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CONJUNTURA
Com juros e dólar altos, empresas prevêem custo maior, consumidor desanimado e elevação da inadimplência
Só exportador escapa da crise em 2003
FÁTIMA FERNANDES
GEORGIA NASCIMENTO
DA REPORTAGEM LOCAL
A alta dos juros e do dólar vai
trazer um final de ano sombrio
para o comércio e para a indústria. O financiamento mais caro e
a desvalorização do real elevaram
os custos das empresas e tiraram
o ânimo do consumidor na melhor época de vendas do ano. O
13º salário pode aliviar os negócios de alguns setores, mas da crise prevista para o início de 2003
quase ninguém escapa, a não ser
os grandes exportadores.
Esse é o cenário traçado por 12
setores consultados pela Folha
para o final deste ano e início do
próximo. Nos próximos seis meses, as empresas devem viver um
período de forte descapitalização,
provocada pela alta de custos e
fraca demanda, especialmente no
caso dos setores que abastecem
apenas o mercado interno.
Mais: a inadimplência das empresas e dos consumidores deve
voltar a subir, já que as dívidas encareceram. Sem contar que em
2003 muda o governo, outro motivo para o mercado ficar apreensivo -pelo menos até que seja
definida a nova equipe econômica e os rumos que vai dar ao país.
"A alta do dólar elevou os custos
das nossas matérias-primas, mas
não conseguimos repassá-la para
os preços. Ao mesmo tempo, a subida dos juros aumentou as dívidas (a maioria em dólar) das empresas que investiram na produção", diz Fábio Mestriner, presidente da Abre, associação da indústria de embalagem.
Eletrônicos
A indústria eletroeletrônica
considera-se uma das maiores vítimas da alta do dólar e dos juros
por ser dependente de insumos
importados e de financiamento.
"O pior é que o dólar varia todo
dia, e isso cria forte pressão inflacionária", afirma Carlos de Paiva
Lopes, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria
Elétrica e Eletrônica).
A indústria já vinha segurando a
produção quando o dólar começou a dar maiores saltos, a partir
de julho. A expectativa, no entanto, era que, passado o período
eleitoral, o mercado financeiro se
acalmasse e, com a proximidade
do final do ano, o consumo voltasse a crescer -um estímulo à
produção e ao emprego.
"Com esse aumento inesperado
das taxas de juros, não dá nem para fazer projeções para este final
de ano", afirma Emílio Alfieri,
economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
"Só depois da eleição vamos ver
se dá para fazer previsões", diz
Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, associação que reúne os
shoppings. "Os empresários não
têm como fazer cálculos e previsões neste momento", diz Paulo
Skaf, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil).
A alta dos juros é nociva para o
comércio porque ao menos 50%
das compras dos consumidores
são financiadas. Em algumas redes, esse percentual chega a 90%
- por exemplo, na Casas Bahia.
Brinquedos
Para a indústria de brinquedos,
que concentra boa parte das vendas de outubro a dezembro, a alta
dos juros prejudicou as negociações de toda a cadeia produtiva,
que negocia prazo de pagamento
de 60 dias, em média. "As conversas entre as indústrias e seus fornecedores e clientes são para encurtar prazos", diz Synésio Batista
da Costa, presidente da Abrinq.
A diminuição dos prazos de pagamento é uma medida adotada
pelas empresas quando percebem
que é possível enfrentar um calote
um pouco mais para a frente.
O consumidor já dá sinais de
que pagar uma dívida em dia está
ficando cada vez mais difícil. A
Servloj, empresa que administra o
crediário de cerca de 600 lojas no
país, constata aumento da inadimplência na primeira quinzena
deste mês -o atraso acima de 180
dias no pagamento do crediário é
da ordem de 9,5% sobre o valor financiado. Em setembro, esse percentual era de 9,1%. Desde junho
a inadimplência vinha em queda.
"Os preços dos combustíveis e
dos alimentos subiram demais, e
os salários não acompanharam.
Sobra, portanto, menos dinheiro
para pagar as contas no final do
mês", diz Oswaldo de Freitas
Queiroz, sócio-diretor da Servloj.
A ACSP também vê mais atraso
no pagamento das contas. Em setembro, a inadimplência líquida
(diferença entre carnês em atraso
e quitados) era de 6,7%. Há um
ano era de 6%. Subiu, mas ainda
está longe dos 20,2% registrados
em abril de 1999.
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