São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2008

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Crise dos EUA eleva preço do petróleo, diz Petrobras

Presidente da empresa defende mudar lei para descobertas na camada pré-sal

Gabrielli afirma que instabilidade internacional, por si só, não será razão para reajustes dos preços de combustíveis no Brasil

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O aumento recente nas cotações do barril de petróleo está relacionado à crise do mercado americano, na avaliação do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Na Bolsa Mercantil de Nova York, o petróleo fechou ontem a US$ 109,42. Segundo ele, há uma procura por ativos de maior rentabilidade.
Isso significa que uma parcela dos investidores passa a avaliar o mercado de petróleo como alternativa para maximizar ganhos, com aumento do capital especulativo no setor. "A taxa de juros americana muito baixa e a crise do "subprime" provocam busca por retorno mais elevado. É puramente um movimento financeiro", disse.
Segundo a Petrobras, a Nymex (Bolsa Mercantil de Nova York) estima que mais de 95% dos contratos futuros de energia não resultam diretamente em entregas físicas.
Nos últimos anos, a cotação do barril tem se mostrado mais rentável do que outros índices. De 2003 a 2007, a cotação do barril de petróleo tipo Brent acumulou alta de 17,42%. O S&P 500, índice que reúne as 500 maiores empresas que têm ações negociadas na Bolsa de Nova York, teve alta de 10,07% e o índice da Nasdaq, de 13,6%.
A perspectiva é de oscilação de preços, segundo Gabrielli. O presidente da Petrobras avalia que, se a crise atingir a economia real americana, o mercado de petróleo será afetado.
"Antes da última agudização da crise, minha expectativa era de uma crise leve e curta. Essa última crise do Bear Stearns e do Lehman pode levar a um problema de ajuste de portfólio dos investidores que não sei até quando pode chegar ao consumidor e quando pode chegar à economia real", disse.
O presidente da Petrobras avalia que o nível dos estoques em faixa inferior ao patamar histórico faz com que quaisquer problemas geopolíticos tenham impacto direto no preço no curto prazo.
Gabrielli afirmou que a instabilidade do cenário internacional, por si só, não fará a empresa reajustar os preços de combustíveis no país e que outros aspectos precisam ser levados em conta nessa análise.
A crise no mercado americano não afetará os planos de investimento da companhia, de US$ 112,7 bilhões até 2012, mas pode dificultar a forma de financiar o investimento. A Petrobras pretende captar ainda neste ano US$ 5 bilhões.
O plano de investimentos deve ser revisto no segundo semestre e incluir grandes descobertas, como as de Tupi e de Júpiter. Segundo Gabrielli, se o mercado "ficar mais difícil", a empresa poderá aumentar a parcela de recursos próprios.
O cenário de custos altos da indústria fez com que as grandes empresas investissem mais, mas não conseguissem aumentar a produção, segundo a Petrobras. De um grupo de nove empresas, apenas três conseguiram aumentar a produção de petróleo e gás. No ano passado, a produção da estatal brasileira cresceu 0,1%.

Revisão da lei
Gabrielli voltou a defender ontem a revisão da lei do petróleo com novos modelos de concessão para descobertas na área do pré-sal. Ele afirma que o sistema regulatório brasileiro foi montado para remunerar o risco exploratório, que teria mudado de forma significativa com as descobertas de petróleo na camada pré-sal.
Para Nelson Narciso, diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo), não são necessárias "mudanças radicais" na lei para contemplar a alteração de cenário. A agência trabalha na formulação de uma proposta a ser entregue ao governo.


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