São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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Receita autua 12 empresas em R$ 513 mi

Fisco diz que elas devem tributos federais por supostamente terem se beneficiado de exportação irregular de derivados de soja

Empresas já foram autuadas pela Fazenda paulista em mais de R$ 1,4 bi; duas já pagaram, e maioria discute administrativamente

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de a Secretaria da Fazenda paulista cobrar R$ 1,43 bilhão de dívidas de ICMS de empresas que teriam se beneficiado ou participado de suposto esquema de exportação fictícia de soja, agora é a vez de a Receita Federal autuar 12 empresas em R$ 513,43 milhões.
Pão de Açúcar (Companhia Brasileira de Distribuição), Casas Pernambucanas (Arthur Lundgren Tecidos), Arc Sul (produtos químicos), Kaiser, Adria, Sucos Del Valle, Lua Nova (Panco), Rubi, Axis, Megafort, Novasoc Comercial e Pastifício Santa Amália são, para a Receita, devedoras de tributos federais por terem se beneficiado de exportações irregulares.
Algumas empresas informaram que eventuais dívidas fiscais foram ou estão sendo resolvidas administrativamente com a Receita Federal. Outras preferiram não comentar o assunto (leia texto ao lado).
Investigações realizadas pela Fazenda paulista e a Receita revelaram que o suposto esquema de exportação fictícia de derivados de soja (óleo e farelo) para obtenção de créditos fiscais foi montado por consultorias tributárias e causou rombo aos cofres públicos de cerca de R$ 2 bilhões entre tributos estaduais e federais.
Duas das 12 empresas autuadas pela Receita acertaram os débitos -uma pagou o valor total da autuação e a outra parcelou a dívida.
Três dos 12 autos de infração foram parciais, o que significa que as autuações feitas pela Receita podem superar os R$ 513,43 milhões já contabilizados, segundo a Folha apurou.
A maior parte das empresas autuadas recorreu administrativamente dos autos de infração. Os processos estão sendo analisados pela Delegacia de Julgamento da Receita em São Paulo. Se a decisão for favorável ao fisco, as empresas podem recorrer ao Conselho de Contribuintes da Receita. Encerrada essa etapa administrativa, ainda cabe recurso à Justiça.
No ano passado, a Fazenda paulista cobrou R$ 1,437 bilhão das empresas que se beneficiaram desse suposto esquema e receberam créditos indevidos de ICMS. Várias empresas aproveitaram a lei de anistia parcial, concedida pelo governo paulista, e quitaram os débitos com desconto de até 90% de juros e multas para devedores do ICMS. No total, pagaram pouco mais de R$ 300 milhões.
Nas guias de recolhimento, fizeram questão de ressaltar, entretanto, que o fato de pagarem as dívidas não significava o reconhecimento de eventual prática de ato ilícito para obtenção de créditos fiscais.
Agora é a vez de a Receita Federal cobrar tributos federais -PIS/Cofins, Imposto de Renda da pessoa jurídica, CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)- por conta de exportações que considera irregulares.
Fiscais da Fazenda e da Receita dizem ter provas documentais de que a exportação de derivados de soja só ocorria no papel. A fraude acontecia por meio da clonagem de notas. A partir de uma nota real de exportação, eram feitos falsos documentos de exportação.
Para obter créditos fiscais, consultorias especializadas na área tributária estimulavam os clientes a fazer exportações de derivados de soja.
Cada consultoria desempenhava um papel: a Delloite era responsável por auditar documentos da operação, a Globalbank cuidava da parte comercial, e a Master, da operacional.

Pacote
O pacote era vendido de forma "fechada" aos clientes -ou seja, as empresas que iriam fornecer, processar e exportar a soja eram escolhidas pelas consultorias -e não pelos clientes.
O caso é investigado pela Delegacia Fazendária do Estado de São Paulo, pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual e pela Polícia Civil de São Paulo.
No inquérito aberto na 1ª Delegacia do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) há três indiciados -suspeitos de serem os responsáveis pela fraude.
Pedro Paulo Puglisi de Assumpção, proprietário da Axis (trading responsável pela exportação de derivados de soja), foi o primeiro a ser indiciado.
Nos últimos 60 dias, também foram indiciados Pedro Paulo Leoni Ramos, o PP, ex-secretário de Assuntos Estratégicos do governo Collor e um dos sócios da Globalbank, e o advogado Adauto Kyota, proprietário da Master -mencionada nas investigações como a "mentora" e responsável pela parte operacional do suposto esquema de exportação fraudulenta.
Três das empresas já autuadas pelo fisco por terem se beneficiado de créditos fiscais abriram processos contra as consultorias tributárias e pedem indenizações de até R$ 90 milhões por danos materiais.
Casas Pernambucanas, Ficap e Tigre, autoras das ações, não comentaram os processos. (CLAUDIA ROLLI e FÁTIMA FERNANDES)


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