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DESACELERAÇÃO
Após boom de quase um ano, setor vende menos, suspende lançamentos que já estavam programados e demite
Construção civil sente a freada do PIB
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria da construção civil,
dona de 9% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, já sente
nos canteiros de obra o impacto
da desaceleração da economia do
país revelada pelo IBGE na semana passada.
Depois de viver um boom por
pelo menos um ano, o setor começa a vender menos, a suspender lançamentos de empreendimentos que já estavam programados e, consequência final dos
momentos de aperto, a demitir.
Foi no segundo trimestre deste
ano que veio a surpresa ruim. De
abril a julho, o PIB do setor cresceu 0,3% em relação a igual período do ano passado. Bem menos
do que os 4,2% registrados no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2000.
As demissões são um sinal de
alerta. O nível de emprego na
construção civil, que vinha crescendo até abril, caiu 0,57% de
maio a julho deste ano no Estado
de São Paulo.
Isso significou a demissão de
2.232 trabalhadores no Estado, segundo o Sinduscon (Sindicato da
Indústria da Construção Civil do
Estado de São Paulo). O setor emprega no Estado de São Paulo cerca de 390 mil pessoas e cerca de 1,3
milhão em todo o país.
As dispensas, que começaram
há três meses, estão se acentuando. Em maio, o nível de emprego
do setor caiu 0,26% sobre abril
(1.043 demissões). Em junho,
houve nova queda, de 0,26% sobre maio (1.013 demissões). Em
julho, o nível de emprego caiu
mais ainda -0,31% (1.217 demissões) sobre junho.
"Estamos preocupados. É cada
vez mais frequente ver demissões
assim que as obras são concluídas", afirma Antonio de Sousa
Ramalho, presidente do sindicato
dos trabalhadores na indústria da
construção civil em São Paulo.
O sindicato, diz ele, está efetuando 360 homologações de trabalhadores por semana, em média, desde o mês passado. Até então, a média era de 50 homologações por semana. Não estão incluídas nesse número as homologações feitas na DRT (Delegacia
Regional do Trabalho).
Os investidores em imóveis estão mais cautelosos. Segundo o
Sinduscon, o número de lançamentos de prédios caiu 19,6% de
janeiro a julho deste ano em relação a igual período do ano passado, de 15.678 empreendimentos
para 12.601 edifícios.
"Os últimos meses estão muito
tumultuados para o setor. Crise
na Argentina, dólar mais caro e
juros altos deixaram os investidores mais cautelosos", diz Gerson
Luiz Bendilati, diretor da Inpar,
construtora e incorporadora.
A Inpar, diz, estava preparada
para lançar 11 empreendimentos
neste ano, mas optou por segurar
quatro. "Não adianta. As vendas
dos imóveis não deslancham com
os juros assim tão altos."
Lançamento suspenso
A construtora decidiu suspender o lançamento de quatro edifícios residenciais. São apartamentos de três dormitórios, que custam cerca de R$ 150 mil, em média, e de quatro dormitórios, que
custam até R$ 350 mil.
Se o mercado se mostrar mais
ativo, a Inpar pode mudar de
idéia, diz Bendilati. A construtora,
que previa faturar R$ 350 milhões
neste ano, já se conformou em repetir a receita do ano passado, de
R$ 260 milhões.
"O mercado está em banho-maria. O investidor perdeu a confiança, ainda mais agora que o
próprio governo se assustou com
a queda da atividade econômica",
afirma Artur Quaresma Filho,
presidente do Sinduscon.
O sindicato dos trabalhadores
tem uma previsão pessimista.
Trabalha com a estimativa de 45
mil demissões até o final do ano
no Estado de São Paulo. Se esse
cálculo estiver certo, o setor vai
perder mais trabalhadores do que
chegou a contratar no último ano
no Estado de São Paulo.
Em julho do ano passado, a indústria da construção paulista
empregava 374.437 pessoas. Em
julho deste ano, 391.942. Significa
que, nos últimos 12 meses, o setor
admitiu 17.505 trabalhadores.
Os empresários do setor ainda
têm dúvidas sobre a intensidade
da queda da atividade do setor.
"Mas não há dúvida de que o setor vai continuar desacelerando",
afirma Ana Maria Castelo, coordenadora do departamento de
economia do Sinduscon.
Segundo ela, além de os juros
estarem elevados, o que também
desestimula tanto quem pretende
construir como quem pretende
comprar um imóvel é a contração
da massa salarial. No primeiro semestre deste ano, a massa salarial
ficou estagnada, depois de crescer
3,7% em 2000 e 5,2% em 99.
"Agora vamos sentir mais ainda
os efeitos disso", diz Ana Maria.
O Secovi (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e
Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais do Estado
de São Paulo) já vê o mercado retraído. Em junho, informa, a velocidade de vendas de imóveis (unidades vendidas sobre as unidades
ofertadas) foi de 8,8%. Dados preliminares do sindicato mostram
que esse percentual não deve passar de 8% em julho.
Em maio, a velocidade de vendas de imóveis foi de 9,5%, a
maior deste ano. No ano passado,
os melhores meses foram julho e
agosto que registraram, respectivamente, 12,1% e 12,4%.
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