São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2001

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Para analistas, BC não deve baixar os juros

DA REPORTAGEM LOCAL

Para economistas ouvidos pela Folha, mesmo que a desaceleração da economia brasileira seja tão forte quanto o dado divulgado na semana passada pelo IBGE faz supor, o Banco Central não deve diminuir a taxa de juros nesta, quando se reúne o Comitê de Política Monetária (Copom).
Na avaliação da maioria, as incertezas do cenário externo, principalmente quanto ao desfecho da crise argentina, exige que o BC seja cauteloso e que mantenha a taxa de juros nos atuais 19% ao ano.
"A preocupação central do BC será o câmbio", diz Eduardo Freitas, economista-chefe do Unibanco, referindo-se à preocupação do BC, mencionada em todas as últimas atas das reuniões do Copom, em evitar que a alta do dólar seja repassada aos preços e, assim, comprometa a meta de inflação de 2002, de 3,5%.
O economista Carlos Kawall, do Citibank, projetava uma alta de juros na reunião desta semana. Agora, Kawall avalia que a tendência é de manutenção dos juros no patamar atual. "A inflação e o cenário argentino continuam incomodando", diz.
Ele lembra ainda que uma redução dos juros na próxima reunião do Copom pode, inclusive, comprometer a credibilidade da política monetária já que, se ocorresse um choque na Argentina com reflexos no Brasil, o BC acabaria tendo que elevar os juros novamente. "A política monetária não pode ser errática", diz.
O economista Odair Abate, do Lloyds TSB, concorda. Ele avalia que a queda no nível de atividade deve abrir campo para a redução dos juros, já que haverá menos espaço para repasse de preços. Mas sua previsão é que isso não deve ocorrer nesta reunião.
"Os juros devem ficar estáveis, pois o problema da Argentina ainda preocupa", diz Abate, lembrando também, como Kawall, que a política monetária não pode ser precipitada, à custa de comprometer a credibilidade do BC.
"Os movimentos de juros devem ocorrer em ciclos. Nós começamos um ciclo de alta em março. Podemos começar um ciclo de baixa, que é necessário, mas não agora", diz Abate, lembrando o risco de que um aprofundamento da crise na Argentina obrigue o BC a elevar os juros pouco depois de ter promovido sua redução.
Antônio Corrêa de Lacerda, economista da PUC-SP,também não acredita em redução dos juros nesta reunião do Copom. Lacerda lembra que a economia brasileira tem uma vulnerabilidade externa muito grande e que precisa evitar o risco de que uma taxa de juros real muito baixa, no limite, cause a fuga para o dólar num ambiente de muita incerteza. "A vulnerabilidade externa acaba criando um piso para os juros."



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