|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Governo dos EUA investe em supremacia estratégica
GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Sob um céu já bem carregado de nuvens escuras, a economia mundial segue um rumo
cada vez mais incerto à recessão.
O pouso é suave, mas também
é amargo e doloroso. Na semana
passada, os EUA anunciaram
um déficit comercial maior em
junho, já refletindo a desaceleração mundial que deprime as exportações norte-americanas.
Já se fala numa "desaceleração
sincronizada global".
Em tese, um país cujo déficit
comercial aumenta tenderia a
provocar, no mercado, uma
perda de valor relativo de sua
moeda.
Também em tese, um governo
que reduz os juros estimula a
saída de capitais, ou seja, a compra de ativos financeiros em outros países. Na próxima terça, o
Fed estará reunido e predominam as expectativas de que
ocorra mais uma redução das
taxas, para 3,5% ao ano.
Nos EUA, o banco central vem
reduzindo as taxas de juros, mas
ninguém se anima a sair investindo por aí. Num mercado
mundial sincronizado na retração, os EUA ainda representam
o refúgio mais seguro. E o governo Bush faz repetidas declarações em defesa de uma política
de dólar forte.
Dólar forte e economia mundial fraca é uma combinação
que favorece uma concentração
de poder financeiro ainda maior
nos Estados Unidos.
A suavidade do pouso seria resultado, portanto, de duas forças: não se trata apenas de uma
desaceleração (mais suave que
uma recessão), mas também de
um declínio cujos efeitos são
muito mais amargos para o resto do sistema econômico mundial. Não é por acaso que as autoridades dos EUA insistem na
defesa de um dólar forte.
Controle da informação
Esse fortalecimento relativo
dos EUA no sistema internacional, mesmo numa fase de desaquecimento, não é apenas um
fenômeno econômico. Há dimensões tecnológicas estratégicas em jogo quando se trata de
assegurar as condições de supremacia ao longo do tempo.
Na semana passada foi anunciado o fechamento da revista
"Industry Standard", talvez o
maior ícone da bolha especulativa da "nova economia" internética de São Francisco. É o lado
do desaquecimento do investimento e do fim da euforia.
Ao mesmo tempo, o governo
dos EUA sustenta investimentos
estratégicos em tecnologias voltadas para a capacitação no controle de volumes cada vez mais
gigantescos de informação.
A National Science Foundation, espécie de Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA, aprovou, por exemplo, um investimento de mais de US$ 50 milhões no desenvolvimento de
um supercomputador.
Não se trata de decisão originada com o governo Bush. No
final do mandato de Clinton, a
comunidade científica americana indicou o desenvolvimento
desse supercomputador como
uma prioridade nacional no
campo da tecnologia da informação e da comunicação.
Entre as aplicações de máquinas desse porte está o processamento de complexas bases de
dados meteorológicos. Ou a simulação de intricados padrões
de comportamento genético.
Trata-se de equipamento pesado para processamento e controle de informação, qualquer tipo de informação.
Mesmo entrando em fase de
declínio econômico, o governo
dos EUA tem bem claras as prioridades de sua computação estratégica. E trata de criar garantias para que, passado o primeiro ciclo de inovação com a internet, abram-se novas fronteiras
de expansão para os investimentos privados em tecnologias
de informação e comunicação.
Texto Anterior: Opinião econômica - Rubens Ricupero: A fonte da nossa esperança Próximo Texto: Lições contemporâneas: Plano B para a Argentina Índice
|