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LUÍS NASSIF
Desacertos do modelo elétrico
A inda há muito a caminhar e a discutir sobre o
novo modelo elétrico brasileiro.
Sua implantação foi capenga,
sem os cuidados que cercaram o
modelo de telecomunicações,
que, se demanda ajustes conjunturais, ao menos é bem concebido.
O desfecho da crise energética,
que levou os consumidores a
aderirem à economia de energia
para, depois, serem punidos pela queda de consumo, é um dos
atos políticos mais desastrosos
dos últimos anos.
Especialista no setor, o técnico
pernambucano Felício Limeira
de França preparou um diagnóstico competente sobre os erros do modelo, que poderá servir
de reflexão para as correções.
Internacionalmente, a mudança no modelo elétrico começou em julho de 1989, quando o
governo Thatcher promulgou o
"Electricity Act", mudando a regulação e estimulando a competição, o que, teoricamente, aumentaria a eficiência do sistema
e reduziria os custos de energia.
A base do modelo seria um sistema de preços regulado por
uma espécie de Bolsa de Valores, com cotações definidas pelo
mercado. O modelo espalhou-se
pelo mundo de forma rápida,
sem que houvesse preocupação
com as particularidades de cada
país. Recentemente, um técnico
inglês, em reunião da OCDE,
sustentou que "os ganhos da reforma não seriam obtidos sem a
despolitização do setor elétrico,
e esta não aconteceria sem a privatização". Lá, partiu-se da
análise do problema para chegar à solução, que passava pela
privatização e pela competição.
No caso brasileiro, faltavam
as precondições básicas para o
modelo ser vitorioso. Tais condições eram:
1) Excesso de capacidade, se
possível associada a um mercado maduro que crescesse a taxas
muito baixas. Aqui havia falta
de capacidade e mercado dinâmico.
2) Fortes diferenciais de preços
da energia entre regiões, entre
Províncias ou entre Estados, que
levassem a energia mais barata
a competir com aquela mais cara sempre que o diferencial de
preço fosse superior ao custo da
transmissão. Aqui não havia esse diferencial.
3) Aparecimento de uma ou
mais opções tecnológicas que
viessem de alguma forma eliminar as vantagens de economia
de escala do monopólio natural.
Aqui o gás puxou para cima o
custo marginal da geração.
4) O menor número possível
de restrições de ordem técnica
para que se pudesse montar o
despacho das unidades geradoras apenas em função das ofertas do preço (leilões de compra e
venda de energia). Ou seja, somente os desvios normais, causados por indisponibilidades de
unidades geradoras ou por condições que levassem a congestionamento na transmissão, poderiam interferir com a liberdade
do mercado. Aqui a otimização
do uso das águas exige modelos
matemáticos incompatíveis
com a liberdade total de mercado.
Quando as condições prévias
não existem, para funcionar o
modelo passa a depender de
uma sequência interminável de
novas normas e instruções que
acabam por criar um Frankenstein: não tem se mais o modelo
anterior, baseado no planejamento, nem o modelo alternativo, baseado no mercado. "Aparecem então as cláusulas complacentes de reajuste de preços
da energia, o aviltamento dos
preços dos ativos elétricos estatais e a concessão de facilidades
financeiras para facilitar a sua
venda. Em outras palavras, os
ganhos que a ausência de uma
competição verdadeira não traz
são garantidos antecipadamente em vantagens nebulosas ou
embutidos numa liberdade
quase irrestrita de preços", diz
ele.
No modelo, a transmissão separada da geração e a distribuição continuariam sendo consideradas monopólios naturais. A
primeira permaneceria estatal e
a segunda seria aberta à privatização. Não atentaram para as
diferenças em relação ao modelo inglês. Aqui, em um sistema
predominantemente hidrelétrico, a transmissão desempenha
papel fundamental na definição
da energia firme. No sistema inglês, predominantemente térmico, a transmissão é neutra com
relação ao nível de energia firme do sistema.
Por questão de espaço, amanhã completo a análise apresentada pelo engenheiro França.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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