São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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FINANÇAS

Investidores que tiveram perdas querem saber se houve má gestão de fundos

Bank of America abre carteiras à CVM

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 140 investidores dos fundos High Yeld, Dinâmico e Moderado do Bank of America, que tiveram pesados prejuízos em junho, começaram nesta semana a analisar as informações sobre as carteiras e movimentações dos fundos, que o banco colocou à disposição na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) desde a última quinta-feira.
Eles querem verificar se houve má gestão dos ativos e informação privilegiada a alguns cotistas, segundo o advogado de 40 desses investidores, Antonio Lopes Muniz. "Houve um momento, antes das perdas, em que saíram investidores dos fundos, escapando, assim, dos prejuízos", diz Muniz.
Amanhã vence o prazo dado pelo banco para adesão dos investidores ao acordo para ressarcimento de parte das perdas. O Bank of America propôs reembolsar 40% dos prejuízos dos clientes do fundo High Yeld, 30% dos do Dinâmico e 20% dos do Moderado. Segundo o banco informou, 77% dos clientes diretos e 66% dos indiretos (que aplicam por meio de distribuidoras) já fecharam o acordo.
A Folha apurou que o Bank of America vem propondo a investidores de seu fundo of shore, o Global, que perderam 22% em junho, uma reposição maior do que a oferecida aos clientes dos três fundos locais -de 70%.
Também por esse motivo, os cotistas desses fundos relutam em fazer acordo. "Eles querem, antes de mais anda, verificar toda a movimentação de aplicações e resgates registrados quatro meses antes de começar a queda das cotas, durante e pouco depois do evento. "Se ficar configurada movimentação atípica de resgates é porque havia clientes mais bem informados que os demais", diz Muniz.
Segundo Francisco da Costa e Silva, advogado de 100 cotistas do Rio e ex-presidente da CVM, só a autarquia pode ter acesso às informações da chamada "contraparte", ou seja, quem resgatou aplicações antes que os prejuízos começassem.
"Solicitei à CVM que investigasse as contrapartes, pois havia boatos de que os fundos vinham tendo perdas que não eram contabilizadas diariamente. Assim, quem sacou antes, pegou uma cota mais alta", diz Costa e Silva. Segundo ele, se a autarquia constatar a irregularidade, deverá instaurar inquérito contra o banco. "Só assim, saberemos se houve informação privilegiada", diz.
Em São Paulo, entre os 40 cotistas que fizeram uma notificação extrajudicial ao Bank of America, em julho, está a Tok & Stok, tradicional indústria de móveis. A empresa tinha recursos aplicados no fundo High Yeld.
Segundo Carlos Ernani Abraão, diretor financeiro da empresa, de acordo com o regulamento do fundo, o Bank of America teria sistemas de controle de risco que permitiriam limitar os prejuízos dos investidores a 200% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, a taxa de juro praticada entre os bancos) projetado para o mês. Por esse critério, quando a perda chegasse a 3,77% o banco teria de desarmar as posições.
A Folha apurou que os fundos teriam vendido contratos futuros de juros, apostando na queda da taxa básica da economia, a Selic. Mas, naquele mês, o Banco Central manteve a taxa em 18,5% ao ano e as taxas futuras dispararam por conta do risco eleitoral fazendo os fundos ter prejuízos diários.


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