São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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BOLA DE CRISTAL

Pesquisa da Amcham-SP apura que 70,79% dos consultados têm medo de uma disparada de preços em 2003

Empresários temem inflação e indexação

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O retorno significativo da inflação, acompanhada de uma reindexação da economia converteu-se no principal temor do empresariado para o próximo ano.
Pesquisa divulgada ontem pela Amcham-SP (Câmara Americana de Comércio de São Paulo) demonstra que 70,79% dos executivos consultados elegeram a combinação inflação/indexação como a maior das preocupações para 2003. Na sequência, aparece o medo do recuo da economia americana, que poderia provocar uma recessão mundial (49,75%). Como terceiro mais presente na lista de temores consta o aumento das desigualdades sociais (38,61%). Conduzido pelo Ibope, o levantamento foi feito junto com 400 das 5.400 empresas filiadas à Amcham, em seis Estados.
A disparada da inflação nos últimos meses reavivou o debate acerca, por exemplo, da retomada de um gatilho salarial, proposta já apresentada pela Força Sindical.
A própria pesquisa da Amcham aponta que, segundo os empresários, a inflação de 2003 ficará em cerca de 11,5%. Na média, a inflação estimada para este ano, segundo a pesquisa, será de 9,9%.
Representantes do futuro governo, como o coordenador da equipe de transição, Antonio Palocci, sustentam que essa "idéia (indexação) precisa ser evitada". Ontem, no seminário da Amcham, Guido Mantega, assessor econômico do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, também se mostrou contrário a qualquer indexação dos preços.
"É muito importante que não haja a volta da indexação. Temos um resto (de indexação) que precisa ser eliminado. Cerca de 30% da economia tem preços administrados (se referia basicamente às tarifas públicas). Isso transmite inflação de um período para o outro. Parte da inflação de 2002 vai ser transmitida a 2003. Mas num nível tolerável", disse Mantega.
Argumentou ainda que é preciso rever o índice usado para reajuste das tarifas públicas. Hoje este índice é o IGP-M (Índice Geral de Preços Médios), medido pela Fundação Getúlio Vargas. "O IGP-M é imperfeito, é um índice muito vinculado ao dólar e não mede devidamente a inflação."
Segundo ele, a forma de o novo governo afastar o fantasma da inflação será por meio de uma política monetária austera, estabilidade fiscal e cumprimentos dos contratos firmados. "Só assim retomamos a confiança dos investidores, haverá uma queda do dólar e da inflação", completou.
O levantamento da Amcham demonstrou também que a maioria dos empresários não pretende recorrer a crédito alheio para financiar investimentos no próximo anos. Dos consultados, 81,83% afirmaram que, se houver investimentos, será por meio de recursos próprios. Outros 18,17% pretendem recorrer a recursos de terceiros (empréstimos) para financiar sua expansão. São dois motivos básicos: as incertas eleitorais praticamente colocaram a zero as linhas de financiamento externo ao país. Por outro lado, para conter a inflação, o governo aumenta os juros e impõe restrições aos bancos. Resultado: o crédito interno é pouco e muito caro.
Mesmo diante desse quadro, há espaço para certo otimismo: as empresas consultadas prevêem que o PIB crescerá 2% este ano, na média. Em 2003, o crescimento seria de 2,5%. Mais: 57,4% dos consultados prevêem que as vendas no mercado interno vão crescer em 2003. Apenas 5,94% prevêem vendas piores no próximo ano.


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