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OPINIÃO ECONÔMICA
Há luz no fim do túnel
FERNANDO TADEU PEREZ
Foram mais de 30 dias de tensão, de explicações, de reuniões
que avançaram pela noite, de
entrevistas, de declarações, de
contas e mais contas, mas valeu
a pena. Na "batalha" que não
houve entre a Volkswagen e os
sindicatos de metalúrgicos do
ABC e de Taubaté não houve
vencedores nem vencidos.
Venceu, isto sim, o bom senso,
o discernimento, a visão de que
somos simples peças de um jogo
de xadrez no qual o que vale
não é o xeque-mate, mas a permanência de um maior número
possível de peças no tabuleiro.
A Volkswagen foi acusada de
fazer chantagem, de utilizar
métodos "terroristas", de usar
um momento particularmente
difícil da vida econômica brasileira para recuperar seu "atraso", sua "incompetência", seus
"métodos obsoletos", sua "tecnologia atrasada", sua "fábrica
jurássica", para citar apenas
alguns dos adjetivos empregados por "especialistas" e "estudiosos" da indústria automobilística. Ledo engano.
A Volkswagen e os dois sindicatos, mais do que ninguém, sabiam da real situação. A fábrica obsoleta, por exemplo, foi a
que mais produziu automóveis
no Brasil até hoje, é a que emprega o maior número de pessoas no país em um só local, é a
que possui o único -repito, o
único- centro de desenvolvimento de engenharia da América do Sul capaz de criar, projetar e desenvolver um automóvel.
E mais: a única que oferece
salários compatíveis aos da elite brasileira (e isso quem afirma não somos nós, é o Ipea), a
que se dá ao "luxo" de oferecer
refeições a R$ 0,90 e a ter mais
linhas de ônibus para transportar seus colaboradores do que a
própria Prefeitura de São Paulo!
Jamais passou pela cabeça dos
responsáveis pela Volkswagen
deixar uma instituição como
essa sucumbir. Também não
acreditamos que esse seja o desejo dos governos federal ou estadual, muito menos dos trabalhadores.
Temos de promover reformulações? Óbvio, como todos os
demais setores da economia. O
mundo globalizado está cada
vez menor e o que era
"up-to-date" ontem hoje é obsoleto. As transformações vividas pelo mundo tecnológico
obrigam a antecipar cada vez
mais o que só pensaríamos em
fazer amanhã.
Sabemos disso. Os trabalhadores sabem disso.
Não cansamos de dizer a todos os ouvidos que não pretendíamos fazer demissões; não
pretendíamos deixar colaboradores da Volkswagen, como
nós, em situação difícil.
Chegaram até a escrever que o
diretor de recursos humanos da
Volkswagen, representado por
mim, era um "sádico", que sorria enquanto promovia demissões. Mal sabem esses mal-informados que estávamos justamente tentando evitar que um
número maior de pessoas engrossasse a fila dos desempregados.
Quando foi proposta a redução do salário, do presidente da
empresa ao funcionário de menor escala hierárquica, estávamos dando um exemplo democrático: o sacrifício teria de ser
de todos, para o bem da maioria.
Talvez tenhamos incorrido
em um erro, um grande erro, na
opinião de alguns: fomos transparentes do começo ao fim.
Transparentes demais. Não
usamos a calada da noite para,
olimpicamente, cortar cabeças.
Colocamos tudo na mesa,
abrindo o jogo sem nenhum
trunfo nas mangas.
Gostaríamos que os críticos
desse processo lessem as declarações dadas por empregados
que optaram pelo voluntariado,
um sistema totalmente democrático, reconhecendo a importância que a empresa representou na vida de cada um e de
suas famílias, alguns deles chegando mesmo a admitir que estavam "na hora de parar e deixar o emprego para quem mais
precisa".
Esses depoimentos reforçam
nossa convicção de que fizemos,
nós e nossos parceiros, Luiz
Marinho, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, e Antonio
Edmundo Oliveira, o "Toninho", do sindicato de Taubaté,
o melhor possível para evitar
uma saída mais traumática.
Aliás, não poderia omitir o trabalho de Marinho e de Toninho, que incansavelmente tentaram defender, de todas as formas, o encaminhamento de
uma solução condizente com a
realidade.
Como também não se pode
deixar de registrar a postura do
governo federal, representada
pelo ministro do Trabalho,
Paulo Paiva, que modernizou a
atuação oficial, acompanhando
tudo de perto, ouvindo as partes, mas jamais interferindo no
processo decisório.
O acordo firmado entre a
Volkswagen e os sindicatos,
longe de querer balizar o que
poderá acontecer daqui para a
frente, deve servir como um extraordinário elemento de reflexão na visualização do Brasil
de amanhã.
Além disso, mostrou também
que a palavra "discussão" deve
ser varrida do dicionário moderno das relações capital-trabalho. Provou-se que a negociação é o único caminho que permite enxergar a luz no fim do
túnel. E ela existe.
Fernando Tadeu Perez, 43, é diretor de recursos humanos da Volkswagen do Brasil.
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