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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Bancos centrais não podem regular a economia
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
O debate sobre a autonomia e mesmo sobre uma
eventual Lei de Responsabilidade Monetária está esquentando
no Brasil. O governo Lula promete as duas coisas.
Na semana passada, uma importante contribuição para o entendimento do problema foi
anunciada pelo BIS (Bank for
International Settlements)
-Banco de Compensações Internacionais-, conhecido como "o banco central dos bancos
centrais".
De acordo com o relatório da
instituição, algumas das principais turbulências financeiras são
causadas pelo fato pouco reconhecido de que os bancos centrais têm afinal menos poder do
que se imagina.
As várias ondas de liberalização de mercados financeiros
que ocorreram desde os anos 80
criaram problemas de regulação
que estavam além dos instrumentos disponíveis.
É um argumento a mais contra a idéia de que a política monetária é capaz de evitar que
ocorram as bolhas especulativas
e, o que é pior, o seu estouro, que
leva países e sistemas a crises de
ordem global.
Para os mais ortodoxos, não
chega a ser uma novidade. Eles
sempre disseram que um banco
central não faz muito mais além
de controlar, e apenas com relativo sucesso, os níveis de taxas
de inflação. Mas essa visão é insuficiente.
Mudanças
Afinal, muitas vezes as políticas de combate à inflação também provocam problemas financeiros que as autoridades,
eventualmente a direção do próprio banco central, esperam resolver com mudanças na regulamentação.
O estudo do BIS mostra que
mudanças na regulamentação,
que afinal sempre foram defendidas como uma linha de auxílio
ao aperfeiçoamento do sistema
monetário, podem atrapalhar
mais que ajudar.
Em outras palavras, elas criam
outro tipo de inflação, conhecida como "inflação de ativos". Os
bancos centrais podem até conseguir algum sucesso combatendo a inflação de preços de
bens e serviços.
Mas a desregulamentação
provocou várias bolhas inflacionárias nos mercados de ativos financeiros. Contra esse fenômeno, os bancos centrais estavam
despreparados.
Bolsas de Valores
Mas novamente é ingênuo
acreditar que esses dois tipos de
inflação ocorrem sem canais de
comunicação entre si. Nos Estados Unidos, por exemplo, é conhecido o efeito da inflação/bolha nas Bolsas sobre os níveis de
consumo.
Ou seja, há uma conexão entre
a inflação de ativos e a inflação
de demanda (causada pelo aumento na procura de bens e serviços que é propiciada pelos ganhos financeiros da classe média que investe sua poupança
nas Bolsas).
A privatização dos planos de
previdência e o crescimento da
indústria de fundos de investimento, dois aspectos da liberalização, estimularam decisões de
consumo e investimento.
Se o BIS está certo ao dizer que
a decisão de privatizar e desregulamentar esses mercados não
é da alçada dos bancos centrais,
é preciso registrar também que
em muitos casos os diretores do
banco central são os principais
advogados dessas mudanças regulatórias.
Nesse caso, dar muita autonomia ao banco central pode criar
um consenso político em favor
de políticas equivocadas que,
depois, nem mesmo o banco
central tem como inverter ou
corrigir.
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