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LUÍS NASSIF
Economia e
crises no Brasil
A economia brasileira se
encontra, hoje em dia, em
uma situação próxima ao pré-governo Sarney. As características econômicas da crise são
diferentes, mas a lógica política
é a mesma.
O chamado modelo neoliberal-financeiro esgotou-se em
1999, assim como, a partir de
meados dos anos 70, havia se
esgotado o modelo nacional-desenvolvimentista. Lá como
cá, o modelo econômico que
dava sustentação aos interesses
econômicos dominantes torna-se disfuncional, mas os interesses econômicos que dele se beneficiam conservam poder político e/ou ideológico, levando à
paralisia da política econômica.
A agonia do modelo nacional-desenvolvimentista começou com a primeira crise do petróleo, em 1974. Foi-se empurrando com a barriga no governo Geisel, entrou em processo
agônico no governo Figueiredo
e explodiu no governo Sarney.
Nesse período não se podia mexer no câmbio, nos juros, nas
aplicações ao portador. Foi
preciso a loucura de Fernando
Collor para cortar o nó górdio
da crise.
A situação é a mesma de agora. Não se pode pensar em reduzir juros, mexer no câmbio
ou na receita fiscal. Empurra-se com a barriga, e a doença
acaba se manifestando ou na
superinflação (como nos governos Figueiredo e Sarney) ou no
crescimento insustentável da
dívida pública (como no período FHC-Lula).
O que leva o país a essa marcha continuada da insensatez?
Inicialmente, é importante
não analisar o modelo como
uma confluência de forças da
mesma natureza, uma aliança
orgânica. Há pelo menos três
agentes distintos, nem eles próprios atuando de forma homogênea, que se aliam de forma
circunstancial.
O primeiro deles é o agente
político, as forças que controlam o governo e a política econômica ou as forças emergentes da oposição. Nos períodos
eleitorais -e apenas neles-
manifestam-se os eleitores. Fora deles, os grupos econômicos
mais influentes. Daí o papel regenerador das eleições no rompimento da inércia.
O segundo grupo são os agentes econômicos, que se dividem
em três linhas: os interesses
consolidados, os grupos emergentes e a rapa -pequenas e
médias empresas sem expressão política e cidadão comum.
Com a disfuncionalidade do
modelo econômico, os setores
econômicos emergentes vão
crescendo, ganhando musculatura, até obter expressão política e pressionar por mudanças
adequadas ao novo ambiente.
As alianças econômicas garantem governabilidade, mas
não votos. O instrumento que
garante os votos, mesmo nas
fases em que o modelo é claramente predador (como foi nos
anos 80 e agora), é a ideologia.
Há a necessidade dos "publicistas" incumbidos de criar o discurso legitimador, que permite
aos partidos políticos ganhar
eleições.
O primeiro nível de "publicistas" são os intelectuais -em
geral, economistas (ou "financistas", como os denominava
Manuel Bomfim) que se tornam porta-vozes dos novos
grupos emergentes, criando o
discurso capaz de dar sobrevida ao modelo, mesmo após seu
esgotamento. O segundo nível é
a imprensa, que confere dimensão nacional e expressão
política ao discurso do intelectual.
Nos próximos dias, vamos
detalhar melhor esse jogo.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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