São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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CORREÇÃO CAMBIAL

Débito se refere a títulos que vencem nos próximos dois meses

Governo descarta renovar dívida

JULIANNA SOFIA
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo não deverá renovar cerca de US$ 2,150 bilhões em títulos com correção cambial que vencem nos próximos dois meses, disse à Folha o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rubens Sardenberg.
"Não digo que a gente não vai colocar [novos títulos no lugar], mas é improvável que isso aconteça. Não faz sentido colocar esses papéis se tenho instrumentos bem melhores, que são mais baratos", disse.
Os instrumentos a que ele se refere são títulos corrigidos por outros indexadores, como as LFT's (acompanham os juros de mercado) e os papéis que seguem a variação do IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado).
Além disso, ressaltou ele, o Banco Central continuará a usar, quando julgar necessário, os "swaps" cambiais -operações feitas no mercado futuro que garantem ao investidor correção pela variação da moeda americana. Nos últimos meses, o Banco Central tem empregado esse instrumento para renovar os títulos cambiais.
Segundo Sardenberg, o custo para o governo dos papéis atrelados ao IGP-M (o rendimento ao investidor) tem sido de cerca de 9,5% ao ano, mais a variação da inflação.

"Swap"
Em alguns leilões de "swap" cambial, o BC chegou a pagar ao investidor até 40% de juros, fora a correção cambial. "O Banco Central tem outras implicações, de política monetária e cambial e de prover "hedge" [proteção contra oscilação do câmbio]. Do nosso ponto de vista, devido ao prêmio embutido [taxa de juros paga ao investidor], não tem sentido colocar um papel atrelado ao câmbio", disse.
Segundo Sardenberg, o Tesouro só deve renovar menos de 50% do total da dívida que vence neste mês, em torno de R$ 28 bilhões. Isto é, cerca de R$ 14 bilhões em dinheiro voltariam para as mãos dos investidores, valor que poderia ser aplicado, por exemplo, em dólar, o que traria maior pressão sobre o câmbio.
Mas, dadas as circunstâncias do mercado, Sardenberg avalia que esse percentual de renovação é "expressivo". O total de vencimentos para novembro e dezembro é de R$ 53,1 bilhões.

Colchão para 2003
O secretário-adjunto informou também que o Tesouro vai deixar em caixa pelo menos R$ 26 bilhões para que o próximo governo possa ter folga para pagar a dívida que vence no primeiro trimestre de 2003. Os vencimentos nos três primeiros meses do ano que vem somam R$ 27,9 bilhões.
Para ele, esse dinheiro é suficiente para que o próximo governo tenha alguma tranquilidade para administrar a dívida. Ele avalia que, independentemente de quem vencer as eleições, o próximo governo continuará a captar recursos no mercado com emissões de papéis.
"Eu acho que três meses é mais do que razoável. Nós montamos esse colchão pensando nisso, em deixar margem de manobra para que o próximo governo não tenha que ir ao mercado toda semana rolar dívida."


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