São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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LUÍS NASSIF

O grande vendedor

Algumas informações adicionais, para compor um perfil mais exato de Henrique Meirelles, futuro presidente do Banco Central, completando o currículo distribuído por sua assessoria.
Meirelles possui 417.389 ações do FleetBoston, cotadas, na terça-feira, a US$ 25,91 por ação. De maio de 1998 a agosto de 2002, foi membro do "board" da Raytheon, empresa que venceu o projeto Sivam.
De executivos brasileiros que conheceram bem o trabalho de Meirelles em Boston, fica-se sabendo que era considerado excelente vendedor, conquistando muitos clientes para um banco que nunca teve atuação dinâmica na região. A capacidade de conquistar clientes e vender produtos é a chave do seu sucesso, não a administração, as finanças ou o planejamento.
Sua saída do grupo foi inesperada para os clientes, e não foi por motivo de aposentadoria. Aparentemente, Meirelles apostou sua carreira no Fleet em cima da expansão na América Latina, que parecia ilimitada, e não soube prever a crise argentina. Os prejuízos sofridos na Argentina levaram seu projeto de roldão. Agora, a Global Banking -divisão internacional do banco, que ele presidia-, exige um executivo com perfil de controller para organizar o prejuízo.
Existe pequena pendência entre o banco e Meirelles em torno da compra de um apartamento de US$ 5 milhões em Nova York. Meirelles quis morar em NY e trabalhar em Boston, alegando que a cidade era quieta demais para seu gosto, o que causou mal-estar na cúpula conservadora do banco. O banco emprestou o dinheiro para a compra, sem juros. Agora, com a saída dele, sendo o empréstimo prerrogativa do cargo que exercia, quer-se cobrar juros de mercado imobiliário (que estão baixos). O caso está em negociação e não tem implicações maiores.
O currículo de Meirelles está certo quando informa que ele se formou em 1972 na Poli, em engenharia civil. Em 1978, Meirelles concluiu sua tese de mestrado no Coppead (o braço de administração do Coppe) com a tese "O Leasing do Brasil: Uma Proposta de Estrutura Financeiro-Contábil".
Diz também que cursou o programa de administração da Harvard Business School, "acessível apenas a um seleto grupo de executivos internacionais". É um curso de dois meses de duração, acessível a qualquer executivo que possa pagá-lo. Tem entre 60% e 65% de estrangeiros, em geral executivos em atividade.
Informa também que ele participa do conselho de oito universidades, dentre as quais sete estrangeiras. Das universidades consultadas, ele participa do Deans Consulting Adviser do Boston College e da Kennedy School of Governement. Já a Harvard Businnes School e a Sloan School of Management (MIT) não têm nenhum registro dele. Mesmo o Coppead, onde Meirelles fez mestrado, garante que ele só aparece para os eventos e nunca foi do conselho. Já o Bryant College confirma que ele ganhou o título de doutor honoris causa em 1997.
O começo do currículo de Meirelles também merece reparos. "Considerado o executivo brasileiro mais bem-sucedido no exterior, trocou sua carreira de sucesso no mundo dos negócios para se inserir ativamente na discussão político-brasileira". Álvaro de Souza, do Citicorp, Alain Belda, da Alcoa, e Carlos Ghosn, da Nissan, ocuparam ou ocupam cargos de maior relevância.

Sadia e Opportunity
Há quatro anos, o grupo Opportunity esteve a um passo de adquirir o controle da Sadia. Sabendo que o acordo de acionistas estava prestes a vencer, e que havia descontentes, Daniel Dantas iniciou contatos com acionistas. Inicialmente, conseguiu opção de compra de cerca de 25% do capital. Depois, de outro tanto. No final, faltava fechar a posição de dois acionistas, que tinham um total de 16% do capital. A essa altura, o valor da aquisição chegava a US$ 350 milhões.
O negócio acabou emperrando na resistência de Dantas em pagar um prêmio pelas opções, estimado em US$ 1,5 milhão. Com a demora em decidir, houve a reunião do conselho da companhia e Luiz Furlan, o presidente, logrou apaziguar os ânimos e impedir a venda.
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