São Paulo, Segunda-feira, 19 de Julho de 1999
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CIDADANIA
Segundo pesquisa da USP, as multinacionais participam mais do que as companhias brasileiras
56% das empresas têm atuação social

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

Uma pesquisa inédita sobre cidadania empresarial revela que 56% das empresas em operação no Brasil têm investido em programas e atividades de cunho social ou comunitário e na promoção do voluntariado entre os seus funcionários.
Realizado pelo Ceats/USP (Centro de Estudos em Administração do Terceiro Setor, da Universidade de São Paulo), a pedido do Programa Voluntários do Conselho da Comunidade Solidária, o estudo desfaz o mito de que as empresas brasileiras tratam com negligência sua atuação social.
A pesquisa, que ouviu 273 empresas de grande, médio e pequeno porte em nove Estados brasileiros e no Distrito Federal, revela ainda que 48% das empresas apoiam a atuação de seus funcionários como voluntários em projetos sociais.

Surpresa
Rosa Maria Fischer, do Ceats/ USP, diz que o "surpreendente" resultado da pesquisa indica que as empresas perceberam que "não podem mais se fechar dentro de seus muros".
"As empresas entenderam que têm responsabilidade em relação à sociedade civil e à comunidade vizinha. Não basta mais cuidar apenas dos seus funcionários e da produção", afirma.
Mas, acrescenta a pesquisadora, o fato de 43% das empresas declararem não fazer nada na área social indica que ainda há muito espaço para a ampliação dessa atuação no ambiente empresarial.
Mónica Corullón, coordenadora do Programa Voluntários do Conselho da Comunidade Solidária, afirma que esperava um índice muito mais baixo de responsabilidade social das empresas.
"Foi surpreendente saber que mais da metade das empresas pesquisadas tem alguma ação, especialmente de assistência a crianças e adolescentes carentes e na área de educação."
Uma outra surpresa, diz Mónica Corullón, foi o apoio de 17% das empresas entrevistadas às ações voluntárias de seus funcionários durante o horário regular de trabalho.

Multinacionais
As empresas privadas nacionais e multinacionais mostraram um comportamento diferenciado das organizações públicas: 61% das multinacionais e 56% das nacionais afirmam atuar na área social, contra 42% das públicas.
Rebecca Raposo, diretora executiva do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), organização sem fins lucrativos de promoção da cidadania empresarial que apoiou a pesquisa, diz que a maior contribuição da pesquisa foi desfazer o mito de que as empresas brasileiras estão desatentas à questão da responsabilidade social dos empresários.
"Embora a atuação social não seja uma conduta normal de todas as empresas, embora não tenha uma incidência mais elevada no país, como seria o desejado, a pesquisa mostra que a maioria das empresas está atenta a essa questão", diz.

Bem-estar social
Rebecca Raposo atribui o aumento da consciência social das empresas no país a três fatores.
O primeiro é o desejo dos empresários de produzir bem-estar social e não apenas bens e serviços para a população.
Em segundo vem o uso dos impostos, por meio de incentivos fiscais, em projetos específicos, em vez de destiná-los diretamente ao governo.
O terceiro fator é a percepção crescente de que a "empresa-cidadã" atrai a fidelidade de seus colaboradores e consumidores.


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