São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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FMI prevê arrocho fiscal se custo da dívida não baixar após eleições

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O Brasil terá que fazer um aperto fiscal adicional se o custo da dívida do país não cair naturalmente depois das eleições. O alerta foi feito ontem pela economista Anne Krueger, vice-diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional).
"Se as atuais altas de juro (sobre a dívida) prevalecerem, terá de haver um aperto adicional", disse ela. "Mas achamos que os mercados reagiram não aos fundamentos macroeconômicos, mas às incertezas eleitorais. Tão logo isso se resolva, veremos uma retomada de taxas mais normais."
Apesar de reconhecer que o custo da dívida continua alto, Krueger disse que o pacote de US$ 30,4 bilhões para o Brasil, anunciado pelo Fundo em agosto, impactou positivamente os mercados.
Segundo ela, as taxas cobradas nos títulos do governo, que chegara a 2.300 pontos acima da Libor (taxa básica inglesa), caiu para 1.700 pontos e o real estabilizou-se num patamar de R$ 3,10 a R$ 3,15 por dólar, abaixo dos R$ 3,47 verificado no final de julho.
A diretora do Fundo disse confiar que, seja qual for o resultado das eleições, o novo presidente brasileiro irá manter os termos do acordo. "O objetivo do programa é permitir ao Brasil atravessar este período difícil de incerteza. O programa está baseado no fato de que as políticas macroeconômicas do Brasil são sensatas e que o futuro presidente desejará mantê-lo", afirmou. "Se o eleito não quiser continuar com as políticas, o que nós consideramos improvável, ele vai nos mostrar isto no início do jogo, e o empréstimo não terá o menor significado."
Krueger informou que o valor dos recursos do FMI disponíveis para novos empréstimos sofreu uma queda em decorrência do aumento no número de pacotes de ajuda a países como o Brasil e Turquia. Mas afirmou que o patamar atual ainda é "seguro". Entre abril de 2001 e setembro de 2002, o caixa do Fundo para novos financiamentos caiu de US$ 103 bilhões para US$ 68 bilhões.
"Os ataques terroristas impactaram a economia global num momento em que ela já estava se desacelerando", disse ela. "Isso aumentou a demanda por empréstimos do FMI".
Sem mencionar números, Krueger disse que o Fundo irá anunciar, nos próximos dias, uma previsão de expansão para a economia global "num ritmo abaixo do estimado" anteriormente. Ela não quis prever o impacto de uma possível invasão militar do Iraque sobre a economia mundial ou sobre a economia do país. Mas disse que uma "solução construtiva" seria mais benéfica para o ambiente econômico.
Krueger disse que a Argentina enfrentaria "penalidades" caso suspenda o pagamento das dívidas com os organismos financeiros internacionais.
"As autoridades argentinas são conscientes das penalidades que teriam caso se isolem da comunidade financeira internacional", disse Krueger em Washington.
Segundo ela, o FMI busca fechar um acordo transitório com o país que inclua a rolagem das dívidas que vencem até o final de 2003 e somam cerca de US$ 15 bilhões.


Colaborou João Sandrini, de Buenos Aires


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