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São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 2003

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QUEDA-DE-BRAÇO

Às vésperas do Copom, CNI e Fiesp pressionam por redução superior a 1 ponto na taxa Selic; Piva pede taxa a 17,5%

Indústria quer corte mais "ousado" dos juros

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Às vésperas da decisão sobre o destino dos juros para o próximo mês, os principais representantes da indústria brasileira cobraram mais "ousadia" do Copom (Comitê de Política Monetária) e um corte superior a um ponto percentual na taxa básica, a Selic.
O mercado financeiro projeta uma redução de um ponto percentual na taxa na reunião do comitê que começa hoje e termina amanhã, de acordo com pesquisa feita pelo próprio Banco Central. Mas, segundo Armando Monteiro Neto, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), "há espaço para [o juro] cair mais". Segundo Monteiro, "uma redução maior criaria um ambiente estimulador para a atividade econômica".
Já o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, afirmou que uma queda em torno de 1,5 ponto percentual -de 19% para 17,5% ao ano- seria importante para influenciar a decisão de compra dos consumidores neste final de ano. "A produção e o consumo veriam com bons olhos uma redução mais efetiva."
Segundo o presidente da Fiesp, todos os indicadores econômicos mostram que o BC pode ter uma posição mais "ousada" e fazer uma redução "mais efetiva" da taxa de juros.
No entanto, segundo Piva, "o mercado financeiro e o BC são agentes mais conservadores do que os empresários da indústria". Piva disse que o setor produtivo vem sendo consultado pelo BC nas pesquisas semanais sobre projeções de inflação, crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), juros e outros indicadores.
Essas pesquisas são divulgadas no boletim Focus, do BC, e refletem as expectativas do mercado financeiro sobre os principais indicadores econômicos. "Estamos tentando convencê-lo [o Banco Central]; mas o BC tem uma posição conservadora que casa com a do mercado financeiro", observou o presidente da Fiesp.
Para Piva, a constatação de que há 20 anos o país vem tendo um crescimento econômico quase nulo é argumento suficiente para mostrar que a saída da estagnação só será possível com a redução do custo do capital.
Os industriais também protestaram contra a carga tributária que incide sobre os investimentos em máquinas e equipamentos.
"Enquanto o discurso do governo e dos parlamentares reconhece a necessidade de desonerar os investimentos, vemos na prática a possibilidade de o Congresso agir no sentido oposto na votação da reforma tributária, por pressão dos governadores do Sul e do Sudeste", disse Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

"Spread"
Além de um corte maior na Selic, os industriais defenderam também a redução do "spread" bancário. "Spread" é a diferença entre o custo de captação dos bancos e o que eles cobram nas operações de financiamento.
"O financiamento dos investimentos é fundamental para a retomada do crescimento econômico. Há grandes distorções nessa área", afirmou Monteiro.
No entanto, segundo ele, "não há espaço para soluções voluntaristas, artificiais ou demagógicas" para reduzir o alto custo do dinheiro. Ele pregou uma "solução de mercado", que passa pela redução dos tributos que incidem sobre as operações bancárias, a diminuição do depósito compulsório dos bancos no BC e o aumento da concorrência no setor.
A afirmação foi feita durante a abertura do seminário "Spread bancário e taxas de juros", realizado na sede da Fiesp. Para o presidente da Febraban, Gabriel Jorge Ferreira, o "spread" é alto devido aos custos administrativos e operacionais dos bancos e à pesada tributação. "O sistema está mais competitivo, mas ainda precisa ganhar escala", afirmou.


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