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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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PREÇO DO DINHEIRO

Na década de 80, inflação alta e indexação "comiam" juros devidos por empresas e consumidores

Queda da inflação acirrou debate sobre juros

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O debate sobre as taxas de juros do BC (Banco Central) nunca foi tão central para a política econômica brasileira quanto agora.
No passado, a definição da taxa básica do governo tinha pouca relevância. As taxas de inflação altas e o grau elevado de indexação da economia distorciam todos os preços: inclusive os juros.
Na década de 80, por exemplo, os brasileiros se endividavam com taxas de juros nominais (aquelas previstas expressamente em contratos) muito mais altas do que as praticadas hoje. E as taxas do BC também eram extremamente elevadas. Em 1988, por exemplo, a taxa de juros básica chegava a mais de 1.000% ao ano.
No entanto, a taxa nominal não importava muito, já que a inflação "comia" parte do juro e, muitas vezes, superava a taxa nominal.
Assim, uma taxa de juros tão alta não impedia que uma empresa fizesse um bom negócio ao pegar um empréstimo para comprar uma máquina de, por exemplo, R$ 1.000. Imagine que a taxa de juros fosse de 100% ao mês. Se o preço da máquina comprada subisse 110%, ela valeria, em um mês, R$ 2.100. Mas o empresário a comprou com um empréstimo de 30 dias, pagando apenas R$ 2.000 no final do mês. Ele poderia comprar a geladeira e "economizaria" R$ 100.
"Não havia, na verdade, uma referência para a taxa de juros", diz Daniel Thá, analista econômico da Global Invest.
De meados da década de 80 até 1994, o governo lançou vários planos para combater a inflação. A maioria estava baseada em controle de preços e salários.
Em 1990, o Plano Collor confiscou a poupança financeira dos brasileiros, tirando dinheiro da praça, numa nova tentativa frustrada de controlar a inflação.
Em alguns dos planos, o governo tentava utilizar os juros altos para controlar a inflação. Mas, muitas vezes, a alta de preços era maior que a esperada pela autoridade monetária, e os juros reais, como no exemplo do empresário, ficavam negativos.
"É o caso do cachorro tentando correr atrás do rabo. O governo subia os juros, mas a inflação futura era maior que o esperado e as taxas ficavam negativas", explica Carlos Da Costa, professor da Faculdade Ibmec.
Os preços subiam e reduziam a importância dos juros nominais. "A taxa só recobrou importância a partir do Real", diz Thá. Essa relevância aumentou ainda mais quando o Brasil adotou o sistema de metas de inflação, em 1999.


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