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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Triste 2007
Não há razão para otimismo
no Brasil: triste será 2007,
tristes provavelmente serão
os próximos quatro anos
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EM MEIO às perspectivas sombrias que se abriram para o
país com a reeleição de um
presidente popular, mas sem o
apoio da sociedade civil, havia ainda
uma esperança no plano econômico. O presidente, ao qual não falta intuição, deu-se conta da quase estagnação do país e definiu uma meta de
crescimento de 5% para 2007. Nas
semanas seguintes, ficou patente
que nem ele nem seus assessores sabiam como "destravar" o país; atribuiu-se a responsabilidade pelos
maus resultados econômicos aos
ambientalistas, à falta de segurança
dos empresários de que não haverá
outro "apagão" e a outros disparates
do gênero. Na última quinta-feira,
esta Folha desmanchou as esperanças que ainda poderiam existir:
"Lula já admite que o país não cresce 5%", informa o jornal, e, em seguida, vem a explicação: "Ele ouviu
de conselheiros econômicos com
os quais se reuniu em segredo que
deveria desembarcar especialmente dos 5%, pois sinalizaria um
afrouxamento fiscal que produziria turbulências".
Ai do presidente que conta com
tais conselheiros; ai do país cujo
presidente os ouve! Desde 2003, a
Argentina cresce a 9% ao ano. Eu
imagino o que aconteceria se o presidente Néstor Kirchner contasse
com conselhos tão sábios. Foram
conselheiros dessa natureza
-identificados com a ortodoxia
convencional- que levaram Menem e Cavallo a seguir as políticas
do desastre. O governo pós-crise só
evitou a quase estagnação, à qual a
ortodoxia convencional condena
aqueles que a seguem, por haver
posto de lado tais conselheiros. Em
vez do tripé juro alto, câmbio baixo
e ajuste fiscal frouxo, a Argentina
optou por juro baixo, câmbio alto e
ajuste fiscal duro e está crescendo
extraordinariamente, tendo há
muito superado o nível de renda
pré-crise.
Os incríveis conselheiros ortodoxos do presidente Lula argumentaram que os 5% sinalizavam um
"afrouxamento fiscal". Mas quem
disse a eles que a forma de o Brasil
crescer é gastando mais? São eles
próprios que definiram metas fiscais frouxas, atingiram-nas e não
resolveram o problema fiscal. Foram frouxos nos primeiros três
anos do governo e, neste último
ano de eleições, frouxíssimos: os
gastos correm soltos.
Para o Brasil crescer 5% em
2005, as duas coisas que precisam
ser feitas ao mesmo tempo reduzem os gastos públicos, não os aumentam: é necessário cortar o gasto corrente no limite e reduzir a taxa de juros real para abaixo dos 9%, que o Banco Central entende como
sendo a "taxa de juros de equilíbrio". Se fizer isso e aumentar o investimento público, o setor privado também aumentará seus investimentos, e o país crescerá.
O problema central da economia brasileira está nos juros escandalosos e
no câmbio sobrevalorizado, não na
falta de gastos correntes.
Ao que tudo indica, porém, a ortodoxia convencional e seus inefáveis conselheiros já ganharam
mais essa parada. Na medida em
que ela é constituída pelos diagnósticos, conselhos e pressões que
os países ricos fazem a seus competidores países em desenvolvimento, essa ortodoxia está cumprindo
sua missão: reduzir a capacidade
competitiva do Brasil. Não consegue mais fazer isso na Argentina ou
na Rússia, nunca conseguiu na
China ou na Índia, mas, no Brasil,
onde a idéia de nação está quase
perdida, ela é bem-sucedida. Para a
coalizão política que controla o
país desde os anos 1990, o que interessa são taxas de juro altas e câmbio baixo.
Terá o presidente Lula condições
de se antepor a essa coalizão e a essa ortodoxia? Não há nenhuma indicação nesse sentido. É verdade que ele foi eleito pelo povão que é
prejudicado, mas esse povão pode
ser compensado pela Bolsa Família
e pelo aumento do salário mínimo.
Já a classe média está imobilizada
porque continua refém ou do distributivismo ou do monetarismo e
não sabe mais o que sejam nação e
desenvolvimento econômico. O
quadro é mais positivo em relação
aos empresários industriais, mas
eles ainda não recuperaram a força
perdida no final dos anos 1980.
Não há razão para otimismo no
Brasil: triste será 2007, tristes provavelmente serão os próximos
quatro anos.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 72, professor emérito
da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da
Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia, é autor de
"As Revoluções Utópicas dos Anos 60".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser@uol.com.br
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