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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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Especialistas se dividem sobre o mercado para a soja modificada

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O cultivo de soja transgênica, apesar de ilegal, está presente nas lavouras brasileiras. Além da recente admissão pelo governo, pesquisadores e ambientalistas concordam com a afirmativa.
Não há consenso, entretanto, com relação ao efeito que a adoção da tecnologia pode trazer para as exportações brasileiras.
O diretor de Assuntos Corporativos da Monsanto, Rodrigo Almeida, diz que o Brasil corre o risco de ficar isolado caso não libere a comercialização de transgênicos. A empresa detém a patente da semente.
Os defensores da utilização de transgênicos, notadamente a soja Roundup Ready da Monsanto, argumentam que dois dos maiores produtores de soja do mundo, Estados Unidos e Argentina, já utilizam largamente essa variedade e não foram rechaçados pelos compradores. "Transgênicos não causam problemas de participação em mercados", declara Ywao Miyamoto, presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja).
O diretor do Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal (DDIV) do Ministério da Agricultura, Odilson Ribeiro, também faz coro com a opinião de Miyamoto. "Na verdade, o grande produtor de soja que ainda não tem oficialmente o grão geneticamente modificado é o Brasil. Caso o Brasil venha a produzir, os compradores teriam pouca opção para comprar soja convencional", afirma.
Porém, para Mariana Paoli, coordenadora da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace, a manutenção do status brasileiro de país produtor livre de transgênicos poderá ser a principal ferramenta do Brasil para expandir as vendas externas da commodity. "A demanda pelo grão não-transgênico só tende a aumentar", diz Paoli.
A ativista do Greenpeace fundamenta sua argumentação no Serviço de Estatística da União Européia. Dados da instituição revelam que, entre 1996 e 2000, as exportações de soja brasileira para a Europa cresceram 105%. No mesmo período, as exportações dos Estados Unidos- que têm cerca de 60% da área plantada com soja transgênica- caíram quase 26%.
O engenheiro agrônomo da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) Marco Antonio Carvalho também corrobora essa opinião. "Quanto mais afastado o Brasil se mantiver do cultivo de transgênicos será melhor. No mercado internacional, é clara a preferência pela soja convencional. O produto transgênico é sempre a segunda opção de compra", afirma Carvalho.

Redução de custos
A bandeira da redução de custos operacionais é levantada com a soja geneticamente modificada. A soja RR, por exemplo, reduziria o uso de agroquímicos e, consequentemente, os custos com mão-de-obra e maquinário.
No entanto, o Greenpeace afirma que a vantagem é transitória. "O herbicida transgênico tende a perder a eficácia porque as ervas daninhas estão ficando resistentes. Conforme essa resistência aumenta, torna-se necessário usar uma quantidade cada vez maior de agrotóxico, o que aumenta o custo de aplicação", afirma Paoli.


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