São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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COMÉRCIO EXTERIOR

Para negociador brasileiro na OMC, candidato do país vizinho tem imagem ligada à rodada malsucedida em 2003

Brasil associa uruguaio a "fracasso de Cancún"

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Mesmo negando haver um racha no Mercosul em torno da disputa para a direção-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), cuja escolha se dará em maio de 2005, Brasil e Uruguai já travam um "duelo diplomático" na defesa dos seus embaixadores que concorrerão ao maior posto do comércio internacional.
Do Mercosul estão inscritos os embaixadores Carlos Peres del Castilho, uruguaio, e o brasileiro Luiz Felipe de Seixas Corrêa, um dos articuladores do G-20, o grupo de países na OMC encabeçado pelo Brasil para enfrentar especialmente as barreiras agrícolas.
Ontem, em entrevista na Fiemg (a federação das indústrias mineiras), o embaixador Clodoaldo Hugueney Filho, Subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos do Ministério das Relações Exteriores e principal negociador brasileiro na OMC, criticou a candidatura posta pelo Uruguai, relacionando o nome do embaixador uruguaio ao resultado da rodada de Cancún.
Mesmo afirmando que conhece Peres del Castilho há 20 anos e que tem "apreço" por ele, Hugueney Filho disse que, para o Itamaraty, não há como negar que o embaixador uruguaio estava à frente na reunião ministerial da OMC que fracassou em Cancún, em setembro de 2003.
"O embaixador Peres del Castilho presidiu o conselho-geral da OMC durante o período que antecedeu a reunião ministerial de Cancún e que levou ao fracasso da conferência. Então, nossa percepção [é que] um pouco da candidatura dele tem a ver um pouco com esse episódio de Cancún. Quer se queira, quer não, ele era uma pessoa que estava ali em uma função central e levou à uma conferência que fracassou completamente."
Hugueney Filho disse que vê como "coisa normal" duas candidaturas da América do Sul e que não teria "problema nenhum" se a Argentina também quisesse lançar um nome para a disputa. Apesar de afirmar que as relações entre Brasil e Uruguai "são as melhores possíveis", ele deu a entender que o governo brasileiro não gostou de não ter sido informado previamente da candidatura uruguaia.
"A candidatura do Uruguai, quando foi apresentada, não teve nenhuma consulta ao Brasil", disse ele. "O Uruguai foi o primeiro país a ser informado pelo Brasil, antes do lançamento, da candidatura do embaixador Seixas Corrêa. Esse é um processo que nós jogamos com transparência".
Hugueney Filho lembrou que o Uruguai ocupa dois postos importantes de organizações internacionais, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), presidido por Enrique Iglesias, mas disse que o Brasil lançou um nome não por "achar que está em posição defensiva ou ruim nessa matéria" -embora tenha dito que "o Brasil é um pouco maior do que o Uruguai e não ocupa posto importante em nenhum organismo internacional".

Papel-chave
As inscrições para a disputa vão até dezembro. Em maio de 2005 acontecerá a escolha do novo dirigente da OMC, que se dá por aprovação consensual dos membros da organização. Para isso, os candidatos vão atrás do apoio dos países-membros. A posse será em setembro, três meses antes da rodada ministerial de Hong Kong.
A importância do cargo está no fato de o diretor-geral ser quem preside o comitê de negociações comerciais, o órgão máximo das rodadas de negociações. "O novo diretor-geral vai ter papel importante em todo o período final da rodada", disse Hugueney Filho.


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