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OPINIÃO ECONÔMICA
Eleição não é um piquenique
BENJAMIN STEINBRUCH
Com uma ou outra dúvida,
estão praticamente desenhadas as candidaturas às eleições
presidenciais de 3 de outubro.
Aliás, já estava mesmo na hora,
visto que faltam pouco mais de
sete meses para a votação em primeiro turno.
Quem pretende participar da
eleição como candidato precisa
apresentar à sociedade seus compromissos, conseguir sustentação
política para o futuro governo e
mostrar ao país os quadros de
apoio que o ajudarão a governar
em caso de vitória.
Compromissos não são promessas vagas de aventureiros, mas
programas concretos, com resultados que serão cobrados no futuro. Um documento divulgado em
janeiro pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, sob
o título "O Brasil de todos nós",
dá um bom roteiro de lição de casa aos candidatos que pretendem
ser levados a sério.
O discurso desenvolvimentista
virou consenso entre os candidatos. Não há um só, de situação ou
oposição, que não adote a idéia
de que o crescimento da economia deve ser prioridade nš 1 do
novo governo, preservada a estabilidade do Real. Já é um bom caminho, mas isso não basta.
O roteiro da Fiesp é uma lição
porque sugere metas quantitativas que o novo governo deve adotar desde a campanha. Há quase
três décadas o Brasil não tem planos de desenvolvimento. As únicas metas definidas e perseguidas
são as decorrentes de acordos com
o FMI, sobre dívida pública, déficit em relação ao PIB e outros parâmetros macroeconômicos.
Os compromissos do próximo
governo precisam ir além tanto
das metas macroeconômicas
quanto dos genéricos discursos
desenvolvimentistas. Por isso, os
candidatos sérios terão de dizer,
por exemplo, quantos milhões de
empregos se comprometem a
criar e qual a taxa de crescimento
econômico que pretendem perseguir. A Fiesp dá uma boa pista:
4,8 milhões de novos postos de
trabalho de 2003 a 2006 e expansão média do PIB de 4% ao ano.
Antes de assumir compromissos, os candidatos terão de acionar suas equipes de planejamento, para estudar propostas e dialogar com a sociedade. Já estão
atrasados nessa tarefa, mas, de
qualquer forma, ainda têm sete
meses para isso, um tempo precioso que deve ser ocupado com
campanhas afirmativas.
Promessas de candidatos só têm
sentido se apoiadas em ações práticas e de viabilidade comprovada. Um exemplo: o candidato
promete reduzir o índice de mortalidade infantil de 34 para 18 em
quatro anos, como propõe a
Fiesp. Então terá de dizer qual o
volume de dinheiro a ser investido nessa tarefa e de onde virão os
recursos.
Outro exemplo: o candidato
promete alcançar um superávit
comercial de US$ 17 bilhões em
2006, essencial para reduzir a dependência externa do país. Então
deverá definir como vai estimular
o aumento da competitividade da
empresa brasileira para expandir
as exportações e substituir importações, além de outras ações diplomáticas e comerciais que o
ajudarão a alcançar o objetivo.
Claro que não é fácil fazer tudo
isso. Preparar um plano, discuti-lo com a sociedade, fixar metas
quantitativas e depois cumpri-las, tudo isso pressupõe competência, capacidade de organização, trabalho e obstinação. Mas
isso é o mínimo que se exige de alguém que pretende ser presidente
da República.
Eleição presidencial não é piquenique nem campo de experimentação para aventureiros. Experiências burocráticas, com pessoal que entra no governo, comete
erros e sai sem que nada aconteça, devem ser coisa do passado. O
novo governo, de situação ou
oposição, precisa de gente que assuma compromissos com a nação,
disposta a lutar para levar o país
ao bem-estar.
Acabou o Carnaval. Quem quiser entrar no páreo terá de suar a
camisa.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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