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Especialistas se dividem sobre o mercado para a soja modificada
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O cultivo de soja transgênica,
apesar de ilegal, está presente nas
lavouras brasileiras. Além da recente admissão pelo governo,
pesquisadores e ambientalistas
concordam com a afirmativa.
Não há consenso, entretanto,
com relação ao efeito que a adoção da tecnologia pode trazer para as exportações brasileiras.
O diretor de Assuntos Corporativos da Monsanto, Rodrigo Almeida, diz que o Brasil corre o risco de ficar isolado caso não libere
a comercialização de transgênicos. A empresa detém a patente
da semente.
Os defensores da utilização de
transgênicos, notadamente a soja
Roundup Ready da Monsanto,
argumentam que dois dos maiores produtores de soja do mundo,
Estados Unidos e Argentina, já
utilizam largamente essa variedade e não foram rechaçados pelos
compradores. "Transgênicos não
causam problemas de participação em mercados", declara Ywao
Miyamoto, presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja).
O diretor do Departamento de
Defesa e Inspeção Vegetal
(DDIV) do Ministério da Agricultura, Odilson Ribeiro, também faz
coro com a opinião de Miyamoto.
"Na verdade, o grande produtor
de soja que ainda não tem oficialmente o grão geneticamente modificado é o Brasil. Caso o Brasil
venha a produzir, os compradores teriam pouca opção para comprar soja convencional", afirma.
Porém, para Mariana Paoli,
coordenadora da Campanha de
Engenharia Genética do Greenpeace, a manutenção do status
brasileiro de país produtor livre
de transgênicos poderá ser a principal ferramenta do Brasil para
expandir as vendas externas da
commodity. "A demanda pelo
grão não-transgênico só tende a
aumentar", diz Paoli.
A ativista do Greenpeace fundamenta sua argumentação no Serviço de Estatística da União Européia. Dados da instituição revelam que, entre 1996 e 2000, as exportações de soja brasileira para a
Europa cresceram 105%. No mesmo período, as exportações dos
Estados Unidos- que têm cerca
de 60% da área plantada com soja
transgênica- caíram quase 26%.
O engenheiro agrônomo da Conab (Companhia Nacional de
Abastecimento) Marco Antonio
Carvalho também corrobora essa
opinião. "Quanto mais afastado o
Brasil se mantiver do cultivo de
transgênicos será melhor. No
mercado internacional, é clara a
preferência pela soja convencional. O produto transgênico é sempre a segunda opção de compra",
afirma Carvalho.
Redução de custos
A bandeira da redução de custos
operacionais é levantada com a
soja geneticamente modificada. A
soja RR, por exemplo, reduziria o
uso de agroquímicos e, consequentemente, os custos com
mão-de-obra e maquinário.
No entanto, o Greenpeace afirma que a vantagem é transitória.
"O herbicida transgênico tende a
perder a eficácia porque as ervas
daninhas estão ficando resistentes. Conforme essa resistência aumenta, torna-se necessário usar
uma quantidade cada vez maior
de agrotóxico, o que aumenta o
custo de aplicação", afirma Paoli.
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