|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOGO AMIGO
Planalto repreende banco pela compra de ações da controladora da Vale
Lula e ministros criticam investimentos do BNDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
Cresce a reprovação, dentro do
governo, a decisões recentes tomadas pelo presidente do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa.
Além de ter sido duramente repreendido pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em reunião
com ministros na quinta-feira
passada pela compra de ações da
Valepar (empresa que controla a
mineradora Vale do Rio Doce),
Lessa também tem sido criticado
pela forma como concedeu dois
empréstimos a empresários espanhóis e portugueses no setor
energético.
Para a ministra de Minas e
Energia, Dilma Rousseff, o
BNDES fez um mau negócio nas
três operações. A Folha apurou
que Lula concorda com ela e que
passou a considerar a hipótese de
demitir Lessa na reforma ministerial que pretende realizar até o final do ano.
No entanto, ainda não há decisão sobre o assunto, principalmente porque ainda são confusas
as circunstâncias da compra das
ações da Valepar.
O BNDES alega ter protegido o
interesse nacional ao autorizar a
operação da Valepar. O Planalto
não vê justificativa para tal operação ter sido aprovada sem autorização direta do presidente.
Desnacionalização
No último dia 8, a BNDESPar
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Participações), subsidiária do BNDES,
adquiriu a participação de 10,4%
que o clube de investimentos Investvale detinha no capital votante da Valepar.
O motivo apresentado para a
operação foi a preocupação do
BNDES com a possibilidade de a
mineradora vir um dia a ser controlada por estrangeiros.
"Temos uma preocupação geral, mais ampla, de preservar o
controle de empresas que são estratégicas para o país em mãos
nacionais", afirmou dias depois
Fabio Erber, diretor da área de
Operações Indiretas do BNDES.
Na quinta-feira passada, numa
reunião que deveria discutir política industrial, Lula chamou a
atenção de Lessa em tom duro.
Negócio ruim
O presidente disse que a compra
das ações da Valepar foi um negócio ruim e que passou uma idéia
errada aos investidores: a de que o
governo poderia reestatizar empresas privatizadas.
Mais: na frente dos ministros
José Dirceu (Casa Civil), Antonio
Palocci Filho (Fazenda), Luiz
Gushiken (Comunicações de Governo), Luiz Fernando Furlan
(Desenvolvimento), Luiz Dulci
(Secretaria Geral) e Guido Mantega (Planejamento), Lula disse que
Lessa errou ao não consultar seus
superiores no governo.
O presidente se referiu especificamente à falta de consulta a Furlan e a Mantega, membros do
Conselho de Administração do
BNDES que, nos últimos dias, reforçaram suas habituais críticas à
gestão de Lessa no BNDES.
Palocci também não foi consultado. Segundo a Folha apurou no
BNDES, o ministro Dirceu teria
sido avisado da operação no dia 5
de novembro, três dias antes de a
diretoria do banco aprová-la.
A comunicação a Dirceu teria
sido feita durante visita do ministro à sede do banco no Rio. Por
meio de sua assessoria, o ministro
negou ontem ter sido informado
previamente da operação.
Além de contrariado com a
compra das ações da Vale, Lula
comprou a briga de Dilma contra
Lessa. Nas reuniões do governo,
Dilma tem criticado dois empréstimos concedidos pelo BNDES.
Um deles, da ordem de R$ 670
milhões, foi dado ao grupo português EDP, que, em parceria com
Furnas, vai construir uma usina
hidrelétrica no rio Tocantins.
O segundo empréstimo criticado por Dilma foi dado pelo
BNDES a um grupo espanhol que
deseja construir uma usina termoelétrica no Nordeste.
Para Dilma, nos dois negócios, o
preço de energia cobrado será
muito alto. Na avaliação da cúpula do governo, Lessa não deveria
usar o dinheiro do banco em investimentos desse tipo.
Texto Anterior: Luís Nassif: Economia e crises no Brasil Próximo Texto: Banco diz ter visado controle do conselho Índice
|