolvidos recuaram ainda mais -59,01%.
Os recursos destinados ao Brasil recuaram 31,49% -de US$ 32,8 bilhões para US$ 22,4 bilhões, no ano passado. Segundo a Unctad, um dos fatores para a retração de investimentos no país foi a quase total paralisação no programa de privatizações. Há ainda o agravante do declínio no volume de IDE para o setor de serviços (telecomunicações e financeiro).
No ranking dos países em desenvolvimento que mais atraem recursos, o Brasil passou do terceiro posto, em 2000, para o quarto, em 2001. Foi superado pelo México, Estado latino-americano com maior IDE no ano passado (US$ 24,731 bilhões contra os US$ 14,706 bilhões do ano anterior).
""Pode-se tomar como exceção porque só a venda do Banamex [banco mexicano] para o Citigroup significou US$ 12,5 bilhões", disse Octavio de Barros, economista-chefe do BBV e conselheiro da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais).

De 5º para 16º
Sobre a Argentina, o relatório informa que, passados três anos de recessão -iniciada em 99-, o volume de investimento ao país retornou, ao final do ano passado, aos mesmos níveis de 1996.
Depois de alcançar o teto de US$ 25 bilhões, em 1999, com a compra da estatal petrolífera YPF pela espanhola Repsol, o ingresso de capitais para a Argentina recuou, de forma sucessiva, nos anos seguintes, até chegar a nível negativo no último trimestre do ano passado. A Argentina caiu de quinto lugar no ranking do países em desenvolvimento que mais captaram investimento estrangeiro em 2000 (US$ 11,1 bilhões) para 16º em 2001 (US$ 3,2 bilhões) -variação negativa de 71,5%.
No ranking global, os EUA se mantiveram como o grande destino de IDE -mas com queda brutal. De US$ 300 bilhões em 2000 para US$ 124,4 bilhões em 2001. A China é o país em desenvolvimento que mais atrai capitais: US$ 46,8 bilhões em 2001 -mais 14,9% em relação a 2000.

Má situação mundial
Os motivadores para o recuo no fluxo de investimento direto foram o menor número de fusões e aquisições por conta da desaceleração da economia mundial e da crise de confiança nas empresas. Os dois fenômenos se agravaram depois do 11 de setembro. Para este ano, as projeções tampouco são animadoras: entre janeiro e julho, as fusões e aquisições no mercado mundial caíram 40%.
No caso do Brasil, a previsão de Octavio de Barros é que o ingresso de capital estrangeiro some US$ 16 bilhões este ano, o suficiente para cobrir o déficit em conta corrente. Para 2003, o fluxo pode diminuir a US$ 14 bilhões.
"O Brasil tem potencial de elevar o fluxo de investimento direto estrangeiro para US$ 20 bilhões, US$ 25 bilhões, mesmo com cenário mundial adverso", diz o economista Luciano Coutinho.
"Apenas China e Brasil exibem diversidade para conseguir investimento em novos projetos e fusões e aquisições. Mas é importante crescimento. País que não cresce perde charme para atrair investimento", completa Barros.


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