São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DESAQUECIMENTO

Agora, discussão dos economistas é sobre a intensidade do impacto que a desaceleração provocará neste ano

Polêmica sobre o PIB não descarta freada

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A divulgação do resultado do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no segundo trimestre deste ano assustou economistas no governo e fora dele. O dado divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na quarta-feira, se confirmado, mostra que o nível de atividade da economia despencou.
Segundo o IBGE, o PIB cresceu modesto 0,79% no trimestre quando comparado com o mesmo período de 2000. Quando comparado com o primeiro trimestre, o resultado parece desanimador: houve queda de 0,99%.
Os analistas debruçaram-se sobre os números, e com razão. Números divulgados pelo IBGE davam a entender que o resultado deveria ser melhor. A Pesquisa Industrial Mensal do instituto mostrava que o setor cresceu 7,1% no primeiro trimestre e 2,9% no segundo. Um desempenho superior ao crescimento da indústria de transformação no PIB: 0,36%.
A diferença entre o que era esperado e o resultado divulgado acendeu os ânimos na quinta-feira, com economistas sugerindo que o resultado acabaria sendo revisto. Na sexta-feira, no entanto, a pergunta voltou a ser a mesma de antes da divulgação: qual será o tombo imposto à economia brasileira neste ano?
Confirmado ou não o número do IBGE, que pode sofrer revisões como ocorre com as estatísticas do PIB em todos os países, o fato é que a economia brasileira enfrenta vários choques adversos.
Não existem precedentes, por exemplo, para medir o impacto do racionamento de energia. As estimativas sobre seus efeitos são revistas a cada novo dado sobre a reação de consumidores e empresas à restrição energética.
Tudo o que se pode afirmar com certeza é que a economia crescerá menos do que poderia caso não enfrentasse a crise.
Existem os choques externos. A Argentina, entre surtos de euforia e depressão dos mercados financeiros brasileiro e argentino, continua agonizando e dependendo de um sinal de ajuda do FMI ou dos países ricos. A economia mundial está se desacelerando, as grandes empresas multinacionais divulgam cada vez mais relatórios mostrando resultados ruins.
Por um lado, o contágio da Argentina faz os investidores ficarem mais reticentes com o Brasil. Por outro, uma retração dos investimentos das multinacionais pode secar uma fonte crucial para o financiamento externo brasileiro: a do investimento direto.
É essa, por exemplo, uma das grandes preocupações do professor Antonio Correa de Lacerda, da PUC-SP. Ele lembra que a desaceleração mundial também reduz o preço de produtos básicos exportados pelo Brasil e as chances de aumentar as exportações.
Soma-se ao cenário externo adverso uma economia interna sofrendo o aperto da política monetária. O Banco Central elevou os juros em resposta às oscilações do câmbio, que podiam alimentar a inflação interna. Há analistas, por exemplo, que atribuem grande parte da desaceleração do último trimestre aos juros mais altos, já que o racionamento só começou em junho, último mês do período.
O quadro, com ou sem a revisão do dado do PIB do IBGE, ficará muito longe do cenário róseo desenhado pelo governo no início do ano. Iríamos crescer, dizia-se 4,5%, taxa maior do que a da inflação, que ficaria em 4%.
Os analistas mais otimistas esperam agora que o país cresça, no máximo, 2,5% e que a inflação chegue aos 6%.



Texto Anterior: Português investe R$ 700 mi em shopping
Próximo Texto: Para analistas, BC não deve baixar os juros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.