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Produtor do RS defende legalização
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Rio Grande do Sul vai colher
este ano a quinta safra de soja geneticamente modificada e comercializa o produto proibido pela
Justiça normalmente, segundo
Almir Rebelo, presidente do Clube dos Amigos da região de Tupanciretã, no Rio Grande do Sul.
Rebelo fala em nome dos plantadores de soja do Rio Grande do
Sul que defendem a liberação do
uso de transgênicos no Brasil. Ele
afirma que "o Rio Grande do Sul
planta uma quantidade extremamente expressiva de soja geneticamente modificada".
Segundo Rebelo, o produtor
aceita correr o risco de trabalhar
na ilegalidade porque a soja transgênica diminui o custo de produção, reduz o uso de agrotóxicos e
aumenta a produtividade.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Rebelo
concedeu à Folha por telefone.
(ANDRÉ SOLIANI)
Folha - Qual o objetivo do Clube
dos Amigos da Terra?
Almir Rebelo - Nosso objetivo é
defender a eficiência da propriedade, fazer a preservação ambiental e buscar outras formas de viabilizar a propriedade. E, para isso,
precisamos de técnicas que aumentem a produtividade, reduzam o custo da produção e diminuam o uso de agroquímicos.
Folha - A sua associação defende
o uso de transgênicos na agricultura brasileira?
Rebelo - Os produtores do Rio
Grande do Sul começaram a ter
problemas na área de soja com invasoras (ervas daninhas) que tinham resistência aos herbicidas
convencionais. Quando ficaram
sabendo da existência da soja geneticamente modificada com resistência ao herbicida de ação total, que mataria todas as plantas,
menos a soja, ficaram animados.
O Estado tem fronteira com a Argentina, e a soja argentina [transgênica" começou a entrar. Os resultados foram sensacionais: melhorou o controle de invasoras,
reduziu do uso de agroquímicos e
aumentou a produtividade. O uso
de agroquímico caiu 50%. Gastavam-se US$ 66 por hectare com
herbicidas. Hoje, são US$ 22.
Folha - Existe plantação de soja
transgênica no Rio Grande do Sul?
Rebelo - O Rio Grande do Sul
planta uma quantidade extremamente expressiva de soja geneticamente modificada. O produtor
quer economizar, ele não quer
botar mais veneno. O produtor é
o maior ambientalista que existe.
Folha - Desde quando se planta
soja transgênica no Estado?
Rebelo - Desde a safra 1997/
1998. Este ano será colhida a quinta safra de soja transgênica.
Folha - E quem compra a soja
transgênica, um produto proibido
de ser comercializado no país?
Rebelo - Não sobra de um ano
para o outro estoque de soja. Essa
soja é vendida normalmente.
Folha - E os compradores sabem
que estão comprando soja geneticamente modificada?
Rebelo - Sim, quem compra sabe. Essa informação é comum.
Folha - O fiscal é obrigado, quando encontra a soja modificada, a
eliminá-la. Quando o fiscal vai na
região o que acontece?
Rebelo - Existe um movimento
aqui e por isso se discute com os
fiscais e com o próprio governo.
Não é justo que o governo venha
com fiscalização e prejudique um
ou outro. Ou prejudica todos ou
não prejudica ninguém.
Folha - Há quantos plantadores
de soja transgênica na sua região?
Rebelo - Isso seria chute. O que
queremos é discutir isso com o
governo federal. Queremos ir para a mesa de negociação com o
governo Lula. Ninguém sabe melhor do que nós como tratar do
ambiente. Como o governo Lula
fala em Fome Zero, quero dizer
que esse programa não vai dar
certo sem a participação do setor
produtivo de alimentos e sem a
biotecnologia. Queremos a sustentabilidade da agricultura, que
depende de três aspectos: o econômico, o ecológico e o social. O
econômico acontece por meio da
queda do custo de produção; o
ecológico é a redução do uso de
agroquímico e o social... Queremos colocar na mesa do consumidor mais carente um produto barato e com menos agrotóxicos.
Folha - Onde o produtor compra a
semente transgênica, que são proibidas de entrar no país?
Rebelo - As sementes vêm contrabandeadas da Argentina. As
pessoas estão trazendo sem problemas.
Folha - O senhor tem alguma estimativa de quanto da produção de
soja do Estado é transgênica?
Rebelo - Fala-se entre 70% e
80%. Acho que esses números são
bastante próximos da realidade.
O Estado é o segundo maior produtor de soja do Brasil.
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