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COMÉRCIO EXTERIOR
Seis primeiros meses de 2002 tiveram desempenho pior e se espera obter 8% de crescimento nesse período
Recorde de exportações vai depender do 1º semestre
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil dependerá -e muito- do desempenho das exportações no primeiro semestre para
cumprir a meta estabelecida pelo
ministro do Desenvolvimento,
Luiz Fernando Furlan, de aumentar em 10% as vendas externas
neste ano, em relação a 2002. Em
termos absolutos significa passar
dos US$ 60,141 bilhões (recorde
histórico registrado ano passado)
para US$ 66 bilhões em 2003.
A Funcex (Fundação Centro de
Estudos de Comércio Exterior),
em suas projeções, aponta o seguinte quadro: se mantido até junho o ritmo de crescimento de
20% ao mês (sobre o mesmo período de 2002), ainda que no segundo semestre as exportações se
mantenham estáveis (ou seja, o
volume em dólares não se altere),
ao final de 2003 as exportações terão crescido 8% sobre 2002. Assim, restaria todo o segundo semestre para formar os 2%.
O aparente descompasso entre
o primeiro e o segundo semestres
é explicado pelo economista Fernando Ribeiro, da Funcex. ""A base de comparação (no primeiro
semestre) é muito baixa. Na verdade no primeiro semestre deste
ano vamos realizar um potencial
(de vendas) que existia após a desvalorização em 99", diz.
""No início de 2002, o mercado
mundial estava destroçado depois dos atentados de 11 de setembro. Ninguém vendia nada", argumenta José Augusto de Castro,
diretor da AEB (Associação dos
Exportadores do Brasil).
A reviravolta, no caso brasileiro,
ocorreria a partir de julho. De janeiro a junho do ano passado (leia
quadro), as exportações foram
sempre inferiores às de iguais meses de 2001. Em junho passado,
por exemplo, a queda nas vendas
externas havia sido de 19,1%.
Desde que as exportações retomaram o fôlego, a partir de julho,
no entanto, registrou-se taxa média de crescimento de 20% em relação aos mesmos meses de 2001.
E, justamente por conta disso, a
expansão no segundo semestre
deste ano tende a ser mais tímida
do que em 2002 -em tese, será
mais difícil ganhar espaço sobre
uma base considerada ""razoável".
""A meta de aumento de 10% no
ano é factível, mesmo considerando que a economia mundial não
vai melhorar muito", diz Castro.
As estimativas preparadas pela
Funcex e AEB baseiam-se em algumas prerrogativas. Primeiro
que a taxa de câmbio se mantenha
dentro da faixa atual (entre R$
3,20 e R$ 3,30). Segundo: que a expansão do PIB não supere as previsões atuais -entre 1,5% e 2,5%.
E que eventual conflito no Oriente
Médio tenha curta duração, o que
significaria menos impacto para a
economia mundial e em preços
de produtos como o petróleo. ""Se
a demanda doméstica aumentar,
será inevitável que as empresas
voltem sua produção para o mercado interno", diz Ribeiro.
""Para atingirmos os 10% de aumento nas exportações e superávit de US$ 16 bilhões, ainda é necessária essa combinação de baixo crescimento do PIB e câmbio
no nível atual. Até porque com
mercado mais aquecido seria inevitável o aumento de importações", completa, em referência a
setores dependentes de insumos
importados, como o químico.
Produtos agrícolas
O aumento do faturamento
com as vendas externas em 2003,
prevêem os analistas, será "puxado" pelos produtos agrícolas
(leia-se o complexo de soja, em
grãos, farelo e óleo), automóveis,
aço, minério de ferro e aviões. O
café também entrará nesse grupo,
estimam os produtores: embora a
produção deste ano fique abaixo
do recorde registrado em 2002, o
Brasil tem estoques para abastecer o mercado mundial. Além disso, os preços serão influenciados
(para cima) pela perda de produção no México e tradicionais produtores da América Central.
Fabricantes de motores para automóveis e celulares dependeriam, em princípio, de melhora da
economia argentina para terem
mais lucro no exterior. Não por
acaso, todos esses itens, mais petróleo, calçados e frango compõem a lista dos 12 produtos mais
exportados pelo Brasil.
O caso da soja é simbólico. Segundo maior exportador mundial
(atrás dos EUA) de soja em grãos,
o Brasil produziu 41,8 milhões de
toneladas do produto no ano passado. As exportações do complexo da soja somaram no ano passado US$ 6,025 milhões -contra os
US$ 5,297 bilhões de 2001. De
acordo com a Abiove (associação
das indústrias), a produção deve
somar nesse ano 48 milhões de toneladas e as exportações (de todo
o complexo), US$ 7,605 bilhões.
Se em janeiro de 2002 a tonelada
de soja era comercializada a US$
105, hoje o valor chega ao dobro.
Outros setores
Depois de amargar vendas 6,5%
menores no ano passado, a indústria automobilística prevê estagnação em 2003 no mercado interno. As montadoras pretendem
compensar com ampliação em
20% das exportações neste ano
-de US$ 4 bilhões para US$ 4,8
bilhões. O principal artifício será a
entrada em vigor dos acordos
com o México e o Chile (que estabelecem cotas de exportação com
alíquotas reduzidas ou zeradas).
A Anfavea ainda tenta ratificar os
acordos com a África do Sul e novos contratos com a China -como o de US$ 500 milhões firmado
pela Volkswagen. ""A melhor forma de o setor crescer em 2003 é
exportar", diz Ricardo Carvalho,
presidente da Anfavea.
No setor de minério de ferro, a
extração e exportação (em volumes) deverá se manter no mesmo
nível de 2002. Maior exportador
mundial, a Vale do Rio Doce pode
ser favorecida por uma alta nos
preços -analistas esperam uma
recuperação de 3,5%.
De sua parte, a Embraer prevê a
entrega de 148 aeronaves neste
ano. No ano passado, foram 131
aeronaves, o que significou US$
2,057 bilhões em exportações.
Por fim, se confirmadas as previsões da Abef (Associação Brasileira dos Exportadores de Frango), as vendas ao mercado externo do produto devem aumentar
entre 5% e 10% neste ano -foram de US$ 1,4 bilhão em 2002.
Somados, os produtos "tradicionais" não seriam suficientes
para assegurar o saldo esperado
pelo governo. ""A expectativa é
que os manufaturados dêem uma
contribuição maior em 2003", diz
José Augusto de Castro, da AEB.
""Quando da retomada (em julho passado), o que puxava as
vendas eram as commodities. No
final do ano já havia melhora generalizada. Isso tem que persistir", completa Ribeiro, da Funcex.
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