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LUÍS NASSIF
A discussão sobre
a Nossa Caixa
É possível , nas condições
de regulação atuais do mercado, ter um banco estadual que
tenha ações em Bolsa -consequentemente, compromissos
com a rentabilidade- e, ao
mesmo tempo, cumpra um papel social -isto é, entre em
áreas que, pela baixa rentabilidade, não interessem ao setor
privado?
Esse é o enigma que o governo
do Estado de São Paulo se propôs a desvendar, com o anúncio
da venda pulverizada de ações
da Nossa Caixa, mas mantendo
o controle do Estado.
Como lógica, o projeto é consistente. Depois da saída de cena
do Banespa, a Nossa Caixa tornou-se o único banco estatal de
São Paulo. A manutenção do
controle público foi questão de
honra do governador Mário Covas, que, para tanto, pagou caro: o Estado teve que pagar 50%
do passivo fiduciário da Nossa
Caixa em 18 meses, quando poderia ter financiado 80% em 30
anos, caso tivesse optado pela
privatização.
Pelo modelo proposto -inaugurado pelo Banco do Brasil-,
seriam criadas sete subsidiárias
integrais da Nossa Caixa, para
atuar na área de produtos
-cartão de crédito, crédito e financiamento, gestão de recursos de terceiros etc.-, justamente as mais concorrenciais.
Essas subsidiárias serão privatizadas, ficando o sócio privado
com 51% no capital e acento no
conselho da Nossa Caixa.
Por sua vez a Nossa Caixa
venderá 49% de seu capital,
parte para os sócios das subsidiárias (na forma de ações preferenciais), parte de forma pulverizada no mercado. Os recursos servirão para o Tesouro paulista fazer caixa e para alavancar a política de investimentos
da Nossa Caixa.
É um caso bastante interessante, que permitirá resolver
duas questões ainda nebulosas:
1) é possível casar função social (nichos de baixa rentabilidade) com o objetivo de apresentar rentabilidade similar à
dos concorrentes privados (condição para se conseguir investidor privado)?
2) é possível garantir que o
modelo proposto será imune a
governantes populistas?
Em relação ao primeiro item,
bancos públicos têm vantagens
adicionais, capazes de permitir
contrabalançar ação pública
com rentabilidade. A Nossa
Caixa administra um saldo médio de R$ 2,5 bilhões do Tesouro
do Estado. Dentro de cinco anos
terá a folha de salários do Estado. Além disso, tem uma estrutura enxuta e está em expansão.
A questão é o item 2: como sobreviver a governantes populistas.
Dos problemas do Banespa em
1994 até agora muita água rolou. O Banco Central aprimorou
os controles, as exigências de balanço e de capitalização, as regras para a identificação de créditos de difícil liquidação. Além
disso, há proibições explícitas de
negociar com entidades públicas. No campo da Lei das Sociedades Anônimas, é possível estabelecer controle de abusos por
meio do Conselho de Administração. Ou então incluindo a
Nossa Caixa no Novo Mercado
do Bovespa -que exige uma
política de ampla transparência
com os investidores.
São avanços institucionais e
culturais relevantes. Ainda assim, há que estudar bastante, na
modelagem da operação para
reforços adicionais à profissionalização. Um eventual governo populista certamente reduziria a disponibilidade de caixa
do Estado. E, como não existe
uma especificação clara do que
seriam programas sociais, corre-se o risco de englobar nessa família demandas políticas menores. Todo projeto, para ser legítimo, tem que dispor de condições
de sobreviver à falta de seus formuladores.
De qualquer modo, será um
bom exercício para discutir um
novo modelo de empresa pública.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail: lnassif@uol.com.br
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