São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Empresas que elevaram preços tinham proteção contra queda do real

Alta do dólar não justifica reajustes

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os últimos balanços apresentados pelas empresas revelam que a disparada no preço dos alimentos nem sempre tem como razão principal a escalada do dólar -tese defendida pelas companhias do setor para os reajustes.
A constatação é defendida pelos analistas de bancos e corretoras que se debruçaram nos números das empresas, a pedido da Folha. Em primeiro lugar, as grandes companhias do setor, como a Sadia, estão bem "hedgeadas". Isso quer dizer que elas contrataram, há meses, operações no mercado financeiro de proteção à subida do dólar. Portanto suas contas não levariam baque tão forte por conta da atual elevação da moeda.
Existem também casos de companhias, como a Perdigão, que compraram insumos -cotados em dólar e que sentem, portanto, forte pressão da escalada da moeda- antes da recente desvalorização do real. Logo, sentiram menos o encarecimento da matéria-prima e não precisariam repassar reajustes muito elevados.
Em setembro e outubro, o preço do frango subiu 15,67%. A inflação, nesses meses, ficou em 2,04% (IPC/Fipe). Companhias já negociaram reajustes para o peru de até 10%, em média, sobre 2001. A razão das indústrias: o dólar.
As dificuldades das empresas existem, mas vão além do câmbio. As empresas tiveram forte perda na margem no terceiro trimestre (está em 3,2% negativa na Perdigão) por duas razões, admitem elas. São: desaquecimento da economia mundial -o setor é exportador- e crescimento na oferta de carnes, com queda no preço de até 17% no ano.
A Sadia, por exemplo, tinha contratado R$ 807,4 milhões em operações de hedge em setembro de 2002. Em junho, esse montante era bem menor, R$ 292 milhões. Ou seja, ela está bem mais protegida de variações do dólar. Ela ainda tem a receber US$ 104,9 milhões com exportações, o que também reduz sua exposição.
Tem mais: a Perdigão, outra grande companhia do setor, se mexeu para não perder dinheiro. Ela comprou antes o milho, cotado em moeda estrangeira e usado na ração de aves. Na prática, pagou preço baixo. A ração é o motivo alegado para os reajustes.
"Não tem ninguém bonzinho nessa história. Se a empresa está perdendo rentabilidade por alguma razão, ela vai tentar repassar um reajuste", diz João Salles, da Lopes Filho Consultoria. As empresas não se manifestaram.


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