São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2001

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Governo dos EUA investe em supremacia estratégica

GILSON SCHWARTZ

DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Sob um céu já bem carregado de nuvens escuras, a economia mundial segue um rumo cada vez mais incerto à recessão.
O pouso é suave, mas também é amargo e doloroso. Na semana passada, os EUA anunciaram um déficit comercial maior em junho, já refletindo a desaceleração mundial que deprime as exportações norte-americanas.
Já se fala numa "desaceleração sincronizada global".
Em tese, um país cujo déficit comercial aumenta tenderia a provocar, no mercado, uma perda de valor relativo de sua moeda.
Também em tese, um governo que reduz os juros estimula a saída de capitais, ou seja, a compra de ativos financeiros em outros países. Na próxima terça, o Fed estará reunido e predominam as expectativas de que ocorra mais uma redução das taxas, para 3,5% ao ano.
Nos EUA, o banco central vem reduzindo as taxas de juros, mas ninguém se anima a sair investindo por aí. Num mercado mundial sincronizado na retração, os EUA ainda representam o refúgio mais seguro. E o governo Bush faz repetidas declarações em defesa de uma política de dólar forte.
Dólar forte e economia mundial fraca é uma combinação que favorece uma concentração de poder financeiro ainda maior nos Estados Unidos.
A suavidade do pouso seria resultado, portanto, de duas forças: não se trata apenas de uma desaceleração (mais suave que uma recessão), mas também de um declínio cujos efeitos são muito mais amargos para o resto do sistema econômico mundial. Não é por acaso que as autoridades dos EUA insistem na defesa de um dólar forte.

Controle da informação
Esse fortalecimento relativo dos EUA no sistema internacional, mesmo numa fase de desaquecimento, não é apenas um fenômeno econômico. Há dimensões tecnológicas estratégicas em jogo quando se trata de assegurar as condições de supremacia ao longo do tempo.
Na semana passada foi anunciado o fechamento da revista "Industry Standard", talvez o maior ícone da bolha especulativa da "nova economia" internética de São Francisco. É o lado do desaquecimento do investimento e do fim da euforia.
Ao mesmo tempo, o governo dos EUA sustenta investimentos estratégicos em tecnologias voltadas para a capacitação no controle de volumes cada vez mais gigantescos de informação.
A National Science Foundation, espécie de Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA, aprovou, por exemplo, um investimento de mais de US$ 50 milhões no desenvolvimento de um supercomputador.
Não se trata de decisão originada com o governo Bush. No final do mandato de Clinton, a comunidade científica americana indicou o desenvolvimento desse supercomputador como uma prioridade nacional no campo da tecnologia da informação e da comunicação.
Entre as aplicações de máquinas desse porte está o processamento de complexas bases de dados meteorológicos. Ou a simulação de intricados padrões de comportamento genético.
Trata-se de equipamento pesado para processamento e controle de informação, qualquer tipo de informação.
Mesmo entrando em fase de declínio econômico, o governo dos EUA tem bem claras as prioridades de sua computação estratégica. E trata de criar garantias para que, passado o primeiro ciclo de inovação com a internet, abram-se novas fronteiras de expansão para os investimentos privados em tecnologias de informação e comunicação.



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