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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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Produtor do RS defende legalização

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Rio Grande do Sul vai colher este ano a quinta safra de soja geneticamente modificada e comercializa o produto proibido pela Justiça normalmente, segundo Almir Rebelo, presidente do Clube dos Amigos da região de Tupanciretã, no Rio Grande do Sul.
Rebelo fala em nome dos plantadores de soja do Rio Grande do Sul que defendem a liberação do uso de transgênicos no Brasil. Ele afirma que "o Rio Grande do Sul planta uma quantidade extremamente expressiva de soja geneticamente modificada".
Segundo Rebelo, o produtor aceita correr o risco de trabalhar na ilegalidade porque a soja transgênica diminui o custo de produção, reduz o uso de agrotóxicos e aumenta a produtividade.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Rebelo concedeu à Folha por telefone. (ANDRÉ SOLIANI)

Folha - Qual o objetivo do Clube dos Amigos da Terra?
Almir Rebelo -
Nosso objetivo é defender a eficiência da propriedade, fazer a preservação ambiental e buscar outras formas de viabilizar a propriedade. E, para isso, precisamos de técnicas que aumentem a produtividade, reduzam o custo da produção e diminuam o uso de agroquímicos.

Folha - A sua associação defende o uso de transgênicos na agricultura brasileira?
Rebelo -
Os produtores do Rio Grande do Sul começaram a ter problemas na área de soja com invasoras (ervas daninhas) que tinham resistência aos herbicidas convencionais. Quando ficaram sabendo da existência da soja geneticamente modificada com resistência ao herbicida de ação total, que mataria todas as plantas, menos a soja, ficaram animados. O Estado tem fronteira com a Argentina, e a soja argentina [transgênica" começou a entrar. Os resultados foram sensacionais: melhorou o controle de invasoras, reduziu do uso de agroquímicos e aumentou a produtividade. O uso de agroquímico caiu 50%. Gastavam-se US$ 66 por hectare com herbicidas. Hoje, são US$ 22.

Folha - Existe plantação de soja transgênica no Rio Grande do Sul?
Rebelo -
O Rio Grande do Sul planta uma quantidade extremamente expressiva de soja geneticamente modificada. O produtor quer economizar, ele não quer botar mais veneno. O produtor é o maior ambientalista que existe.

Folha - Desde quando se planta soja transgênica no Estado?
Rebelo -
Desde a safra 1997/ 1998. Este ano será colhida a quinta safra de soja transgênica.

Folha - E quem compra a soja transgênica, um produto proibido de ser comercializado no país?
Rebelo -
Não sobra de um ano para o outro estoque de soja. Essa soja é vendida normalmente.

Folha - E os compradores sabem que estão comprando soja geneticamente modificada?
Rebelo -
Sim, quem compra sabe. Essa informação é comum.

Folha - O fiscal é obrigado, quando encontra a soja modificada, a eliminá-la. Quando o fiscal vai na região o que acontece?
Rebelo -
Existe um movimento aqui e por isso se discute com os fiscais e com o próprio governo. Não é justo que o governo venha com fiscalização e prejudique um ou outro. Ou prejudica todos ou não prejudica ninguém.

Folha - Há quantos plantadores de soja transgênica na sua região?
Rebelo -
Isso seria chute. O que queremos é discutir isso com o governo federal. Queremos ir para a mesa de negociação com o governo Lula. Ninguém sabe melhor do que nós como tratar do ambiente. Como o governo Lula fala em Fome Zero, quero dizer que esse programa não vai dar certo sem a participação do setor produtivo de alimentos e sem a biotecnologia. Queremos a sustentabilidade da agricultura, que depende de três aspectos: o econômico, o ecológico e o social. O econômico acontece por meio da queda do custo de produção; o ecológico é a redução do uso de agroquímico e o social... Queremos colocar na mesa do consumidor mais carente um produto barato e com menos agrotóxicos.

Folha - Onde o produtor compra a semente transgênica, que são proibidas de entrar no país?
Rebelo -
As sementes vêm contrabandeadas da Argentina. As pessoas estão trazendo sem problemas.

Folha - O senhor tem alguma estimativa de quanto da produção de soja do Estado é transgênica?
Rebelo -
Fala-se entre 70% e 80%. Acho que esses números são bastante próximos da realidade. O Estado é o segundo maior produtor de soja do Brasil.


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