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PREÇO DO DINHEIRO
Na década de 80, inflação alta e indexação "comiam" juros devidos por empresas e consumidores
Queda da inflação acirrou debate sobre juros
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O debate sobre as taxas de juros
do BC (Banco Central) nunca foi
tão central para a política econômica brasileira quanto agora.
No passado, a definição da taxa
básica do governo tinha pouca relevância. As taxas de inflação altas
e o grau elevado de indexação da
economia distorciam todos os
preços: inclusive os juros.
Na década de 80, por exemplo,
os brasileiros se endividavam
com taxas de juros nominais
(aquelas previstas expressamente
em contratos) muito mais altas do
que as praticadas hoje. E as taxas
do BC também eram extremamente elevadas. Em 1988, por
exemplo, a taxa de juros básica
chegava a mais de 1.000% ao ano.
No entanto, a taxa nominal não
importava muito, já que a inflação
"comia" parte do juro e, muitas
vezes, superava a taxa nominal.
Assim, uma taxa de juros tão alta não impedia que uma empresa
fizesse um bom negócio ao pegar
um empréstimo para comprar
uma máquina de, por exemplo,
R$ 1.000. Imagine que a taxa de
juros fosse de 100% ao mês. Se o
preço da máquina comprada subisse 110%, ela valeria, em um
mês, R$ 2.100. Mas o empresário a
comprou com um empréstimo de
30 dias, pagando apenas R$ 2.000
no final do mês. Ele poderia comprar a geladeira e "economizaria"
R$ 100.
"Não havia, na verdade, uma referência para a taxa de juros", diz
Daniel Thá, analista econômico
da Global Invest.
De meados da década de 80 até
1994, o governo lançou vários planos para combater a inflação. A
maioria estava baseada em controle de preços e salários.
Em 1990, o Plano Collor confiscou a poupança financeira dos
brasileiros, tirando dinheiro da
praça, numa nova tentativa frustrada de controlar a inflação.
Em alguns dos planos, o governo tentava utilizar os juros altos
para controlar a inflação. Mas,
muitas vezes, a alta de preços era
maior que a esperada pela autoridade monetária, e os juros reais,
como no exemplo do empresário,
ficavam negativos.
"É o caso do cachorro tentando
correr atrás do rabo. O governo
subia os juros, mas a inflação futura era maior que o esperado e as
taxas ficavam negativas", explica
Carlos Da Costa, professor da Faculdade Ibmec.
Os preços subiam e reduziam a
importância dos juros nominais.
"A taxa só recobrou importância
a partir do Real", diz Thá. Essa relevância aumentou ainda mais
quando o Brasil adotou o sistema
de metas de inflação, em 1999.
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