São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 2006

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Volks vai investir R$ 2,5 bi no Brasil; GM cogita R$ 1,5 bi

Após acordo para demissões, VW anuncia um dos maiores aportes no país; montante não inclui crédito do BNDES

Com novos recursos e maior produtividade, montadora quer fabricar mais com menos funcionários; GM depende de aval da matriz


JOSÉ AUGUSTO AMORIM
EDITOR-ASSITENTE DE VEÍCULOS

Se de um lado as montadoras têm reclamado de taxa de juros, impostos altos e real valorizado, de outro elas têm investido cada vez mais. A Volkswagen anunciou ontem, durante o Salão de São Paulo, um de seus maiores investimentos no país, de R$ 2,5 bilhões, valor obtido com recursos próprios após o seu plano de reestruturação ter sido colocado em prática.
Além disso, se a matriz da General Motors aprovar, a filial local aportará R$ 1 bilhão, além dos R$ 500 milhões que costuma investir a cada ano.
Após anunciar a demissão de 3.600 funcionários na fábrica de São Bernardo do Campo até 2008 e outros 700 em Taubaté (SP), a Volkswagen pretende investir R$ 2,5 bilhões entre 2007 e 2012. A montadora aguarda ainda recebimento de um financiamento de R$ 497 milhões do BNDES referentes a projetos anteriores. O banco chegou a suspender o crédito, quando a empresa ameaçou encerrar suas operações no ABC.
"Investimos demais em plantas, agora é hora de investir em produtos", diz Hans-Christian Maergner, presidente da filial brasileira. A produtividade por empregado por ano aumentou 50% entre 2003 e 2006 e deve chegar a 75% em 2009. Ou seja, a empresa vai fazer mais carros com menos empregados.
O dinheiro será dividido proporcionalmente para a produção em cada uma das fábricas. O primeiro aporte será na unidade de Taubaté, onde são feitos 900 produtos da família Gol por dia. Depois será a vez de São Bernardo, onde a situação é mais complicada. O Fox destinado à Europa terá sua produção transferida para São José dos Pinhais (PR), onde já é feita a versão para o mercado nacional. Somem-se a isso as demissões, e a produção deve cair dos atuais 900 carros diários para 800 no próximo ano.
Mesmo com a transferência do Fox, serão demitidos 900 funcionários paranaenses. As negociações começam neste mês, e o processo terminará no fim do próximo. A mudança não é garantia de emprego: as vendas têm caído a cada ano. Em 2005, foram exportados 85 mil Fox, contra 65 mil neste ano. Em 2007, a expectativa é que a Europa compre 50 mil carros. "O custo cai, mas não aumenta a exportação. Melhora a margem", diz Maergner.
Para ele, o ideal é que o dólar fique na casa de R$ 2,60. Se a montadora reduziu suas exportações, ainda é a responsável pelos produtos vendidos na Argentina e no México, onde o Gol também é o mais vendido.
Segundo o vice-presidente de marketing e vendas da empresa, Berthold Krueger, o crescimento será nos países emergentes: a taxa esperada é de 78% até 2015, contra 7% dos países desenvolvidos.
Investindo em produtos, a VW espera ampliar o mercado. Daí um investimento tão grande no Brasil -na Argentina, há outra planta, onde é produzida a SpaceFox. Krueger diz que a gama passou de 11 veículos em 2001 para 16 hoje. Os lançamentos devem chegar em 2008, já que os de 2007 são fruto de investimentos anteriores.

GM
A General Motors também reclama do real valorizado. Segundo o presidente Ray Young, as exportações passaram de 210 mil unidades no ano passado para 160 mil neste ano. Em 2007, serão 10% a menos. A receita, no entanto, ficou estável em US$ 1,6 bilhão. "Tivemos de aumentar o valor do carro." Maergner compara: "É como se vendêssemos o carro com um cheque no porta-luvas".
Young diz que seu foco agora é o biênio 2009-2010. No primeiro trimestre de 2007, ele tentará convencer a matriz de que é melhor produzir no Brasil do que na China, no México ou na Coréia do Sul. Se tiver sucesso, investirá R$ 1 bilhão a mais no período -serão novos produtos e novo ferramental. Mas, antes disso, ele vai gastar US$ 100 milhões no próximo ano para ampliar o centro de tecnologia e de design, além do campo de provas. A GM do Brasil assumiu a responsabilidade global de desenvolver picapes e utilitários esportivos médios e ampliará o quadro de 660 para 1.200 engenheiros. Até 2008, serão 300 desenhistas, contra os atuais 160 que trabalham em São Caetano do Sul (SP).

Boas perspectivas
Os investimentos das montadoras, de acordo com especialistas, não são contraditórios com as demissões anunciadas este ano. "No caso das duas [Volkswagen e GM], o motivo das demissões não era redução de capacidade, mas sim readequação de custos e redistribuição da produção", diz Richard Dubois, diretor-associado da consultoria AT Kearney.
Ele lembra que as perspectivas para este ano são boas. "A indústria deve registrar recorde de produção. O ano que vem talvez não seja tão aquecido, mas ninguém fala em redução."


Colaborou a Reportagem Local

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