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COMÉRCIO EXTERIOR
Para negociador brasileiro na OMC, candidato do país vizinho tem imagem ligada à rodada malsucedida em 2003
Brasil associa uruguaio a "fracasso de Cancún"
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Mesmo negando haver um racha no Mercosul em torno da disputa para a direção-geral da OMC
(Organização Mundial do Comércio), cuja escolha se dará em
maio de 2005, Brasil e Uruguai já
travam um "duelo diplomático"
na defesa dos seus embaixadores
que concorrerão ao maior posto
do comércio internacional.
Do Mercosul estão inscritos os
embaixadores Carlos Peres del
Castilho, uruguaio, e o brasileiro
Luiz Felipe de Seixas Corrêa, um
dos articuladores do G-20, o grupo de países na OMC encabeçado
pelo Brasil para enfrentar especialmente as barreiras agrícolas.
Ontem, em entrevista na Fiemg
(a federação das indústrias mineiras), o embaixador Clodoaldo
Hugueney Filho, Subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e
Tecnológicos do Ministério das
Relações Exteriores e principal
negociador brasileiro na OMC,
criticou a candidatura posta pelo
Uruguai, relacionando o nome do
embaixador uruguaio ao resultado da rodada de Cancún.
Mesmo afirmando que conhece
Peres del Castilho há 20 anos e
que tem "apreço" por ele, Hugueney Filho disse que, para o Itamaraty, não há como negar que o
embaixador uruguaio estava à
frente na reunião ministerial da
OMC que fracassou em Cancún,
em setembro de 2003.
"O embaixador Peres del Castilho presidiu o conselho-geral da
OMC durante o período que antecedeu a reunião ministerial de
Cancún e que levou ao fracasso da
conferência. Então, nossa percepção [é que] um pouco da candidatura dele tem a ver um pouco com
esse episódio de Cancún. Quer se
queira, quer não, ele era uma pessoa que estava ali em uma função
central e levou à uma conferência
que fracassou completamente."
Hugueney Filho disse que vê como "coisa normal" duas candidaturas da América do Sul e que não
teria "problema nenhum" se a Argentina também quisesse lançar
um nome para a disputa. Apesar
de afirmar que as relações entre
Brasil e Uruguai "são as melhores
possíveis", ele deu a entender que
o governo brasileiro não gostou
de não ter sido informado previamente da candidatura uruguaia.
"A candidatura do Uruguai,
quando foi apresentada, não teve
nenhuma consulta ao Brasil", disse ele. "O Uruguai foi o primeiro
país a ser informado pelo Brasil,
antes do lançamento, da candidatura do embaixador Seixas Corrêa. Esse é um processo que nós
jogamos com transparência".
Hugueney Filho lembrou que o
Uruguai ocupa dois postos importantes de organizações internacionais, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), presidido por Enrique Iglesias, mas disse que o Brasil lançou
um nome não por "achar que está
em posição defensiva ou ruim
nessa matéria" -embora tenha
dito que "o Brasil é um pouco
maior do que o Uruguai e não
ocupa posto importante em nenhum organismo internacional".
Papel-chave
As inscrições para a disputa vão
até dezembro. Em maio de 2005
acontecerá a escolha do novo dirigente da OMC, que se dá por
aprovação consensual dos membros da organização. Para isso, os
candidatos vão atrás do apoio dos
países-membros. A posse será em
setembro, três meses antes da rodada ministerial de Hong Kong.
A importância do cargo está no
fato de o diretor-geral ser quem
preside o comitê de negociações
comerciais, o órgão máximo das
rodadas de negociações. "O novo
diretor-geral vai ter papel importante em todo o período final da
rodada", disse Hugueney Filho.
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