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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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COMÉRCIO EXTERIOR

Seis primeiros meses de 2002 tiveram desempenho pior e se espera obter 8% de crescimento nesse período

Recorde de exportações vai depender do 1º semestre

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil dependerá -e muito- do desempenho das exportações no primeiro semestre para cumprir a meta estabelecida pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, de aumentar em 10% as vendas externas neste ano, em relação a 2002. Em termos absolutos significa passar dos US$ 60,141 bilhões (recorde histórico registrado ano passado) para US$ 66 bilhões em 2003.
A Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior), em suas projeções, aponta o seguinte quadro: se mantido até junho o ritmo de crescimento de 20% ao mês (sobre o mesmo período de 2002), ainda que no segundo semestre as exportações se mantenham estáveis (ou seja, o volume em dólares não se altere), ao final de 2003 as exportações terão crescido 8% sobre 2002. Assim, restaria todo o segundo semestre para formar os 2%.
O aparente descompasso entre o primeiro e o segundo semestres é explicado pelo economista Fernando Ribeiro, da Funcex. ""A base de comparação (no primeiro semestre) é muito baixa. Na verdade no primeiro semestre deste ano vamos realizar um potencial (de vendas) que existia após a desvalorização em 99", diz.
""No início de 2002, o mercado mundial estava destroçado depois dos atentados de 11 de setembro. Ninguém vendia nada", argumenta José Augusto de Castro, diretor da AEB (Associação dos Exportadores do Brasil).
A reviravolta, no caso brasileiro, ocorreria a partir de julho. De janeiro a junho do ano passado (leia quadro), as exportações foram sempre inferiores às de iguais meses de 2001. Em junho passado, por exemplo, a queda nas vendas externas havia sido de 19,1%.
Desde que as exportações retomaram o fôlego, a partir de julho, no entanto, registrou-se taxa média de crescimento de 20% em relação aos mesmos meses de 2001.
E, justamente por conta disso, a expansão no segundo semestre deste ano tende a ser mais tímida do que em 2002 -em tese, será mais difícil ganhar espaço sobre uma base considerada ""razoável". ""A meta de aumento de 10% no ano é factível, mesmo considerando que a economia mundial não vai melhorar muito", diz Castro.
As estimativas preparadas pela Funcex e AEB baseiam-se em algumas prerrogativas. Primeiro que a taxa de câmbio se mantenha dentro da faixa atual (entre R$ 3,20 e R$ 3,30). Segundo: que a expansão do PIB não supere as previsões atuais -entre 1,5% e 2,5%. E que eventual conflito no Oriente Médio tenha curta duração, o que significaria menos impacto para a economia mundial e em preços de produtos como o petróleo. ""Se a demanda doméstica aumentar, será inevitável que as empresas voltem sua produção para o mercado interno", diz Ribeiro.
""Para atingirmos os 10% de aumento nas exportações e superávit de US$ 16 bilhões, ainda é necessária essa combinação de baixo crescimento do PIB e câmbio no nível atual. Até porque com mercado mais aquecido seria inevitável o aumento de importações", completa, em referência a setores dependentes de insumos importados, como o químico.

Produtos agrícolas
O aumento do faturamento com as vendas externas em 2003, prevêem os analistas, será "puxado" pelos produtos agrícolas (leia-se o complexo de soja, em grãos, farelo e óleo), automóveis, aço, minério de ferro e aviões. O café também entrará nesse grupo, estimam os produtores: embora a produção deste ano fique abaixo do recorde registrado em 2002, o Brasil tem estoques para abastecer o mercado mundial. Além disso, os preços serão influenciados (para cima) pela perda de produção no México e tradicionais produtores da América Central.
Fabricantes de motores para automóveis e celulares dependeriam, em princípio, de melhora da economia argentina para terem mais lucro no exterior. Não por acaso, todos esses itens, mais petróleo, calçados e frango compõem a lista dos 12 produtos mais exportados pelo Brasil.
O caso da soja é simbólico. Segundo maior exportador mundial (atrás dos EUA) de soja em grãos, o Brasil produziu 41,8 milhões de toneladas do produto no ano passado. As exportações do complexo da soja somaram no ano passado US$ 6,025 milhões -contra os US$ 5,297 bilhões de 2001. De acordo com a Abiove (associação das indústrias), a produção deve somar nesse ano 48 milhões de toneladas e as exportações (de todo o complexo), US$ 7,605 bilhões. Se em janeiro de 2002 a tonelada de soja era comercializada a US$ 105, hoje o valor chega ao dobro.

Outros setores
Depois de amargar vendas 6,5% menores no ano passado, a indústria automobilística prevê estagnação em 2003 no mercado interno. As montadoras pretendem compensar com ampliação em 20% das exportações neste ano -de US$ 4 bilhões para US$ 4,8 bilhões. O principal artifício será a entrada em vigor dos acordos com o México e o Chile (que estabelecem cotas de exportação com alíquotas reduzidas ou zeradas). A Anfavea ainda tenta ratificar os acordos com a África do Sul e novos contratos com a China -como o de US$ 500 milhões firmado pela Volkswagen. ""A melhor forma de o setor crescer em 2003 é exportar", diz Ricardo Carvalho, presidente da Anfavea.
No setor de minério de ferro, a extração e exportação (em volumes) deverá se manter no mesmo nível de 2002. Maior exportador mundial, a Vale do Rio Doce pode ser favorecida por uma alta nos preços -analistas esperam uma recuperação de 3,5%.
De sua parte, a Embraer prevê a entrega de 148 aeronaves neste ano. No ano passado, foram 131 aeronaves, o que significou US$ 2,057 bilhões em exportações.
Por fim, se confirmadas as previsões da Abef (Associação Brasileira dos Exportadores de Frango), as vendas ao mercado externo do produto devem aumentar entre 5% e 10% neste ano -foram de US$ 1,4 bilhão em 2002.
Somados, os produtos "tradicionais" não seriam suficientes para assegurar o saldo esperado pelo governo. ""A expectativa é que os manufaturados dêem uma contribuição maior em 2003", diz José Augusto de Castro, da AEB.
""Quando da retomada (em julho passado), o que puxava as vendas eram as commodities. No final do ano já havia melhora generalizada. Isso tem que persistir", completa Ribeiro, da Funcex.


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