São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004

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RETOMADA

Alta em julho foi de 12,8% em relação a 2003, diz IBGE; analistas já vêem expansão baseada em renda e prevêem reajustes

Comércio bate recorde com renda maior

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O comércio registrou neste ano o primeiro semestre de expansão contínua no volume de vendas desde o início da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em janeiro de 2001. Em junho, houve uma alta de 12,80% na quantidade comercializada sobre 2003 -a melhor variação para um mês desde o começo da série.
Como a base é fraca -2003 foi o pior ano da história para vários segmentos do varejo- há essa tendência de alta. Além disso, a recomposição (ainda parcial) da perda recente na renda do trabalhador e a queda no desemprego aumentaram a confiança do consumidor para gastar.
De janeiro a junho, as vendas aumentaram 9,33%, na comparação com o mesmo semestre de 2003. O crescimento acumulado nos 12 meses, até junho, foi de 3,31%. Este índice, que indica a tendência de longo prazo do comércio, era negativo até março deste ano -em abril, foi de 0,44% e, em maio, de 1,87%.
No ano passado, as vendas caíram 3,67%.

Pressão na inflação
Analistas publicaram ontem relatórios com duas considerações: 1) a expansão já ocorre não apenas com base em crédito, mas em aumento na renda; 2) esse cenário é propício para o início de remarcações moderadas de preços.
Segundo a área de análise da Global Invest, a expectativa de recuperação na renda e no emprego de forma vigorosa, a partir de julho, abre espaço para reajustes. Porém esse ainda não deve ser um fator determinante para a decisão da política monetária de juros.
"Será preciso ficar alerta a isso, mas esse é ainda um medo prematuro", disse Julio de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
O economista Nilo Macedo, da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, disse que os índices positivos devem-se ao fato de 2004 estar sendo o ano mais favorável ao crescimento econômico desde o início da pesquisa.
"Em 2001 não havia um ambiente positivo. Houve o problema da crise energética [racionamento de eletricidade], que criou um desajuste tanto no processo produtivo quanto no consumo das famílias. Em seguida, veio a mudança no quadro político e a retomada do processo inflacionário na virada de 2002 para 2003, que também atrapalharam o crescimento", disse.
Ele ressalta que o crescimento das vendas no segundo trimestre deste ano, de 11,24%, foi superior ao do primeiro trimestre, de 7,36%, o que indicaria uma consolidação desse quadro econômico mais positivo.
Continua a ser verificada uma expansão na venda de alimentos, que pode ser percebida nos indicadores dos supermercados e hipermercados.
Em junho, houve uma alta de 9% no volume vendido nesses segmentos, a maior variação positiva para a série do IBGE. Em junho de 2003, a venda caiu 8,38%. "Isso quer dizer que, na prática, recuperamos aquela perda e voltamos para a estaca zero", disse Almeida.
Como vem acontecendo desde o final do ano passado, o ramo do comércio que teve as maiores altas em junho foi móveis e eletrodomésticos.
As vendas aumentaram 36,31% na comparação com o mesmo mês de 2003, 29,4% no semestre e 17,5% em 12 meses.
Na análise de Macedo, houve um distanciamento grande entre as taxas de aumento no volume e na receita do varejo. Isso pode ser explicado pelo aumento nos preços dos alimentos e dos combustíveis em junho.
A Pesquisa Mensal do Comércio é feita em 26 Estados e no Distrito Federal -na região Norte, são pesquisadas apenas as empresas das capitais.


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