São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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VIZINHO EM CRISE

FMI adia receber parcela de US$ 1 bi, mas exige que superávit primário suba de 2,4% para 3,2% do PIB

Argentina aceita fazer esforço fiscal maior

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

Apesar da aparente dureza do governo argentino com relação ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e do reconhecimento do organismo de crédito pelos erros cometidos no país na década de 90, o país cedeu e oficializou o aumento do superávit primário de 2,4%, em 2004, para 3,2% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2005. Isso significa mais dinheiro para pagar a dívida em moratória.
A contrapartida do Fundo veio em seguida. O FMI aceitou adiar por um ano o pagamento de cinco parcelas de juros, no valor total de US$ 1,1 bilhão, conforme pediu a Argentina. Até janeiro, porém, o país terá que saldar dívidas de US$ 1,4 bilhão com o organismo internacional.
No memorando que informa o prorrogação do prazo, o FMI pediu que a Argentina "complete uma ampla reestruturação da dívida", que deixou de ser paga em dezembro de 2001, unilateralmente. Desde o ano passado, o governo argentino tenta negociar com os credores uma retomada dos pagamentos -com um desconto nos valores devidos. Ontem, porém, o governo deu sinais de que vai continuar encenando a linha dura.
O presidente Néstor Kirchner substituiu o diretor do Banco Central da Argentina (BCA) Prat-Gay pelo ex-secretário de Relações Externas Martin Redrado. A mudança fortalece o ministro da Economia, Roberto Lavagna, que ultimamente travava uma disputa com Gay por causa das diferenças entre os dois com relação à renegociação da dívida em moratória. Gay tinha posições mais flexíveis, portanto, pró-FMI.
Muitos analistas argentinos acreditam, porém, que Kirchner quer "colocar seus homens" no BC, que é independente. Gay já ocupava o posto quando Kirchner assumiu, em maio de 2003.
O governo ainda não terminou de definir o superávit total para 2005. Estrategicamente, o Ministério da Economia não anunciou o esforço fiscal das províncias em 2005, mas, segundo a Folha apurou, poderá chegar a 1%. O aperto para o ano que vem chegaria então a 4,22% do PIB, porcentagem próxima aos 4,25% acordados para este ano entre o Brasil e o FMI, valor que o presidente Néstor Kirchner havia considerado exagerado.
Neste ano, o acordo da Argentina com o FMI era de superávit de 3% do PIB (2,4% da nação e 0,6% das províncias), mas a economia chegou a cerca de 4% do PIB. Somente as províncias deverão ser responsáveis por 1,7% do PIB neste ano, segundo o governo.
De acordo com uma fonte do Ministério de Economia, considerando que o valor destinado ao pagamento de dívidas subiu de 2,1% em 2004 para 3% do PIB em 2005, e que o orçamento do ano que vem prevê aumento de 4% do PIB, haverá US$ 3,5 bilhões a mais para o pagamento de dívidas.

Negociação
No entanto, o governo vem reafirmando sistematicamente que não vai aumentar a proposta de pagar 25% da dívida em moratória. Fontes do governo afirmam, porém, que a Economia quer ter recursos suficientes para quando as negociações chegarem ao mercado, quando, de fato, poderá haver anuncio de melhora. A previsão é que o governo comece a trocar os 152 títulos em "default", que somam mais de US$ 100 bilhões, em janeiro.
Apesar do maior aperto fiscal em 2005, o governo sinalizou que vai aumentar os gastos em uma proporção maior do que o aumento da arrecadação no ano que vem. De acordo com o orçamento enviado ao Congresso, os gastos devem aumentar 14% com relação às despesas deste ano, enquanto espera-se aumento de 12% nos recursos de 2005 em comparação com a arrecadação deste ano.
A expectativa de aumento de gastos se verifica no valor destinado ao Ministério do Planejamento. Neste ano, esse ministério, responsável pelas obras pública, recebeu 5,059 bilhões de pesos (cerca do mesmo valor em reais). Em 2005, serão 7,423 bilhões de pesos, um aumento de 46,7%.
No primeiro semestre, a economia argentina cresceu 9%, segundo dados atualizados ontem. O desemprego, porém, aumentou de 14,3% para 14,7%. Segundo Lavagna, em julho, a desocupação caiu para 14,4%.


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