São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 2006

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Fundo de pensão não vê solução para conflito na Brasil Telecom

Presidente da Previ afirma que a crise na Telecom Italia dificulta solução para a superposição de licenças da TIM e da BrT e pede compreensão da Anatel

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A ANGRA DOS REIS

Os acionistas da BrT (Brasil Telecom, terceira maior empresa de telefonia do país, com atuação em nove Estados e no Distrito Federal) têm um mês para resolver o problema da superposição de licenças para telefonia celular e para ligações de longa distância existentes entre sua subsidiária Brasil Telecom Celular e a TIM (Telecom Italia Mobile).
O prazo foi dado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e, caso não seja cumprido, a empresa poderá sofrer intervenção.
A solução para o problema depende de mudança no quadro societário, uma vez que a Telecom Itália participa do controle acionário da Brasil Telecom (que controla a Brasil Telecom Celular) e controla as operações da TIM em Estados onde a BrT também atua.
Sem uma solução à vista, os fundos de pensão, que fazem parte do controle acionário da BrT, ao lado do Citigroup e da Telecom Italia, apelam para a compreensão da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
"Não temos o que fazer. As coisas estão fugindo do controle de algumas das partes e da própria empresa. Esperamos que a Anatel analise a situação com carinho", afirmou o presidente da Previ (Caixa de Previdência dos Empregados do Banco do Brasil), Sérgio Rosa. A Previ lidera o bloco de fundos de pensão ligados a estatais acionistas da BrT.
De fato, não parece haver solução à vista. O prazo dado pela Anatel aos sócios para resolverem a superposição de licenças se esgota no dia 28 de outubro. Segundo os dirigentes dos fundos de pensão, a crise que estourou no comando do grupo Telecom Italia, na Europa, tornada pública na semana passada, deixou a situação da Brasil Telecom ainda mais confusa.
No dia 11, a Telecom Italia anunciou, em teleconferência para o mercado financeiro internacional, uma guinada em sua estratégia de negócios, com a separação de suas redes de telefonia fixa e de telefonia celular. Foi noticiado, também, que as operações da TIM no Brasil podem ser vendidas.
Houve uma reação negativa na Itália às mudanças, e o responsável por elas, Marco Tronchetti Provera, foi afastado da presidência do grupo na sexta-feira. A troca de comando na direção da Telecom Italia tornou ainda mais turvo o cenário da Brasil Telecom, já que o sócio italiano tem 38% do capital da empresa Solpart, que tem o controle acionário da BrT.
Rosa diz que os fundos de pensão e o Citi não podem resolver o problema sem a Telecom Italia. Para os fundos, não está clara a estratégia dos italianos para o Brasil. Eles sustentam que a solução natural para o impasse seria a Telecom Italia comprar a participação dos demais acionistas controladores e unificar as operações de telefonia celular da TIM e da BrT, devolvendo à Anatel as licenças excedentes.
No entendimento de Rosa, o grupo italiano tem tido um comportamento errático. No ano passado, quando o grupo Opportunity ainda administrava a Brasil Telecom, a Telecom Italia sinalizou que queria o controle acionário da empresa e ofereceu 341 milhões de euros pela participação (minoritária) do Opportunity na empresa. O negócio parou quando, no final do ano passado, o Citi e os fundos assumiram a gestão da operadora, e afastaram o Opportunity.
Segundo Rosa, naquela ocasião os fundos de pensão propuseram à Telecom Italia vender suas ações pelo valor que elas tinham sido propostas ao Opportunity, e a oferta foi recusada. Ainda segundo ele, há um mês, no entanto, os italianos ofereceram aos fundos vender sua participação acionária na BrT, e eles sugeriram saírem todos juntos.
Os fundos de pensão afirmam que querem se desfazer das ações das teles, adquiridas no leilão de privatização da Telebrás, em 1998.
O presidente da Petros (fundo de pensão dos empregados da Petrobras), Wagner Pinheiro, diz que já comunicou oficialmente tal intenção à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Os fundos querem sair do negócio porque avaliam que a rentabilidade é pequena e os problemas societários, muito complexos. "Deu mais problemas do que alegrias", disse o presidente da Petros.
A Petros avalia que os fundos pagaram muito caro pelas ações das teles porque a privatização da Telebrás, em julho de 1998, aconteceu pouco antes do "estouro da bolha" da internet, que desvalorizou os ativos das teles em todo o mundo. A entidade calcula que, se vender suas ações por preço justo de mercado, sairá do negócio apenas com o rendimento mínimo previsto na meta atuarial, de 6% ao ano, mais a correção monetária.


A repórter viajou a convite da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar


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