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LUÍS NASSIF
Preparando o segundo tempo
É bom começar a pensar em
um novo presidente do
Banco Central para o segundo
semestre. Há várias razões para
isso. A primeira é que dr. Henrique Meirelles perdeu o "timing"
para a redução da taxa de juros.
Além disso, ficou preso a uma
armadilha retórica. Para se defender das críticas, radicalizou a
retórica de tal maneira que
qualquer tentativa de acelerar a
queda de juros será interpretada como interferência política.
E sem a queda rápida das taxas
arrisca-se a jogar o país em uma
recessão e aumentar dramaticamente a dívida interna.
A segunda razão é que o dr.
Meirelles não tem conhecimento nem experiência técnica para
conduzir a uma redução rápida
das taxas sem incorrer em barbeiragens. Grande parte do imobilismo atual do BC em relação
aos juros é a falta de segurança
técnica de sua diretoria para
ousar vôos maiores e necessários.
A terceira razão é que Meirelles representa, hoje em dia,
uma ortodoxia vazia e sem resultados. Em caso de desgaste
maior do governo Lula com a
recessão, haverá a necessidade
de retomar a política econômica
em bases menos ortodoxas. Hoje
em dia, o governo Lula está
acuado à esquerda por defensores de uma ruptura com as regras do jogo e a geração de superávit. Meirelles e seu exército
não demonstraram ter envergadura técnica para uma discussão mais aprofundada sobre o
tema. Quando seu discurso se
esvaziar, por ausência de resultados, ou o governo como um
todo entra em crise ou se utiliza
o expediente de praxe: substitui
a parte central das críticas por
pessoas que possam proceder à
necessária mudança de rumo
sem turbulências maiores.
É importante que o governo
Lula se dê conta de que já possui
credibilidade no mercado e que,
a partir dessa base, o jogo não
pode ser mais o de satisfazer a
todas as demandas criadas diariamente, sob o risco de comprometer os fundamentos da economia, pelo crescimento da dívida interna e da vulnerabilidade externa.
O governo já conseguiu se cercar de interlocutores relevantes
e com experiência. Por isso terá
condições de proceder à mudança consolidando o papel do BC,
reduzindo essa rigidez cega que
está afundando a economia e, a
médio prazo, comprometendo a
governabilidade.
"Papers"
Todos os grandes bancos centrais do mundo fizeram de seu
site uma prestação de contas à
sociedade. Esmeram-se em disponibilizar dados, em abrir discussões, em explicar medidas.
No site do Banco Central brasileiro, a maioria absoluta dos
trabalhos é de "papers" em inglês. Inclusive o último trabalho
do ex-presidente da instituição
Armínio Fraga constatando tardiamente o que muitos analistas alertaram quando da implantação do sistema de "metas
inflacionárias". A constatação é
que economias emergentes possuem aberturas externas menores, sujeitando sua economia a
uma grande volatilidade cambial, com implicações diretas sobre inflação -cenário não observado em economias desenvolvidas, onde essa teoria foi
criada.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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