São Paulo, quinta, 19 de fevereiro de 1998

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SATÉLITES
Tecsat entra para disputar mercado com os grupos Globo e Abril
TV paga via satélite vai ganhar novo concorrente

ELVIRA LOBATO
enviada especial a São José dos Campos

Uma empresa de São José dos Campos (a 97 km de São Paulo), com apenas 12 anos de existência, resolveu desafiar os dois grandes grupos empresariais -Abril e Globo- que dominam o mercado de TV paga no Brasil.
A empresa é a Tectelcom Telecomunicações, mais conhecida como Tecsat, que, a partir do mês que vem, se tornará a terceira operadora de TV paga via satélite para miniantenas parabólicas do país, concorrendo com os sistemas DirecTV (da Abril) e Sky (Globo).
A transmissão direta via satélite para antenas parabólicas com até 60 cm de diâmetro -conhecido pela sigla DTH ("Direct to Home")- é o sistema de TV paga que mais cresce no momento.
Com pouco mais de um ano em funcionamento, a Sky e a DirecTV já acumulam 179,5 mil assinantes e, segundo a "Pay TV Survey", que mede a evolução do mercado, o número de assinantes das miniparabólicas aumentou 57% no último trimestre do ano passado.
Ainda de acordo com a "Pay TV Survey", o Brasil tem 2,53 milhões de assinantes de TV paga, dos quais 1,75 milhão é atendido por TVs a cabo.
A Globo e suas associadas do sistema Net têm domínio do mercado, com 68,8% dos assinantes. A TVA (da qual faz parte a DirecTV) tem 26,5%. Apenas 4,7% estão com operadoras independentes.
Fábrica de antenas
É nessa arena que a Tecsat decidiu brigar. Fundada por seis irmãos, a empresa nasceu como fabricante de antenas parabólicas convencionais, dessas que proliferam tanto em residências de luxo quanto nas favelas.
A empresa conseguiu impor sua marca nesse segmento. Estima-se que haja 6 milhões de antenas parabólicas convencionais instaladas Brasil afora, sendo que 3,7 milhões levam a marca Tecsat.
Hoje, com 1.300 empregados e faturamento anual de R$ 150 milhões, ela produz também radares para os aviões caça AMX, equipamentos de controle de tráfego aéreo e sistemas de transmissão digital para emissoras de rádio e TV. Mais recentemente, passou a produzir fibra ótica.
Nenhuma dessas atividades, porém, se compara à decisão de concorrer com a DirecTV e Sky, que fazem parte de megaempreendimentos internacionais -cada um com investimentos totais da ordem de US$ 500 milhões- para exploração das miniparabólicas em toda a América Latina.
A DirecTV é uma associação da Hughes Electronics (indústria fabricante de satélites da General Motors) com os grupos Cisneros (Venezuela), Abril (Brasil) e Multivisión (México).
A Sky é um projeto do magnata mundial das comunicações Rupert Murdoch, da News Corporation, em sociedade com a TCI (grupo de TV a cabo dos EUA), com a Televisa (México) e com as Organizações Globo.
Assim, como entender a entrada de um grupo relativamente pequeno, familiar e sem parceiro externo num mercado que parecia reservado para os grandes?
Sem risco
Segundo o diretor de marketing e novos negócios da Tecsat, Paulo Roberto Hisse de Castro, 51, a principal atividade do grupo é a fabricação de equipamentos e o único motivo que o está levando a se tornar operador de TV por satélite foi a impossibilidade de acordo com a Netsat (Sky) e com a TVA, controladora da DirecTV.
Mais velho dos seis irmãos Castro que dirigem a empresa, com formação em engenharia, Paulo Roberto diz que não vê qualquer risco para a Tecsat nesse novo empreendimento.
Segundo ele, a empresa conhece bem o mercado, pois já fabricou e instalou 120 mil parabólicas e decodificadores para o sistema de TV paga via satélite da Globosat antes de as Organizações Globo se associarem a Murdoch para a exploração das miniparabólicas.



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