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ANO DO DRAGÃO
Empresas que elevaram preços tinham proteção contra queda do real
Alta do dólar não justifica reajustes
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os últimos balanços apresentados pelas empresas revelam que a
disparada no preço dos alimentos
nem sempre tem como razão
principal a escalada do dólar
-tese defendida pelas companhias do setor para os reajustes.
A constatação é defendida pelos
analistas de bancos e corretoras
que se debruçaram nos números
das empresas, a pedido da Folha.
Em primeiro lugar, as grandes
companhias do setor, como a Sadia, estão bem "hedgeadas". Isso
quer dizer que elas contrataram,
há meses, operações no mercado
financeiro de proteção à subida
do dólar. Portanto suas contas
não levariam baque tão forte por
conta da atual elevação da moeda.
Existem também casos de companhias, como a Perdigão, que
compraram insumos -cotados
em dólar e que sentem, portanto,
forte pressão da escalada da moeda- antes da recente desvalorização do real. Logo, sentiram menos o encarecimento da matéria-prima e não precisariam repassar
reajustes muito elevados.
Em setembro e outubro, o preço
do frango subiu 15,67%. A inflação, nesses meses, ficou em 2,04%
(IPC/Fipe). Companhias já negociaram reajustes para o peru de
até 10%, em média, sobre 2001. A
razão das indústrias: o dólar.
As dificuldades das empresas
existem, mas vão além do câmbio.
As empresas tiveram forte perda
na margem no terceiro trimestre
(está em 3,2% negativa na Perdigão) por duas razões, admitem
elas. São: desaquecimento da economia mundial -o setor é exportador- e crescimento na
oferta de carnes, com queda no
preço de até 17% no ano.
A Sadia, por exemplo, tinha
contratado R$ 807,4 milhões em
operações de hedge em setembro
de 2002. Em junho, esse montante
era bem menor, R$ 292 milhões.
Ou seja, ela está bem mais protegida de variações do dólar. Ela
ainda tem a receber US$ 104,9 milhões com exportações, o que
também reduz sua exposição.
Tem mais: a Perdigão, outra
grande companhia do setor, se
mexeu para não perder dinheiro.
Ela comprou antes o milho, cotado em moeda estrangeira e usado
na ração de aves. Na prática, pagou preço baixo. A ração é o motivo alegado para os reajustes.
"Não tem ninguém bonzinho
nessa história. Se a empresa está
perdendo rentabilidade por alguma razão, ela vai tentar repassar
um reajuste", diz João Salles, da
Lopes Filho Consultoria. As empresas não se manifestaram.
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