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FLUXO DE CAPITAIS
Argentina recebe 71,5% a menos de recursos e puxa queda de 11% na AL; no mundo, volume cai pela metade
Investimento no Brasil recua 31% em 2001
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Brasil e Argentina foram os
grandes responsáveis pela segunda queda anual consecutiva do
volume de investimentos diretos
estrangeiros (IDE) para a América Latina e o Caribe. Segundo relatório divulgado ontem pela
Unctad (braço da ONU para o comércio e desenvolvimento), a região recebeu, em 2001, 11% a menos em investimentos diretos que
no ano anterior. Foram US$ 85,4
bilhões, ante os US$ 95,4 bilhões
de 2000.
O resultado, entretanto, não pode ser considerado um desastre: o
relatório revela que o fluxo de investimento estrangeiro direto em
todo o planeta caiu pela metade.
Se em 2000 as transações envolveram US$ 1,491 trilhão, no ano passado não superaram os US$ 735,1
bilhões (-51%). Os investimentos
diretos em países desenvolvidos
recuaram ainda mais -59,01%.
Os recursos destinados ao Brasil
recuaram 31,49% -de US$ 32,8
bilhões para US$ 22,4 bilhões, no
ano passado. Segundo a Unctad,
um dos fatores para a retração de
investimentos no país foi a quase
total paralisação no programa de
privatizações. Há ainda o agravante do declínio no volume de
IDE para o setor de serviços (telecomunicações e financeiro).
No ranking dos países em desenvolvimento que mais atraem
recursos, o Brasil passou do terceiro posto, em 2000, para o quarto, em 2001. Foi superado pelo
México, Estado latino-americano
com maior IDE no ano passado
(US$ 24,731 bilhões contra os US$
14,706 bilhões do ano anterior).
""Pode-se tomar como exceção
porque só a venda do Banamex
[banco mexicano] para o Citigroup significou US$ 12,5 bilhões", disse Octavio de Barros, economista-chefe do BBV e conselheiro da Sobeet (Sociedade
Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais).
De 5º para 16º
Sobre a Argentina, o relatório
informa que, passados três anos
de recessão -iniciada em 99-, o
volume de investimento ao país
retornou, ao final do ano passado,
aos mesmos níveis de 1996.
Depois de alcançar o teto de
US$ 25 bilhões, em 1999, com a
compra da estatal petrolífera YPF
pela espanhola Repsol, o ingresso
de capitais para a Argentina recuou, de forma sucessiva, nos
anos seguintes, até chegar a nível
negativo no último trimestre do
ano passado. A Argentina caiu de
quinto lugar no ranking do países
em desenvolvimento que mais
captaram investimento estrangeiro em 2000 (US$ 11,1 bilhões) para
16º em 2001 (US$ 3,2 bilhões)
-variação negativa de 71,5%.
No ranking global, os EUA se
mantiveram como o grande destino de IDE -mas com queda brutal. De US$ 300 bilhões em 2000
para US$ 124,4 bilhões em 2001. A
China é o país em desenvolvimento que mais atrai capitais:
US$ 46,8 bilhões em 2001 -mais
14,9% em relação a 2000.
Má situação mundial
Os motivadores para o recuo no
fluxo de investimento direto foram o menor número de fusões e
aquisições por conta da desaceleração da economia mundial e da
crise de confiança nas empresas.
Os dois fenômenos se agravaram
depois do 11 de setembro. Para este ano, as projeções tampouco são
animadoras: entre janeiro e julho,
as fusões e aquisições no mercado
mundial caíram 40%.
No caso do Brasil, a previsão de
Octavio de Barros é que o ingresso de capital estrangeiro some
US$ 16 bilhões este ano, o suficiente para cobrir o déficit em
conta corrente. Para 2003, o fluxo
pode diminuir a US$ 14 bilhões.
"O Brasil tem potencial de elevar o fluxo de investimento direto
estrangeiro para US$ 20 bilhões,
US$ 25 bilhões, mesmo com cenário mundial adverso", diz o economista Luciano Coutinho.
"Apenas China e Brasil exibem diversidade para conseguir investimento em novos projetos e fusões e aquisições. Mas é importante crescimento. País que não
cresce perde charme para atrair investimento", completa Barros.
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