São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Pessimismo em alta nos EUA


Aperto de crédito vai de bancos a consumidor americano; Nouriel Roubini agora fala em "colapso geral" dos mercados

O PESSIMISMO subiu de tom mais uma vez nos EUA. Mesmo um diretor do Fed, Randall Kroszner, que pretendia acalmar espíritos e sugerir que o Fed não deve cortar juros em breve, acabou por dizer na sexta-feira que a economia passará por "tempos bicudos" antes de melhorar.
Para não jogar a toalha, há quem recorra a aritméticas macroeconômicas a fim de argumentar que a recessão ainda está longe de ser favas contadas. Discute-se, por exemplo, o efeito marginal da queda do valor dos imóveis no gasto do consumidor. Os americanos podem abrir linhas de crédito baseadas no valor de suas casas, podem refinanciar uma hipoteca antiga e gastar a diferença etc. Podiam, pois os juros sobem, o valor das casas cai e, assim, a oportunidade de ganhar com o refinanciamento, para não mencionar o impacto da redução do "efeito riqueza" (do valor dos imóveis) na inclinação a gastar mais. Perguntava-se, a seguir, se tal queda na demanda doméstica seria compensada pela alta das exportações, dada a queda do dólar. Mas, feitas tais contas, para o bem ou para o mal, a conclusão era que tudo permanece imprevisível, dada a incerteza sobre o impacto do rombo das instituições financeiras.
Como o cálculo de tais perdas varia entre US$ 100 bilhões e US$ 400 bilhões, a estimativa de impacto na oferta de crédito fica ainda mais dispersa. Segundo uma "conta no guardanapo" de Jan Hatzius, economista-chefe do Goldman Sachs nos EUA, a redução de crédito chegaria a US$ 2 trilhões; concentrado num ano só, tal aperto provocaria uma "recessão substancial".
Segundo Kroszner, os tempos ficarão bicudos, sim, devido à baixa no preço das residências, que limitará crédito e consumo, baixa que terá outra rodada devido à onda de reajustes nas taxas de juros das hipotecas de segunda linha, com mais calotes e baixas na construção civil. E porque o petróleo caro comerá a renda do americano e, provável, as empresas investirão menos.
Danielle DiMartino e John Duca, pesquisadores do Fed, estimam que o grosso dos reajustes de juros das hipotecas vai ocorrer entre março e outubro de 2008. Mais bancos endurecem as exigências para a concessão de crédito imobiliário até para clientes de primeira linha: de 15%, em abril, passaram a 41% em outubro, o que vai piorar a crise imobiliária. O fenômeno, mais ou menos intenso, se repete em outros mercados de crédito para o consumidor.
O mau humor atravessou o Atlântico. O presidente do Banco da Inglaterra (o BC deles), Mervyn King, disse na semana passada que 2008 será o pior ano para a economia britânica em uma década, mesmo com corte de juros. Nouriel Roubini, um economista-catástrofe que, no entanto, tem acertado seus prognósticos sobre a crise, diz que o juro básico nos Estados Unidos cairá a 4% em janeiro e a 3% ao final de 2008.
Para Roubini, há risco de "severo" aperto de crédito e de liquidez, de "colapso generalizado do sistema financeiro, em magnitude que jamais vimos". Haveria corridas contra bancos, quebra de corretoras e "hedge funds" e colapsos desordenados no mercado de derivativos e de crédito de curto prazo, o que redundaria em alta geral de juros e numa seca geral de crédito: recessão feia.

vinit@uol.com.br


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