|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REUNIÃO DE MIAMI
Norte-americanos e brasileiros se unem em favor de acordo que preveja número limitado de obrigações
EUA barram defesa canadense de Alca ampla
DO ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
Os Estados Unidos deram ontem a mais sólida evidência de
que estão fortemente comprometidos com o acordo feito com o
Brasil para definir uma Alca modesta: vetaram proposta do Canadá para que o conjunto mínimo
de obrigações que todos os países
terão que assumir fosse amplo e
ambicioso.
A proposta canadense feria o
que o governo brasileiro considera o "cerne" da nova visão da Alca, acertada há dez dias entre o
ministro Celso Amorim e Robert
Zoellick, o responsável pelo comércio exterior dos EUA.
Por esse entendimento, haverá
"um conjunto comum e equilibrado de direitos e obrigações"
para todos os países. Quem quiser
ir além, pode adotar "benefícios e
obrigações adicionais".
Para o Brasil, o "cerne" é inegociável. "O entendimento da co-presidência (Brasil e EUA) é o de
que esses pontos não podem ser
alterados, para não romper o
equilíbrio do texto", diz o embaixador Luiz Filipe de Macedo Soares, chefe da delegação até a chegada (esta madrugada) do ministro Celso Amorim.
Acontece que, até ontem, nas
reuniões em que foi debatida a
"nova visão", os Estados Unidos
ouviam calados as objeções de vários países. Embora o documento
vetado levasse a assinatura apenas
do Canadá, sabe-se que tem o
apoio de todos os países que já assinaram acordos de livre comércio com os EUA ou estão negociando ou prestes a iniciar negociações. Treze no total, o que inclui Chile e México, os mais fortes.
Obrigações mínimas
A proposta canadense trazia
obrigações mínimas que vão além
das que o Brasil aceita, mas não
inclui compromissos em uma
área prioritária para o Brasil, a
agricultura. O Canadá não propunha a eliminação dos subsídios
internos à produção agrícola, mecanismo que distorce o comércio
e bloqueia produtos brasileiros.
Mas, na área de investimentos,
os canadenses querem definições
que o Itamaraty recusa.
Mais: a proposta canadense amplia as áreas, no capítulo serviços,
que deveriam constar do pacote
mínimo. O Brasil, na sua proposta
à Alca, listou apenas 15 setores
que serão abertos a estrangeiros,
assim mesmo com a condição de
que se instalem no país.
Ou seja, uma seguradora norte-americana, por exemplo, não poderá simplesmente vender apólices a brasileiros de sua sede, hipoteticamente em Miami. Teria que
montar uma sucursal no Brasil.
Outra área em que o Brasil não
quer um acordo abrangente
(questões de propriedade intelectual relacionadas ao comércio), a
proposta canadense não chega a
ser totalmente inaceitável para o
Brasil, mas "impõe disciplinas
mais restritivas", conforme a Folha ouviu na delegação brasileira.
O único capítulo do papel canadense em que não há problemas
para o Brasil é em compras governamentais (concorrências públicas). Fica no mínimo que o Brasil
aceita (ou seja, limita-se a estabelecer regras de transparência).
Os Estados Unidos, reagindo ao
texto canadense, preferiram empurrar com a barriga: propuseram adiar a elaboração do "conjunto mínimo" para a próxima
reunião técnica da Alca, já marcada para fevereiro no Brasil.
O Canadá não havia aceitado o
veto até o fim da tarde de ontem
(início da noite em Brasília). O
que significa que há uma boa
chance de que os vice-ministros,
cuja reunião terminaria ontem,
não consigam desfazer o imbróglio e tenham que jogar a decisão
para os ministros, que se reúnem
a partir de amanhã.
(CLÓVIS ROSSI)
Texto Anterior: EUA negociam em 2004 acordo com andinos Próximo Texto: Amorim diz que não só empresário deve ser ouvido Índice
|