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São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 2003

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FOGO AMIGO

Planalto repreende banco pela compra de ações da controladora da Vale

Lula e ministros criticam investimentos do BNDES

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO

Cresce a reprovação, dentro do governo, a decisões recentes tomadas pelo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa.
Além de ter sido duramente repreendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião com ministros na quinta-feira passada pela compra de ações da Valepar (empresa que controla a mineradora Vale do Rio Doce), Lessa também tem sido criticado pela forma como concedeu dois empréstimos a empresários espanhóis e portugueses no setor energético.
Para a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, o BNDES fez um mau negócio nas três operações. A Folha apurou que Lula concorda com ela e que passou a considerar a hipótese de demitir Lessa na reforma ministerial que pretende realizar até o final do ano.
No entanto, ainda não há decisão sobre o assunto, principalmente porque ainda são confusas as circunstâncias da compra das ações da Valepar.
O BNDES alega ter protegido o interesse nacional ao autorizar a operação da Valepar. O Planalto não vê justificativa para tal operação ter sido aprovada sem autorização direta do presidente.

Desnacionalização
No último dia 8, a BNDESPar (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Participações), subsidiária do BNDES, adquiriu a participação de 10,4% que o clube de investimentos Investvale detinha no capital votante da Valepar.
O motivo apresentado para a operação foi a preocupação do BNDES com a possibilidade de a mineradora vir um dia a ser controlada por estrangeiros.
"Temos uma preocupação geral, mais ampla, de preservar o controle de empresas que são estratégicas para o país em mãos nacionais", afirmou dias depois Fabio Erber, diretor da área de Operações Indiretas do BNDES.
Na quinta-feira passada, numa reunião que deveria discutir política industrial, Lula chamou a atenção de Lessa em tom duro.

Negócio ruim
O presidente disse que a compra das ações da Valepar foi um negócio ruim e que passou uma idéia errada aos investidores: a de que o governo poderia reestatizar empresas privatizadas.
Mais: na frente dos ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci Filho (Fazenda), Luiz Gushiken (Comunicações de Governo), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Guido Mantega (Planejamento), Lula disse que Lessa errou ao não consultar seus superiores no governo.
O presidente se referiu especificamente à falta de consulta a Furlan e a Mantega, membros do Conselho de Administração do BNDES que, nos últimos dias, reforçaram suas habituais críticas à gestão de Lessa no BNDES.
Palocci também não foi consultado. Segundo a Folha apurou no BNDES, o ministro Dirceu teria sido avisado da operação no dia 5 de novembro, três dias antes de a diretoria do banco aprová-la.
A comunicação a Dirceu teria sido feita durante visita do ministro à sede do banco no Rio. Por meio de sua assessoria, o ministro negou ontem ter sido informado previamente da operação.
Além de contrariado com a compra das ações da Vale, Lula comprou a briga de Dilma contra Lessa. Nas reuniões do governo, Dilma tem criticado dois empréstimos concedidos pelo BNDES.
Um deles, da ordem de R$ 670 milhões, foi dado ao grupo português EDP, que, em parceria com Furnas, vai construir uma usina hidrelétrica no rio Tocantins.
O segundo empréstimo criticado por Dilma foi dado pelo BNDES a um grupo espanhol que deseja construir uma usina termoelétrica no Nordeste.
Para Dilma, nos dois negócios, o preço de energia cobrado será muito alto. Na avaliação da cúpula do governo, Lessa não deveria usar o dinheiro do banco em investimentos desse tipo.


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