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OPINIÃO ECONÔMICA
Qual a melhor taxa de câmbio?
JOÃO SAYAD
1) R$ 2,80 como na semana
passada? R$ 4,00 como às
vésperas das eleições de 2002?
2) O Banco Central pode influenciar e até fixar taxas cambiais. Se comprar e vender dólares
a R$ 1,00, a taxa cambial será R$
1,00 por dólar. Se comprar e vender dólares a R$ 4,00, a taxa cambial será R$ 4,00.
3) Se a taxa cambial for fixada
em R$ 0,85 por dólar, como fez logo depois do lançamento do real,
precisa tomar empréstimos em
dólares para vender dólares que
não tem e ao preço que fixou. Foi
exatamente o que fez durante o
período de taxas de câmbio fixas
no Brasil e mesmo durante o período de taxas flutuantes depois
de 1998.
4) O Banco Central não conseguiu manter a taxa fixa, a desvalorização foi inevitável e acabamos com imenso prejuízo, pois o
banco vendeu barato o que depois ficou caro.
5) Os juros e a amortização dos
empréstimos feitos para fixar a
taxa cambial a nível muito baixo
mais as perdas decorrentes da
desvalorização têm que ser pagos
pelo Tesouro Nacional, isto é, pelos contribuintes de impostos,
apesar de não haver nenhuma
autorização legislativa. (O Banco
Central precisa de mais autonomia?)
6) Isso aconteceu no Brasil, na
Argentina e em outros países da
América Latina.
7) Os fatos são distorcidos defensivamente pelas autoridades
monetárias que afirmam que a
política fiscal atrapalha ("domina") a monetária, quando, na
realidade, a política monetária e
cambial é que determinam a política fiscal.
8) Se a taxa cambial for fixada
em nível muito alto, R$ 4,00 por
dólar, o Banco Central terá que
comprar dólares e acumular reservas. O Banco Central tem que
emitir dívida pública para comprar dólares. Acabaria com dívida maior e reservas maiores. Se as
taxas de juros que paga na dívida
forem menores do que as que recebe pela aplicação das reservas,
também tem prejuízo. Se forem
menores, o prejuízo pode ser menor.
9) No caso de taxas de câmbio
muito altas, o Banco Central acaba tendo grande influência sobre
a taxa e pode ter mais sucesso. O
país acumula reservas, inspira
confiança como uma empresa
que tem muito caixa e a taxa
cambial deixa de ser tão instável.
Com câmbio alto, produção, emprego e investimento aumentam.
10) O Banco Central também
pode manipular os juros. Se fixar
os juros acima do que as empresas
privadas podem pagar, os bancos
não emprestarão dinheiro para o
setor privado, mas apenas para o
Banco Central. Se fixar muito
abaixo, ninguém empresta para o
Banco Central, mas apenas para
o setor privado.
11) Não existe uma única taxa
de juros de equilíbrio, se é que
existe algum equilíbrio nos mercados financeiros. Existem limites
superiores e inferiores. Não pode
ser maior do que a taxa de rentabilidade da economia por muito
tempo. Quanto tempo? Depende
da boa vontade dos contribuintes
que pagam impostos para pagar
juros altos e da confiança dos credores que recebem juros para financiar o governo. Como no caso
do câmbio, o Banco Central fixa
juros e faz despesas (8% a 10% do
PIB) sem nenhuma autorização
legislativa. Ao Tesouro, cabe pagar. O Banco Central afirma que
fixa as taxas altas para controlar
a inflação. (Por que o Banco Central precisa de autonomia?)
12) Durante o período 1945-1980, quando a mobilidade de capitais internacionais era muito
mais baixa, falava-se da taxa
cambial "de equilíbrio" comparando índices de preços entre diferentes países. Era a regra chamada de paridade do poder de compra. Não existe uma taxa de câmbio de equilíbrio no mundo globalizado.
13) Com o crescimento da mobilidade internacional de capitais,
a taxa de câmbio pode variar
muito no curto prazo, exatamente como o preço das ações. No curto prazo, depende do que os investidores pensam que o Banco Central pensa que eles pensam. Num
prazo maior, depende da capacidade de tomar empréstimos em
dólares e de gerar superávits na
conta de transações correntes.
14) Atualmente, como nos anos
da Grande Depressão de 30, vários países estão usando a taxa
cambial para aumentar a produção e o emprego. Os Estados Unidos estão contentes com a desvalorização do dólar em relação ao
euro, pois o dólar mais fraco aumenta as exportações, diminui as
importações e, conseqüentemente, eleva a produção e o emprego.
O Japão e a China protegem as
suas moedas comprando dólares.
Ambos acumulam reservas.
15) A Europa não tem desequilíbrios importantes com nenhuma
outra região do mundo até agora.
No momento, perde apenas turistas. Logo mais, pode vir a se preocupar e tentar alguma reação.
16) No Brasil, o dólar passou a
custar menos do que R$ 2,80 na
semana passada. A valorização
do real diminui as exportações e
aumenta as importações. Diminui a produção e o emprego. O
país precisa defender a produção
e o emprego, como outros países
estão fazendo.
17) O Banco Central tem várias
alternativas: comprar dólares, reduzir juros ou fazer as duas coisas. Tanto comprar dólares quanto reduzir juros tendem a reduzir
a valorização do real. Reduzir juros alivia as finanças públicas.
Comprar dólares aumenta a dívida pública, mas aumenta as reservas ao mesmo tempo. É melhor
do que emitir dívidas apenas para pagar juros altos, como agora.
18) A taxa cambial está muito
baixa. O superávit comercial deste ano decorre, em grande medida, das taxas cambiais muito altas de 2002 e de bons preços internacionais.
19) O Banco Central anunciou
que comprará dólares. Pode
"comprar" dólares de várias formas: não renovando a dívida pública indexada ao dólar, tomando menos empréstimos no exterior ou comprando dólares no
mercado doméstico. O dólar continua barato.
20) A taxa de juros não mudou.
O Banco Central pode reduzi-la
ou não em alguma quarta-feira.
O Banco Central decide -como e
quando quiser.
21) Que autonomia falta ao
Banco Central?
João Sayad, 57, economista, é professor
da Faculdade de Economia e Administração da USP. Escreve às segundas-feiras, a
cada 15 dias, nesta coluna.
E-mail - jsayad@attglobal.net
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