|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIZINHO EM CRISE
FMI adia receber parcela de US$ 1 bi, mas exige que superávit primário suba de 2,4% para 3,2% do PIB
Argentina aceita fazer esforço fiscal maior
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
Apesar da aparente dureza do
governo argentino com relação ao
FMI (Fundo Monetário Internacional) e do reconhecimento do
organismo de crédito pelos erros
cometidos no país na década de
90, o país cedeu e oficializou o aumento do superávit primário de
2,4%, em 2004, para 3,2% do PIB
(Produto Interno Bruto) em 2005.
Isso significa mais dinheiro para
pagar a dívida em moratória.
A contrapartida do Fundo veio
em seguida. O FMI aceitou adiar
por um ano o pagamento de cinco
parcelas de juros, no valor total de
US$ 1,1 bilhão, conforme pediu a
Argentina. Até janeiro, porém, o
país terá que saldar dívidas de
US$ 1,4 bilhão com o organismo
internacional.
No memorando que informa o
prorrogação do prazo, o FMI pediu que a Argentina "complete
uma ampla reestruturação da dívida", que deixou de ser paga em
dezembro de 2001, unilateralmente. Desde o ano passado, o
governo argentino tenta negociar
com os credores uma retomada
dos pagamentos -com um desconto nos valores devidos. Ontem, porém, o governo deu sinais
de que vai continuar encenando a
linha dura.
O presidente Néstor Kirchner
substituiu o diretor do Banco
Central da Argentina (BCA) Prat-Gay pelo ex-secretário de Relações Externas Martin Redrado. A
mudança fortalece o ministro da
Economia, Roberto Lavagna, que
ultimamente travava uma disputa
com Gay por causa das diferenças
entre os dois com relação à renegociação da dívida em moratória.
Gay tinha posições mais flexíveis,
portanto, pró-FMI.
Muitos analistas argentinos
acreditam, porém, que Kirchner
quer "colocar seus homens" no
BC, que é independente. Gay já
ocupava o posto quando Kirchner assumiu, em maio de 2003.
O governo ainda não terminou
de definir o superávit total para
2005. Estrategicamente, o Ministério da Economia não anunciou
o esforço fiscal das províncias em
2005, mas, segundo a Folha apurou, poderá chegar a 1%. O aperto
para o ano que vem chegaria então a 4,22% do PIB, porcentagem
próxima aos 4,25% acordados para este ano entre o Brasil e o FMI,
valor que o presidente Néstor
Kirchner havia considerado exagerado.
Neste ano, o acordo da Argentina com o FMI era de superávit de
3% do PIB (2,4% da nação e 0,6%
das províncias), mas a economia
chegou a cerca de 4% do PIB. Somente as províncias deverão ser
responsáveis por 1,7% do PIB neste ano, segundo o governo.
De acordo com uma fonte do
Ministério de Economia, considerando que o valor destinado ao
pagamento de dívidas subiu de
2,1% em 2004 para 3% do PIB em
2005, e que o orçamento do ano
que vem prevê aumento de 4% do
PIB, haverá US$ 3,5 bilhões a mais
para o pagamento de dívidas.
Negociação
No entanto, o governo vem reafirmando sistematicamente que
não vai aumentar a proposta de
pagar 25% da dívida em moratória. Fontes do governo afirmam,
porém, que a Economia quer ter
recursos suficientes para quando
as negociações chegarem ao mercado, quando, de fato, poderá haver anuncio de melhora. A previsão é que o governo comece a trocar os 152 títulos em "default",
que somam mais de US$ 100 bilhões, em janeiro.
Apesar do maior aperto fiscal
em 2005, o governo sinalizou que
vai aumentar os gastos em uma
proporção maior do que o aumento da arrecadação no ano que
vem. De acordo com o orçamento
enviado ao Congresso, os gastos
devem aumentar 14% com relação às despesas deste ano, enquanto espera-se aumento de
12% nos recursos de 2005 em
comparação com a arrecadação
deste ano.
A expectativa de aumento de
gastos se verifica no valor destinado ao Ministério do Planejamento. Neste ano, esse ministério, responsável pelas obras pública, recebeu 5,059 bilhões de pesos (cerca do mesmo valor em reais). Em
2005, serão 7,423 bilhões de pesos,
um aumento de 46,7%.
No primeiro semestre, a economia argentina cresceu 9%, segundo dados atualizados ontem. O
desemprego, porém, aumentou
de 14,3% para 14,7%. Segundo Lavagna, em julho, a desocupação
caiu para 14,4%.
Texto Anterior: Mercado financeiro: Agência de risco aumenta nota do Brasil Próximo Texto: BNDES abrirá escritório em Buenos Aires Índice
|