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DESAQUECIMENTO
Agora, discussão dos economistas é sobre a intensidade do impacto que a desaceleração provocará neste ano
Polêmica sobre o PIB não descarta freada
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A divulgação do resultado do
PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no segundo trimestre deste
ano assustou economistas no governo e fora dele. O dado divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) na
quarta-feira, se confirmado, mostra que o nível de atividade da
economia despencou.
Segundo o IBGE, o PIB cresceu
modesto 0,79% no trimestre
quando comparado com o mesmo período de 2000. Quando
comparado com o primeiro trimestre, o resultado parece desanimador: houve queda de 0,99%.
Os analistas debruçaram-se sobre os números, e com razão. Números divulgados pelo IBGE davam a entender que o resultado
deveria ser melhor. A Pesquisa Industrial Mensal do instituto mostrava que o setor cresceu 7,1% no
primeiro trimestre e 2,9% no segundo. Um desempenho superior
ao crescimento da indústria de
transformação no PIB: 0,36%.
A diferença entre o que era esperado e o resultado divulgado
acendeu os ânimos na quinta-feira, com economistas sugerindo
que o resultado acabaria sendo revisto. Na sexta-feira, no entanto, a
pergunta voltou a ser a mesma de
antes da divulgação: qual será o
tombo imposto à economia brasileira neste ano?
Confirmado ou não o número
do IBGE, que pode sofrer revisões
como ocorre com as estatísticas
do PIB em todos os países, o fato é
que a economia brasileira enfrenta vários choques adversos.
Não existem precedentes, por
exemplo, para medir o impacto
do racionamento de energia. As
estimativas sobre seus efeitos são
revistas a cada novo dado sobre a
reação de consumidores e empresas à restrição energética.
Tudo o que se pode afirmar
com certeza é que a economia
crescerá menos do que poderia
caso não enfrentasse a crise.
Existem os choques externos. A
Argentina, entre surtos de euforia
e depressão dos mercados financeiros brasileiro e argentino, continua agonizando e dependendo
de um sinal de ajuda do FMI ou
dos países ricos. A economia
mundial está se desacelerando, as
grandes empresas multinacionais
divulgam cada vez mais relatórios
mostrando resultados ruins.
Por um lado, o contágio da Argentina faz os investidores ficarem mais reticentes com o Brasil.
Por outro, uma retração dos investimentos das multinacionais
pode secar uma fonte crucial para
o financiamento externo brasileiro: a do investimento direto.
É essa, por exemplo, uma das
grandes preocupações do professor Antonio Correa de Lacerda,
da PUC-SP. Ele lembra que a desaceleração mundial também reduz o preço de produtos básicos
exportados pelo Brasil e as chances de aumentar as exportações.
Soma-se ao cenário externo adverso uma economia interna sofrendo o aperto da política monetária. O Banco Central elevou os
juros em resposta às oscilações do
câmbio, que podiam alimentar a
inflação interna. Há analistas, por
exemplo, que atribuem grande
parte da desaceleração do último
trimestre aos juros mais altos, já
que o racionamento só começou
em junho, último mês do período.
O quadro, com ou sem a revisão
do dado do PIB do IBGE, ficará
muito longe do cenário róseo desenhado pelo governo no início
do ano. Iríamos crescer, dizia-se
4,5%, taxa maior do que a da inflação, que ficaria em 4%.
Os analistas mais otimistas esperam agora que o país cresça, no
máximo, 2,5% e que a inflação
chegue aos 6%.
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